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Scot Consultoria

A classe média brasileira decola


Quarta-feira, 6 de março de 2013 - 10h51

Cientista Econômico pela ESALQ/USP.


O pedreiro Jorge Sinésio de Almeida, 52 anos, tem más lembranças das viagens de ônibus que fez de São Paulo até a cidade natal, na Paraíba. "São três dias de viagem em estradas horríveis. Os passageiros sempre correm o risco de serem assaltados no caminho."


Atualmente, ele conta os dias para a primeira viagem que fará de avião, em dezembro. "Quero embarcar logo. Vão ser só três horas de viagem", ele conta. "Não tenho medo. Os meus amigos gostaram."


Pelo nível de renda, Almeida pode ser considerado parte da na nova classe média brasileira, segundo um novo relatório do Banco Mundial. O estudo, chamado "Economic Mobility and the Rise of the Latin American Middle Class", (Mobilidade econômica e o aumento da classe média latino americana), define classe média como a parcela da população que ganha entre US$10 e US$50 por pessoa (entre R$20 e R$100) ao dia.


Explosão do consumo


 A explosão do consumo das famílias brasileiras vem se tornando um fator cada vez mais importante para o crescimento do Produto Interno Bruto.


 Em novembro de 2010, o índice para o consumo das famílias estava em 165,5 pontos, em novembro de 2011, o índice chegou a 168,1 pontos, alta de 1,6%.


 De novembro de 2011 a novembro de 2012, o indicador de consumo obteve alta de 4,6%, saindo de 168,1 pontos para 175,2 pontos. Na média, desde 2002, a alta anual é de 4,3%.



A classe média representava 15,0% da população brasileira no começo dos anos 1980 e, agora, soma quase um terço dos 190 milhões de habitantes.


Ela cresceu graças ao bom desempenho econômico brasileiro nos últimos anos, às políticas de redução da pobreza, às novas oportunidades de trabalho, e o crescimento da mão de obra qualificada.


Entre outros temas, o estudo analisa a explosão do consumo no país, um fenômeno gerado pelo aumento do poder de compra dos brasileiros. Esta é uma tendência que deve se manter nos próximos anos, diz o relatório. "Comprar qualquer coisa - uma TV, um carro - ficou mais fácil do que anos atrás, porque há mais crédito disponível", confirma Almeida.


As passagens de avião, por exemplo, estão entre os itens preferidos de quem ascendeu à classe média. Entre julho de 2011 e julho de 2012, 9,5 milhões de brasileiros voaram pela primeira vez, segundo o instituto Data Popular, de São Paulo.


O bom momento do consumo, porém, esconde um risco: o de que as famílias brasileiras estejam poupando pouco. Em longo prazo, se a economia do país desacelerar, estas pessoas podem tornar-se excessivamente endividadas e vulneráveis, segundo o relatório.


Segundo o Indicador de Inadimplência, desenvolvido pela Serasa Experian, o endividamento da população brasileira segue uma tendência de alta nos últimos dois anos.


O Indicador mede o fluxo mensal de anotações de dívidas em atraso junto às instituições financeiras e não financeiras, cartões de crédito e bancos. Além destes fatores, é avaliado também o número de cheques devolvidos por insuficiência de fundos.


Em janeiro de 2011, o indicador apontava a inadimplência da população brasileira em 115,1 pontos e, no mesmo período de 2012, foram registrados 134,2 pontos, alta de 16,5%.


Em janeiro de 2013, o mesmo já apontava 151,5 pontos, frente aos 134,2 pontos de janeiro de 2012. Assim a alta do período foi de 12,9%. Na média, na última década, o crescimento da inadimplência anual foi de 8,9%.


Estes fatores mostram que apesar do aumento da renda da população e da ampliação de concessão de crédito nos últimos anos, o consumidor brasileiro vem se endividando mais.




Redução das desigualdades



Desde início dos anos 70, em que as medições de renda familiar começaram a ser divulgadas, a América Latina mostra-se uma das regiões mais desiguais do mundo - comparável somente com alguns países na África Subsaariana.



Ao longo da última década, no entanto, a combinação de crescimento econômico sustentável e redução das desigualdades resultaram em uma queda substancial nos níveis de pobreza absoluta.


Segundo o IBGE, os níveis de pobreza da população brasileira caíram significativamente na última década.


Em 2001, a população situada no nível de pobreza e de pobreza extrema representavam, respectivamente, 35,1% e 15,8% da população total.


Em 2009, a porcentagem da população verificada nos níveis de pobreza e pobreza extrema foram 21,4% e 7,3%, respectivamente.


Assim, no decorrer da década, o nível de pobreza dos brasileiros reduziu-se 39,1%, enquanto, o nível de extrema pobreza caiu 52,3%.


 


De 2003 a 2009, a classe média cresceu aproximadamente 50,0% na América Latina. Os brasileiros contribuíram em mais de 40,0% para o crescimento total da classe média na região, de acordo com o estudo.


"Acho que tanto o Brasil quanto a minha vida estão melhores do que quando cheguei a São Paulo, há 26 anos", diz Almeida ao terminar de comprar as passagens aéreas. O pedreiro arrisca alguns motivos, que ele acredita que fizeram sua vida melhorar desde então: "Eu era pobre, mas nunca deixei de trabalhar".


Fonte: The World Bank. Pela Redação. 13 de novembro de 2012.


Traduzido, adaptado e comentado por Augusto Maia, graduando em Ciências Econômicas ESALQ/USP, em treinamento pela Scot Consultoria.



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