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Scot Consultoria

As ONGs agora querem ser amigas do agro


Segunda-feira, 5 de novembro de 2012 - 12h09

Amazônida, engenheiro agrônomo geomensor, pós-graduado em Gestão Econômica do Meio Ambiente (mestrado) e Geoprocessamento (especialização).


Eu cantei a pedra quando ressaltei que o novo Código Florestal havia desobrigado alguns produtores de reflorestar suas áreas, mas não o proibia de fazê-lo. Parece uma bobagem, mas não é. Antes os ecotalibãs podiam chegar às fazendas armados, com um "bloquinho" na mão e uma caneta na outra, impondo a preservação goela abaixo dos produtores rurais. Agora, a abordagem terá que ser diferente.


Ressaltei essa faceta do Novo Código Florestal: Novo Código Florestal não proíbe recuperação de APPs.


Algumas ONGs que ontem alimentavam a guerra contra o agro, agora já começam a adaptar seu discurso e seus métodos. O gerente de Conservação da The Nature Conservancy (TNC), Henrique Santos, apareceu em uma matéria do Portal Terra dizendo, em outros termos, que a quantidade de áreas de preservação perdidas com a reforma do Código Florestal pode ser recuperada através de um esquema de Pagamentos por Serviços Ambientais.


Eu quase chorei de rir quando li a matéria. Durante um evento em São Paulo, Santos disse que medidas como o PSA ajudam a incentivar os donos de terras a preservar mais do que o obrigatório. "Assim temos uma política pública de gestão da propriedade, não apenas de controle e comando", explicou o ongueiro sem deixar claro quem está incluído nesse "nós".


O discurso ainda tem um ranço da época em que o agro podia ser achacado pelas ONGs. O ongueiro ainda chama o fim de parte do ônus privado da preservação ambiental de "área de preservação perdida", mas o que ele está dizendo é que aquilo que os produtores rurais não são mais obrigados a fazer de graça pode ainda ser conseguido se eles forem pagos para fazê-lo. A ficha dos ecotalibãs está caindo.


O dirigente da TNC afirmou ainda que, com a aprovação do Código Florestal, o PSA vai entrar com força na pauta e destaca a necessidade de que ele seja bem estruturado. "Quem vai pagar a conta somos nós", disse o ongueiro.


Ele tem razão. Um esquema de pagamentos por serviços ambientais bem feitos pode ser uma forma eficaz e eficiente de construir parcerias entre produção e preservação. Mas para isso ele precisa ser bem estruturado e o debate sobre meio ambiente no Brasil é dominado por gente que não tem a menor ideia de como estruturar bem um programa como esse.


De qualquer maneira esse parece ser o início de uma nova era no relacionamento entre ONGs e o setor rural que deve ser incentivado. É um desafio grande. Será preciso que todos se desarmem, que todos saiam de defensiva e comecem um processo franco de diálogo. Ambos os lados precisarão isolar ou controlar seus radicais livres, ambos precisarão moderar e adequar seus discursos, ambos precisarão aprender a ouvir o outro lado. Há rumores de que isso já está acontecendo e há indícios de que essa parceria possa gerar sinergias.


O Novo Código Florestal é a lápide no túmulo da era dos ecotalibãs.


Em tempo, se entregarem o design de um tal esquema a gente como Seroa da Mota, Cadu Young, Peter May, Sergio Abramavay ou outro ecotécnico cuja teoria esteja impregnada das preconcepções sobre o ruralismo, a coisa não vai funcionar.


No Brasil só há um homem capaz de desenhar um esquema de pagamentos por serviços ambientais bem estruturado. O nome dele é Jorge Madeira Nogueira, professor titular do Departamento de Economia da UnB com pós-doutorado em Economia Ambiental em Cornell. Professor Jorge Nogueira, que foi meu professor e orientador de mestrado, tem o conhecimento necessário a esse desafio sem o olhar preconceituoso em relação ao meio rural.



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