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Integração lavoura-pecuária-floresta: agropecuária do futuro


Quinta-feira, 1 de novembro de 2012 - 09h00

Engenheiro agrônomo, doutor em produção animal e pesquisador científico/APTA Colina-SP.


O grande desafio da humanidade é produzir alimentos e energia para fazer frente ao crescimento da população mundial e do seu poder aquisitivo. As estimativas recentes da FAO indicam um crescimento de 37% da população mundial nos próximos quarenta anos.


Além disso, a demanda por energia, em especial as proveniente de fontes renováveis, tende a aumentar em até 150%, em virtude do atual crescimento socioeconômico dos países, principalmente os em desenvolvimento.


Por outro lado, a ampliação das áreas produtivas é cada vez mais restrita. A competição por espaço, a adequação à legislação ambiental e a carência de recursos, preços dos insumos agrícolas em elevação, etc., são fatores que desafiam os produtores, especialmente aqueles considerados agricultores familiares.


Sob este prisma, a busca de alternativas de produção agropecuária econômica, ecológica e socialmente sustentável, fundamentadas em tecnologias não agressivas ao meio ambiente, tem direcionado para o desenvolvimento de sistemas integrados de produção, combinando plantio de árvores, culturas e a criação de animais em um conceito de imitar os ecossistemas naturais.


Frente a esses desafios, a utilização da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) constitui-se em uma estratégia de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação.


Ou seja, numa mesma área tem-se a possibilidade de produção de energia (madeira) e alimentos (grãos, carne, leite), o que gera potenciais ganhos em produtividade e rentabilidade, exigindo também maior capacidade técnica e gerencial para o negócio.


Como vantagens, esta combinação de atividades (agrícolas, florestais e pecuárias) busca o uso racional dos recursos naturais e rentabilidade por área de modo sustentável.


Além disso, permite maior diversificação das atividades minimizando assim os riscos de mercado. Permite também, a rotatividade das culturas, associada aos melhores tratos culturais e práticas adequadas de manejo possibilitando a recuperação de áreas degradadas e maior preservação ambiental, atrelado aos ganhos em produtividade.


A preocupação mundial sobre questões relacionadas ao efeito estufa e ao sequestro de carbono é eminente. Para tanto o governo brasileiro assumiu o compromisso de redução em 38,9% nas emissões de gases de efeito estufa (Protocolo de Kyoto) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em 2009, lançou o programa para redução da emissão de gases de efeito estufa na agricultura (Plano ABC) que incentiva e oferece recursos para os produtores rurais adotarem técnicas agrícolas sustentáveis, com o objetivo de mitigar e reduzir a emissão dos gases de efeito estufa (gás carbônico, metano e óxido nitroso).


A ideia é que a produção agrícola e pecuária garanta mais renda ao produtor, mais alimentos para a população e aumente a proteção ao meio ambiente.


Neste contexto, a ILPF promove o incremento no estoque de carbono e reduz significativamente os impactos negativos decorrentes da emissão dos gases de efeito estufa, pois a ILPF possui alta capacidade de fixação de carbono quando comparado com as pastagens tradicionais, aos monocultivos florestais e agrícolas.


Diversos trabalhos científicos e vivências práticas validam e demonstram uma inesgotável gama de variações ILPF, assim como seu expressivo potencial sustentável.


O extrato arbóreo pode ser direcionado à produção de energia, de madeira, seja ela comum ou de lei, à produção de celulose, à produção de frutas, dentre outros.


A lavoura também tem diversas destinações, podendo ser para produção de grãos, como soja, milho, feijão, girassol e a produção de fibras, como algodão. Por sua vez, a parte pecuária pode contemplar a pecuária de corte ou leite, assim como a criação de outras espécies animais, sendo que cada uma destas destinações pode basear-se em variados tipos de ocupação no tempo e por área (Viana et al., 2010; Paciullo et al., 2011).


A escolha das culturas para compor a ILPF vai depender de fatores tais como a adaptação às condições climáticas, características da propriedade (tradição de cultivo, nível tecnológico, assistência técnica, infraestrutura e logística), mercado para os produtos e adaptação das espécies ao cultivo consorciado, pois a maioria das culturas é altamente exigente em luz e não toleram o sombreamento.


As culturas de milho, feijão, arroz, sorgo, soja e milheto têm sido as mais utilizadas, pois consorciam bem tanto com o eucalipto quanto com as gramíneas forrageiras (Viana et al., 2010; Paciullo et al., 2011).


Com relação ao componente arbóreo, a seleção deve ser principalmente, baseada nos aspectos relacionados à silvicultura da espécie, produção de bens e serviços, ausência de efeitos alelopáticos e de toxidez, arquitetura da copa que deve ser preferencialmente menos densa e a morfologia do sistema radicular. As espécies mais utilizadas na ILPF, nas diferentes regiões brasileiras são o eucalipto, pinus, mogno africano, cedro australiano, entre outras.


Porém, o eucalipto (Eucalyptus sp) é o mais utilizado devido, principalmente, ao seu rápido crescimento, característica de suma importância quando se considera a liberação da área para o pastejo e possuir arquitetura de copa compatível com as outras culturas utilizadas no consórcio.


Além disso, esta espécie se destaca pela facilidade de cultivo, pela produção de madeira para usos múltiplos, boa fonte de renda para o produtor e por se adaptar as condições edafoclimáticas dos diferentes biomas brasileiros (Macedo et al., 2010).


A respeito do componente forrageiro é importante que as espécies tenham bom crescimento, boa capacidade de perfilhamento, elevado valor nutricional e, fundamentalmente, sejam adaptadas às condições de sombreamento moderado e as forrageiras dos gêneros Brachiaria e Panicum são as mais utilizadas para este propósito (Viana et al., 2010; Paciullo et al., 2011).


Em fazendas leiteiras, onde a utilização de alimentos concentrados é maior, os grãos produzidos no consórcio com gramíneas podem ser utilizados na composição de concentrados.


Da mesma forma, subprodutos agrícolas como casquinha de soja, bandinha de milho e de soja, caroço e casca de algodão, comumente disponibilizados após o processamento das culturas anuais e que muitas vezes são decisivos para a economicidade do sistema de produção. As culturas anuais, em especial o milho e o sorgo, também podem ser utilizadas como opção para produção de alimentos conservados na forma de silagem.


Apesar de alguns produtores ainda terem receio do plantio consorciado ocasionar redução nas produtividades de grãos e de forragem, os resultados de pesquisa demonstram que os rendimentos são similares aos obtidos em cultivo solteiro (Kluthcouski et al., 2000).


Além de recuperar área de pastagens degradadas a ILPF proporciona, com as árvores, sombra, quebra-vento e abrigo, diminuindo o estresse climático, com aumento na produção animal.


A redução do calor por meio da sombra de árvores pode resultar em:


- Aumento da estação de pastejo;


- Maior ganho de peso dos animais, na produção de leite e lã;


- Aumento na taxa de reprodução;


- Maiores chances de sobrevivência dos bezerros, dentre outras.


Em resumo os principais benefícios da ILPF são os seguintes:


- Agronômicos: por meio da recuperação e manutenção das características produtivas do solo;


- Econômicos - diversificação de produtos e obtenção de maiores rendimentos por área, com custo menor;


- Ecológicos - devido à redução da biota nociva às espécies cultivadas e consequente redução da necessidade de defensivos agrícolas, bem como a redução da erosão e maior biodiversidade em comparação aos monocultivos;


- Sociais - dada à distribuição mais uniforme da renda, produção de alimentos, geração de tributos, de empregos diretos e indiretos, além da maior possibilidade de fixação do homem ao campo;


- Zootécnicos - possibilitando o estabelecimento de pasto com boa produtividade e elevado valor nutritivo, além de ampliar o tempo de disponibilidade de forragem verde para os animais e aumentar a produtividade por área.


Referências Bibliográficas


KLUTHCOUSKI, J. et al. Sistema Santa Fé - Tecnologia Embrapa: integração lavoura-pecuária pelo consórcio de culturas anuais com forrageiras, em áreas de lavoura, nos sistemas direto e convencional. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 28 p., 2000. (Circular Técnica, 38).


MACEDO, R.L.G. et al. Eucalipto em sistemas agroflorestais. Lavras: UFLA, 2010. 331p.


PACIULLO, D.S.C. et al. Características produtivas e nutricionais do pasto em sistema agrossilvipastoril, conforme a distância das árvores. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.26, n.10, p.1176 - 1183, 2011.


VIANA, M.C.M. et al. Experiências com sistema lavoura-pecuária-floresta em Minas Gerais. Informe Agropecuário, v.31, n.257, p.98 - 111, 2010.



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