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A mastite pode afetar novilhas vazias ou gestantes?


Terça-feira, 2 de outubro de 2012 - 17h43

Engenheiro agrônomo, doutor em produção animal e pesquisador científico/APTA Colina-SP.


A patologia de ocorrência mais encontrada em vacas leiteiras adultas é a mastite, que causa grandes prejuízos, respondendo por 38% de toda a morbidade. Estudos científicos comprovaram que três em cada dez vacas leiteiras apresentam inflamação clinicamente aparente da glândula mamária e, de todos os animais afetados, 7% são descartados e 1% morre em consequência da afecção


Mais de 25% de todas as perdas econômicas relacionadas às doenças podem ser diretamente atribuídas à mastite.


Infelizmente, em novilhas isto não é diferente. Na grande maioria dos sistemas de produção de leite, os animais jovens podem estar infectados antes do parto, apresentando como consequência direta, redução considerável da capacidade de produção de leite, aumento da contagem de células somáticas após o parto e da ocorrência de casos clínicos de mastite.


Fox (2009) relatou em trabalho de revisão sobre a mastite em novilhas que a prevalência de quartos infectados variou de 28,9% a 74,6% no pré-parto e de 12,3% a 45,5% ao parto. Segundo a literatura, os mesmos patógenos envolvidos na etiologia da mastite em vacas mais velhas são também descritos nos casos desta doença em novilhas.


Alguns estudos, no entanto, demonstram que Staphylococcus coagulase negativa são os mais prevalentes em mastite de novilhas. Já Staphylococcus coagulase positiva são considerados o segundo patógeno mais frequente na etiologia de mastite em novilhas.


Qual o impacto econômico da mastite em novilhas?


Em novilhas, no entanto, a estimativa do impacto econômico na produção não é muito frequente.


Estudos científicos relatam que devido à presença dos microrganismos no interior da glândula mamária das novilhas, o impacto econômico é direto. Um quarto mamário de novilha infectada antes do parto produz 18% menos leite se comparado com um quarto sadio.


Em pesquisa realizada no Brasil, para avaliar o efeito da antibioticoterapia de vaca seca associada ou não à vacinação contra mastite ambiental em novilhas resultou em avaliação custo-benefício favorável para estas estratégias.


Embora não tenha sido observada diferença significativa na produção média dos animais dos diferentes grupos: G1 (tratado com antibiótico específico para vaca seca a base de penicilina G procaína 200.000 UI associado à novobiocina sódica 400mg, em base de liberação lenta - Albadry plus®- Pfizer e vacinado com a vacina contra Escherichia coli - Cepa J5 - Enviracor J5® - Pfizer); G2 (somente tratado com antibiótico Albadry plus®); G3 (somente vacinado com Enviracor J5®), economicamente a produção foi menor no grupo controle, G4 (não vacinado e não tratado).


Em relação aos grupos, o G1 teve um ganho substancial em relação aos demais, pois os animais desse grupo produziram leite com maior percentual de constituintes e apresentaram menor frequência de mastite clínica e ainda, a maior média de produção de leite. tratamentos preventivos em cada grupo e os custos da mastite clínica com os ganhos financeiros no período do experimento, observou-se que o G1 teve um ganho de R$3.092,67 referente à maior produção de leite no período, quando comparado ao G4. Esse ganho correspondeu a um valor igual a R$386,58 por animal. O G2 teve um ganho no período de R$2.499,21, equivalente a R$277,69 por animal. No G3, o ganho total do grupo foi de R$542,49 e de R$67,81 por animal, quando comparado ao dos animais do G4 (Vargas, 2005).


Quais são as principais fontes de infecção?


As novilhas podem se tornar susceptíveis aos patógenos da mastite tão logo elas começam a produzir secreções mamárias. Isso pode ocorrer muito cedo, ou seja, de seis a oito meses de idade.


As bezerras podem desenvolver infecções intramamárias durante quatro fases:


- durante o aleitamento;


- após a desmama;


- durante a cobertura; e


- durante a gestação.


Ainda não se sabe ao certo como as novilhas se infectam, mas as fontes de infecção podem estar relacionadas:


- às bactérias que fazem parte da microbiota normal da pele dos tetos;


- bactérias que habitam as cavidades orais de bezerras que mamam em outras bezerras;


- bactérias presentes no ambiente de novilhas como aquelas encontradas no solo, no esterco e no material das camas;


- bactérias veiculadas por moscas como, por exemplo, a mosca do chifre.


Além disso, poucos estudos têm enfatizado a importância dos locais de habitação, alimentação e gestão de bezerras e novilhas. Alguns trabalhos relatam aumento no risco de mastite em novilhas criadas juntamente com vacas mais velhas, em novilhas introduzidas no efetivo de vacas em lactação com alta contagem de células somáticas e em novilhas alimentadas com dieta de transição com alto teor proteico.


Outro fator que deve ser avaliado é a prática de administrar leite de vacas com mastite e contendo, ainda, resíduos de antibióticos, devem ser rigorosamente evitadas, pois parecem estar fortemente associadas à ocorrência de mastite em novilhas. O produtor, em vez de "economizar" com essa prática, pode estar contribuindo para uma maior ocorrência de mastite por Staphylococcus aureus e ainda por Streptococcus agalactiae, dois importantes patógenos causadores de mastite contagiosa.


Como identificar uma novilha com mastite?


O monitoramento das características da secreção mamária é de grande valia, pois pesquisas científicas demonstraram que secreções similares à consistência de mel apresentam baixa frequência de infecção e aquelas novilhas que têm secreção fina, aquosa, com coágulos e flóculos, apresentam alta frequência de infecção e deveriam ser submetidas à amostragem e cultura, visando identificar a presença de bactérias.


Outro fator importante é a inspeção da glândula mamária, pois quando as glândulas estiverem inchadas e endurecidas são indicativos de problema e devem ser mais bem avaliadas. Deve-se, também, monitorar o número de casos de mastite clínica dentro de uma a duas semanas após o parto e se mais que 10% das novilhas parirem com mastite clínica por ano, isto pode indicar um grave problema.


A contagem de células somáticas (CCS) do leite de primíparas deve ser inferior à de vacas multíparas. Assim, se a CCS do leite de animais de primeira lactação for superior a 142.000 células./ml, isto pode também indicar problema.


Como controlar e prevenir a mastite em novilhas?


Para controlar a mastite em novilhas, os produtores de leite devem identificar e tratar a infecção durante o período pré-parto. As taxas de cura espontânea para os principais patógenos causadores da mastite são extremamente baixas. Sem antibioticoterapia, somente 9% das infecções causadas por Staphylococcus e 6% daquelas causadas por Streptococcus ambientais serão curadas.


A utilização de vacinas em novilhas constitui outra estratégia para o controle de mastite. Os anticorpos constituem um mecanismo de resistência muito importante na imunidade da glândula mamária, porque são dirigidos especificamente contra bactérias causadoras de mastite. O maior progresso tem sido observado com vacinas contra coliformes usando bacterinas constituídas de microrganismos mutantes tais como E. coli J5. Essa vacinação tem sido recomendada 60 e 30 dias antes do parto e 15 dias pós-parto.


Apesar de alguns estudos científicos comprovarem resultados favoráveis, a eficácia da vacinação para prevenção de mastite em novilhas ainda não é consistente. A principal vantagem da vacinação é a não utilização de antimicrobianos, pois haverá redução dos riscos de resistência antimicrobiana e os problemas potenciais de contaminação do leite com resíduos desses medicamentos. E, a principal desvantagem é que, em geral, a vacinação é "patógeno-específico", sendo a mastite em novilhas causada por diversos microrganismos, a vacinação contra um único patógeno não irá eliminar novas infecções causadas por patógenos que não são alvos da vacina.


Outra estratégia, ainda em estudo, refere-se à ordenha diária de novilhas aproximadamente duas semanas antes da previsão do parto. Santos (2004) demonstraram redução de aproximadamente 25% na prevalência de infecções intramamárias e 55% na incidência de mastite clínica até 135 dias de lactação. Outra consequência desta ação é a redução da contagem de células somáticas pós-parto. Esses efeitos são possivelmente causados pela redução do edema intramamário, a qual resulta da ordenha pré-parto.


No entanto, a ordenha pré-parto aumenta os riscos de problemas relacionados com acidose subclínica e causa maior perda de condição corporal. O aumento da produção de leite causado pela ordenha pré-parto resulta em maior demanda de energia e, consequentemente, maior risco da ocorrência de balanço energético negativo ao longo do período periparto.


Portanto, embora a ordenha pré-parto reduza a incidência e prevalência de mastite, cuidados no manejo dos animais são necessários para minimizar quaisquer efeitos secundários.


Outra estratégia avaliada refere-se ao uso de selantes (barreiras físicas), tanto externos quanto internos aos tetos. Os selantes externos são compostos à base de látex não irritante, acrílico ou filmes baseados em polímeros que são aplicados sobre os tetos tal como as soluções de imersão pré e pós-ordenha com o intuito de formar uma camada protetora sobre os tetos. Já os selantes internos são compostos à base de subnitrato de bismuto contendo antimicrobianos ou não, que são aplicados internamente aos tetos da mesma forma que as bisnagas utilizadas para tratamento de mastite. Essa alternativa tem a função de reduzir a prevalência de infecções intramamárias e a incidência de mastite clínica durante a lactação subsequente pela remoção de infecções existentes e redução nos riscos de novas infecções.


Outras medidas de prevenção importantes incluem:


- monitoramento de CCS no leite, 15 dias após o parto: novilhas não infectadas têm uma CCS menor que 75.000 células/ml;


- novilhas devem parir em locais limpos e secos, separadas de outros animais;


- não fornecer leite de vacas com mastite e com resíduos de antibióticos para bezerras;


- manter bezerras em "casinhas individuais" para evitar que uma mame na outra;


- estabelecer medidas de controle de moscas, uma vez que em rebanhos que não são submetidos a esses controles, as novilhas apresentam maiores taxas de infecção intramamária;


- manter programas adequados de nutrição para novilhas, incluindo eficiente suporte de minerais relacionados à melhoria da resposta imune, como por exemplo, selênio, cobre, zinco e vitaminas (principalmente vitamina E);


- monitorar a glândula mamária desses animais visando detectar qualquer sinal de anormalidade na consistência e/ou na secreção mamária;


- minimizar incidência de distocias e distúrbios no periparto, como hipocalcemia, pela possível associação desses problemas com alto risco de mastite em novilhas;


- manter a ordenhadeira limpa, limpando-a todos os dias após a ordenha é de grande importância;


- deve-se adotar uma ordem de ordenha, onde primeiramente realiza-se a ordenha das novilhas em seguida vacas, após vacas que já tenham histórico de mastite, e então as que estão em tratamento.


Deste modo, é importante o produtor e o técnico ficarem atentos ao problema da mastite em novilhas, uma vez que o percentual de animais com infecção subclínica é elevado, podendo levar a uma redução significativa na produção e na qualidade do leite.


Sendo assim, é preciso rever os métodos de criação, para que os animais possam expressar seu potencial de produção máximo, o mais cedo possível e ao menor custo.


Referências Bibliográfica


FOX, L.K. Prevalence, incidence and risk factors of heifer mastitis. Veterinary Microbiology, n. 134, p.82-88, 2009.


SANTOS, J.E.P., CERRI, R.L.A., KIRK, J.H., JUCHEM, S.O., VILLASENOR, M., Effect of prepartum milking of primigravid cows on mammary gland health and lactation performance. Livestock Production Science, v.86, p.105-116, 2004.


VARGAS, R.T. Avaliação econômica e qualitativa do leite de novilhas submetidas a antibioticoterapia e vacinação no período pré-parto. 2005. 73p. Dissertação em Medicina Veterinária - Escola de Veterinária, UFMG, Belo Horizonte.



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