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A ciência cega de Antônio Nobre e Ricardo Rodrigues


Terça-feira, 28 de agosto de 2012 - 10h05

Amazônida, engenheiro agrônomo geomensor, pós-graduado em Gestão Econômica do Meio Ambiente (mestrado) e Geoprocessamento (especialização).




* Reprodução permitida desde que citada a fonte.

Poucas coisas ainda me deixam estarrecido nesse debate do Código Florestal. Ao longo dos anos vi verdadeiros absurdos acontecerem, mas aprendi a compreender quando um ongueiro argumenta contra o Agro nacional, ou quando articulistas comprometidos como Sérgio Abranches ou Claudio Ângelo torcem números para construir factoides de acordo com seus credos. Mesmo o fato de alguns deles serem jornalistas e, teoricamente, comprometidos com a verdade, não me surpreende mais. O jornalismo ambiental no Brasil já se desapegou dessas formalidades conceituais há décadas. Mas, dentre todos os absurdos corriqueiros nessa guerra de desinformação do Código Florestal, um ainda me deixa embasbacado: o comportamento de alguns cientistas.


Na última sexta-feira dois deles, Antônio Nobre, agrônomo, PhD em Ciências da Terra e pesquisador do Inpa e Ricardo Rodrigues, biólogo, PhD em Biologia Vegetal e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, soltaram mais uma pérola de desrespeito aos cânones básicos da formação de conhecimento novo.


Os dois PhDs fizeram publicar no jornal Valor Econômico o seguinte artigo: Código florestal: águas ameaçadas. No texto, Nobre e Rodrigues, argumentam que "nada justifica a destruição dos recursos hídricos brasileiros".


Existe alguma coisa mais desonesta do que esse argumento? Alguém conhece alguém que esteja tentando justificar a destruição dos recursos hídricos brasileiros?


O textículo de Nobre e Rodrigues é eivado de preconcepções sobre a história da ocupação do Brasil. Análise com os óculos morais de hoje quem agiu no passado guiado por outros preceitos morais, em um outro momento histórico. Fosse um articulista comprometido não haveria problema nessa atitude, mas vindo de dois PhDs é assustador. Envergonho-me desse tipo de cientista.


O objetivo central do texto de Nobre e Rodrigues foi uma análise da "alegação de que restaurar matas de galeria,..., reduzirá a área disponível para a produção de alimentos". De acordo com os cálculos dos grandes PhDs, a área agrícola que se perderia pela imposição das APPs ao agro é ínfima em relação à importância de sua proteção. Os dois grandes gênios deixam no ar a afirmação de que a relação desigual justifica de sobejo a preservação do Código Florestal de 1965.


Faz todo o sentido. O argumento quase para de pé quando a gente raciocina de forma simplória e reducionista como fizeram os dois "cientistas".


Nem de longe o problema com a imposição de APPs ao agro é um simples problema de perda de área agrícola. Há uma relação absurdamente desigual entre a capacidade de grandes produtores como Blairo Maggi, por exemplo, e pequenos agricultores de assumirem as obrigações que Nobre e Rodrigues querem que lhes sejam impostas. 


Nobre e Rodrigues argumentam que a área agrícola perdida é muito pequena. Eu desafio Nobre e Rodrigues a personificar esse pequeno. A ir até a terra da gente que mais sofrera com as APPs e dizer a elas que eles devem se ferrar com o respaldo da ciência em nome da proteção dos rios.


O que esse bando de militante com credencial de cientista precisa perceber é a paquidérmica perda de tempo que é buscar justificativas para se oprimir o homem o campo. Se cientistas como Nobre e Rodrigues gastassem 10% do tempo e recursos de pesquisa que manejam buscando uma solução conciliadora, nós estaríamos muito mais próximos dele do que estamos hoje.


O que esses "cientistas" de um paradigma só precisam perceber que desonerar e proibir são coisas totalmente diferentes. O novo texto desonera o agro de uma série de imposições de proteção ambiental, mas ele não proíbe nenhuma delas. Isso imporá a pessoas como Nobre, Rodrigues, Marina Silva, Capobianco, e sua turma, habituadas a apontar o dedo na cara do produtor gritando preserve com um bloco de multas na mão, a mudar de comportamento.


O próprio Ricardo Rodrigues teve a chance de perceber isso em Paragominas em um projeto de recuperação ambiental tocado lá por ele. Foi chegar conversando e sorrindo ao invés de gritando e multando, que os produtores de Paragominas entraram em acordo com os pesquisadores e iniciaram a recuperação de suas áreas. Rodrigues não mudou de comportamento porque descobriu o que poderia acontecer. Rodrigues mudou de comportamento porque foi pago para mudar. Mas mesmo tendo mudado como um mercenário troca de lado numa guerra. Deveria ter percebido a vantagem para o meio ambiente que é trabalhar junto com o produtor ao invés de junto com ongueiros contra o produtor.


Eu, sinceramente ainda fico estarrecido com a atitude torpe de gente como Antônio Nobre e Ricardo Rodrigues. Isso não é ciência. Pode ser qualquer coisa, militância, política, jogo de interesses, qualquer coisa, mas ciência não é.



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