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Scot Consultoria

O chororô dos banqueiros


Quarta-feira, 25 de abril de 2012 - 10h38

Economista, especialista em engenharia econômica, mestre em comunicação com a dissertação “jornalismo econômico” e doutorando em economia.


O governo federal vem promovendo reduções na taxa básica de juros com a expectativa de induzir a queda de juros no sistema bancário nacional, mas isso não tem ocorrido na prática.


Considerando que a atual equipe econômica tem dois importantes bancos sobre sua tutela, ou seja, o Banco do Brasil e a Caixa Federal, a opção foi rebaixar os juros nestas instituições, forçando, via concorrência, que os bancos do setor privado também promovam quedas nos juros.


Evidentemente que os "poderosos" banqueiros iriam se manifestar. Apresentam à opinião pública inúmeras alegações para justificar as exorbitantes taxas de juros praticadas no Brasil.


Tentando demonstrar que o lucro dos bancos é apenas uma pequena parte na formação do spread bancário (diferença entre a taxa de juros pago pelos bancos na captação de recursos e cobrada de quem empresta recursos) tais banqueiros justificam juros altos em função dos tributos, custos administrativos, inadimplência, reservas compulsórias, entre outros.


Em parte têm razão. Os governos em todas as suas esferas tributam demais. Com esta gana em tributar interferem na formação dos preços e com a taxa de juros não é diferente. Também têm razão quando mencionam a inadimplência relacionando-a a morosidade da justiça brasileira. Custa muito receber dos inadimplentes. O atual rito processual é sinônimo de elevada burocracia.


Mas na outra ponta os bancos já cobrem, se não a totalidade, mas boa parte de seus custos administrativos com as tarifas bancárias. São extremamente conservadores e normalmente exigem elevada reciprocidade de seus clientes para realizar suas operações. Mais ganhos em seguros, previdência, títulos de capitalização, contas correntes de funcionários, entre outros.


Sempre tiveram elevados lucros quando a inflação batia os 40% ao mês, e continuaram ganhando muito com inflação atingindo os patamares atuais, entre 5 e 7% ao ano.


Não se deram conta que é preciso ganhar no volume e não em cada operação isoladamente. Que cliente em país desenvolvido aceitaria pagar 150% ao ano de juros em um cheque especial; 250% ao ano em cartão de crédito? Que empresário alavancaria seus negócios com recursos para giro acima de 40%, chegando em alguns casos a 100% ao ano? Não há renda, nem margem de lucro que suportem estes custos.


Observem que a questão é mais profunda. Estamos falando de mudanças na forma de operar do mercado bancário. Mesmo os bancos estrangeiros que aportam no Brasil se rendem ao "jeito brasileiro" de cobrar juros. Os resultados apurados no Brasil transformam a posição brasileira em uma das mais rentáveis se comparados com as demais operações destes bancos no resto do mundo.


É preciso aproveitar o momento desta, diria, provocação, e atacar todos os pontos na formação dos juros no Brasil.


Em última instância é preciso entender que quem opera no lado real da economia, esse lado que produz produtos, presta serviços, gera emprego, deseja que os operadores dos sistemas bancários sejam parceiros, entendam sua necessidades e não comam parte considerável de seus lucros, quando se tratam de empresas, e tampouco comam boa parte da renda, quando se tratam de pessoas físicas.


Como dizem os mais antigos ao serem perguntados sobre quais seriam os dois melhores negócios do mundo: "primeiro, um banco bem administrado, segundo, um banco mal administrado."


O chororô dos banqueiros não comove ninguém.



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