• Quinta-feira, 28 de março de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Babaçu inserido no agronegócio maranhense


Segunda-feira, 30 de janeiro de 2012 - 12h14

Engenheiro agrônomo formado pela Esalq – USP e consultor agropecuário.


Parte 1: Histórico e potencial de produção. A palmeira de Babaçu é uma espécie originária da América do Sul com ocorrência predominante no Brasil na região denominada de cocais no estado do Maranhão. Essa região engloba distintas microrregiões numa área de aproximadamente 10 milhões de hectares, com um número estimado de 12 bilhões de palmeiras. Seu principal produto é o coco, que por sua vez pode ser fracionado em mais de 59 subprodutos conhecidos, como mostra o diagrama na figura 2. Entretanto, o crescimento industrial deve-se aos resultados expressivos de produção dos quatro principais subprodutos apenas: o endocarpo, a amêndoa, mesocarpo e o epicarpo. Óleo de babaçu e a torta (farelo) são obtidos da prensagem das amêndoas. A farinha amilácea (mesocarpo) e a biomassa (epicarpo e endocarpo) são usados para distintos fins (geração de energia, carvão, etc.). Esses produtos somados resultam em um aproveitamento superior a 92% do coco. Embora tenha uma gama significativa de subprodutos, o coco do babaçu, na grande maioria dos casos, tem aproveitamento bastante limitado à extração do óleo contido na amêndoa, de grande valor para a indústria de cuidados pessoais, particularmente para cosméticos finos. A torta tem aproveitamento como componente protéico em rações para alimentação animal. Pesquisas nacionais e internacionais e experimentos recentes sobre produtos do coco dão conta de aproveitamentos adicionais que tem merecido atenção tanto na indústria de cosméticos quanto em outras, como é o caso de biodiesel para aviação. As comunidades, população carente do estado, utilizam a casca e a sua parte interna (endocarpo) como biomassa no geral e em particular para fabricação do carvão, que tem qualidades superiores a de outras fontes de origem vegetal, o que se reflete no preço pago pelo mercado (aproximadamente 20% acima dos demais). A farinha também é retirada e quando é para consumo humano isso é feito manualmente o que limita de forma significativa a quantidade disponível. A espécie da palmeira com maior presença é a Orbignya Phalerata Speciosa e, embora em cada região existam espécies particulares, o produto coco não difere na sua composição, variando basicamente de tamanho. O inicio de produção de uma palmeira começa entre o 7º. e o 10º. ano e se estende por aproximadamente por 15 a 20 anos mais. O crescimento do babaçu para efeitos de avaliação do estágio de cada palmeira está segmentado em quatro estágios, sendo que apenas no último a palmeira está em fase de produção. Nas grandes concentrações de palmeiras são encontrados indivíduos nos quatro estágios e o adequado manejo é importante para alcançar o aumento de produção por indivíduo. Assim, identificar palmeiras com muito bom potencial numa fase inicial de crescimento é chave para o crescimento e produtividade dessa e das outras em fases mais avançadas. Outras espécies têm menor presença e o surgimento de espécies híbridas tem suscitado o aprofundamento de pesquisas nessa direção, particularmente com relação à espécie anã Orbignya Eiclheri, que apresenta altura bastante inferior às demais espécies, o que facilita a coleta, mas com produtividade e inicio de produção semelhante às demais a partir do 4º. ano. A palmeira de babaçu é uma planta dominante e geralmente resultado do desmatamento, uma vez que após essa atividade, é a primeira a surgir muitas vezes antes até de outras vegetações rasteiras. Trata-se de uma cultura dominante dentro do seu habitat com alta resistência a pragas não se encontrando na literatura relatos de fragilidades dessa cultura. No tocante ao coco, registra-se a ocorrência de coleópteros (Gongo) que consomem e inutilizam a amêndoa. Normalmente isso ocorre após a colheita, particularmente se deixada sem processamento (retirada do epicarpo e/ou secagem). Em termos médios a produção de coco por palmeira está ao redor de 45 kg/ano e a produtividade por hectare na ordem de 1,6 t/ano. O período de colheita normalmente vai de agosto a janeiro, tanto em função da menor ocorrência de chuvas quanto pelo ciclo natural da palmeira. Todavia, onde o acesso é possível, a colheita ocorre ao longo do ano todo, embora a maior produção ocorra nos meses de novembro e dezembro. De acordo com estatísticas e estimativas de especialistas nessa cultura o potencial de coleta de coco de babaçu para a floresta, estimada em 12 bilhões de palmeiras, seria algo entorno de oito milhões de toneladas, sendo que hoje se produz 2,6 milhões de toneladas em 90% no estado do Maranhão. No Brasil a amêndoa de babaçu destaca-se como o segundo produto de maior valor da produção no extrativismo vegetal não madeireiro, atrás, somente, do açaí. Em 2010 a produção representou o total de 106.055 toneladas de amêndoas. Essa diferença entre a quantidade coletada e o potencial disponível pode ser claramente observada nos trabalhos em campo quando ainda são encontradas quantidades significativas remanescentes junto ao pé das palmeiras e/ou maduros nos cachos. Iniciativas de importantes empresas estão gradativamente trazendo uma nova realidade que se caracteriza pela demanda mais organizada e suas consequências sobre a atual sistemática de coleta, prática de preços e acordos de fornecimento e na qualidade do coco processado. Dessa forma, gradativamente está sendo revitalizado o potencial dessa cultura e as possibilidades são muito claras quanto ao aproveitamento integral do coco, do aprimoramento da coleta e manejo florestal, ampliação das fontes de fornecimento e desenvolvimento de mecanismos de marketing coerentes com a origem do produto e suas vantagens. Na próxima semana iremos abordar o contexto prático da produção, bem como a aceitação das quebradeiras de coco, ao processo de industrialização do coco inteiro.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja