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Scot Consultoria

A conta que não fecha


Terça-feira, 20 de dezembro de 2011 - 10h54

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Este é o último texto deste ano, caro leitor. Próxima edição será no dia 6 de janeiro. Como última edição gostaria de compartilhar dois pensamentos diferentes que venho remoendo sobre este mercado. O primeiro diz respeito sobre os preços atuais da arroba. Esta é a quarta semana consecutiva de queda dos preços. A arroba caiu praticamente 10 reais desde seu pico do final de novembro até agora. Colocando essa queda na perspectiva e dimensão correta, temos a seguinte pergunta: “O que significa 10 reais de queda?” Quando se faz a conta de lucro do animal, uma queda de 10 reais em um boi de 18 arrobas significa uma redução de 180 reais no preço final de venda. Cento e oitenta reais, na melhor das hipóteses, é o lucro que o invernista teria. Agora, 10 reais abaixo, este lucro já era. Obviamente a flutuação dos preços em si é mais complicada que isto. Os preços também reagem aos custos de produção, porém não reagem em curto prazo. Reagem mais na mudança de patamar de preços... Algo que ocorre entre intervalos maiores de anos. O que temos aqui é uma queda de preços em curto prazo com o intuito de marcar território. Ah, sim, é necessário dar o tom da safra, é essa a mensagem que está sendo transmitida, através dos preços para o mercado. Porém, a mensagem que está sendo transmitida condiz com a realidade de mercado, ou é resultado de uma venda concentrada de animais resultante da seca prolongada que acometeu algumas regiões? Sim, animais que são engordados a pasto sofreram com esta seca, seria natural esperar ao mesmo tempo um atraso na oferta no início das chuvas e uma oferta maior no final do ano. O pecuarista tem que pagar as contas. Precisa vender. Daí, qualquer oferta, por menor que seja, em um ambiente que frigoríficos estão trabalhando abaixo de sua capacidade, pulando dias da semana de abate e em um momento em que o atacado até poucas semanas atrás estava cobrando preços extremos pela carne vendida ao consumidor, martelando para baixo o consumo em função de margem, repito, resultando em um ambiente de pouco fluxo relativo de carne, qualquer oferta a mais de boi iria derrubar os preços. Porém, cada real que a arroba cai, menor é a vontade do pecuarista em vender seus animais, não se engane. É claro que muitos têm que vender por compromissos financeiros, independente do preço vigente da arroba, porém chega uma hora que a coisa trava. Que momento é esse? Que preço é esse? Felizmente, para nós, dá para trazer isso daí mais próximo da realidade. Através de muita conta e tentativa e erro consegui chegar a um tipo de ferramenta que é específico para o boi. Ele mede, grosso modo, a força da arroba naquele momento em curto prazo. Observe o gráfico abaixo. Na realidade, dois gráficos. O maior é a arroba do boi. O menor, a força do boi. Este gráfico da força do boi é baseado na movimentação dos preços da própria arroba, acrescentado algumas contas estatísticas de variação de preço, depois em cima disso a gente coloca alguns ajustes matemáticos para ficar tudo dentro da proporção. Chamo a atenção do leitor para olhar atentamente este gráfico da força do boi. Repare no número 40. Tracei essa linha pontilhada ao longo dos anos para demonstrar o que ocorreu quando os preços vieram abaixo de 40 pontos. Percebe o que ocorre nos movimentos de queda da arroba? Ela vai caindo, caindo, até parar de cair. Ela para de cair em algum momento quando ultrapassa para baixo esses 40 pontos neste gráfico. O gráfico pode cair bem abaixo de 40, pode vir até 20, como ocorreu, e isso não inviabiliza a ferramenta. O importante e prático que gostaria de deixar como primeira mensagem é o seguinte: atualmente a arroba está barata e pressionada até demais para baixo, eu diria... A mão está forçada. Outra coisa que queria deixar como reflexão para o final de ano é sobre os custos de produção. O que gostaria de falar é na realidade muito simples, muito direto. O custo de produção para 2012 e também para o final de 2011 está girando entre 85~90 reais por arroba. Um exemplo para ficar mais claro: um animal de 18 arrobas hoje na hora do embarque da fazenda para o frigorífico está custando para o pecuarista ao redor de R$1.580,00. Isso significa uma arroba ao redor de 88 reais. Isso fora de São Paulo, ok? A coisa se torna feia daqui para frente. O contrato de maio na bolsa espera uma arroba de 93 reais, à vista, para SP. Coloque 10% de desconto para a arroba fora de São Paulo e você tem ao redor de 84 reais. Venda ao redor de 84 reais sobre um custo de 88 reais. Prejuízo de 4 reais, ou, 72 reais por animal. Quinhentos animais para a venda e temos 36 mil reais de prejuízo, somente na operação de engorda. Quem confina, por exemplo, 8 mil cabeças, perde meio milhão de reais. Aí estamos começando a falar sobre dinheiro de gente grande. E nessa conta não estão dentro os gastos para manter as despesas pessoais do pecuarista. Ele tem a faculdade da filha, o seu supermercado, a gasolina do carro, a conta do telefone, a pizza, a consulta no dentista... Poderíamos colocar mais uns 5 reais de custo por arroba nesta conta e daí estamos falando do prejuízo sério na atividade. O que me deixa espantado é que este prejuízo está ocorrendo não porque existiu uma fartura de lucro nos últimos anos e ocasionou aumento no abate. O prejuízo está ocorrendo não porque a atividade pecuária foi extremamente positiva nos últimos anos. Para falar a verdade o último ano realmente lucrativo aqui foi 2008, pelas minhas próprias contas, o que não deve diferir muito das contas dos outros pecuaristas. Isto é como uma enorme e gigantesca panela de pressão. O fogo por baixo representa os custos de produção que só aumentam, a tampa representa os preços da arroba que é colocara para o pecuarista via frigorífico e supermercados. Estes preços estão, até agora, segurando a pressão, porém o fogo não para de aumentar. Uma hora a tampa explode. Este texto de hoje é para levar ao conhecimento de todos sobre essa panela de pressão. Voltando ao assunto, 2008 foi um ano lucrativo porque os animais que foram abatidos lá foram os animais comprados entre 2005 e 2006, onde o valor do animal foi um dos mais baixos da história. O que ocorre a partir de agora é que a partir de 2012, a pecuária dará vazão aos animais mais caros comprados a partir de 2008 para cá. Esses animais comprados entre 100 (boi magro) e 150 (bezerro) reais por arroba serão os animais gordos do ano que vem e também parte destes animais que estão sendo abatidos agora. Desde 2008, o animal de reposição está em valores elevados e a arroba do boi gordo, que poderia dar vazão a esses maiores custos não subiu da mesma forma. O boi é formado pelo custo do animal, pelo custo de engorda e pela inflação no período. Este conjunto subiu mais que o preço de venda. O que temos é uma situação em que a conta não fecha. Sendo assim, só existe uma solução, ou melhor, duas. Ou a arroba sobe para fazer a margem da engorda sair do negativo, ou os preços dos animais de reposição tem que cair. Cair os preços da reposição não resolve. Os animais de reposição irão cair no seu devido tempo por causa do aumento do rebanho de fêmeas, produzindo mais bezerros. Mas isso não ocorrerá agora. Isso toma tempo e pode esperar isso somente a partir de 2013... 2014 adiante. A outra saída é a alta da arroba do boi. Foi isso o que, historicamente, ocorreu como você pode ver nos saltos de preços que a arroba deu no passado, demonstrados no próximo gráfico. Mas daí as coisas se complicam. Os problemas no exterior acabam por respingar indiretamente no consumo de carne da seguinte forma. O consumidor final está querendo comprar carne. Esse não é o problema. O problema é que o sujeito que importa a carne para lá está com problemas, e esses problemas acabam se resumindo ao crédito que ele tem disponível para comprar a carne. O cara, o importador compra a carne no cheque especial, caro leitor. Vai pagar a conta depois. O problema é que o gerente ligou para ele e reduziu o seu limite do cheque especial, ou simplesmente dobrou os juros cobrados, por causa do tal “risco de crédito mundial”, etc, etc. E isso ocorre também com os frigoríficos, que também trabalham profundamente dentro do cheque especial, salvo algumas exceções. Isso soa muito extremista? Pode ser. Porém, a ideia é deixar esse alerta mesmo. E uma mensagem. A mensagem que gostaria de deixar para irmos pensando é a seguinte. Os custos de produção importam. Eles são o piso definitivo da atividade e são explosivos quando são molestados. Tanto em curto prazo na baixa, como estamos vendo agora, quanto em longo prazo, como também vemos agora. Por isso mesmo, relaxe. O ano de 2012 será uma viagem muito interessante. Vamos deixar para preocupar sobre isso somente ano que vem. Feliz final de ano, caro leitor. Que o vinho esteja magnífico. Os abraços, fartos. Os beijos nos amigos e familiares, abundantes. Feliz Natal e uma excelente virada de ano. Até 2012.
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