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Scot Consultoria

Relação de troca


Terça-feira, 21 de setembro de 2010 - 10h20

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Do jeito que enxergo o mercado, vejo duas coisas distintas ocorrendo. Uma é o mercado do boi gordo, outra é o mercado de reposição. O boi gordo subiu 30% desde o piso em dez/09. No mesmo período o bezerro subiu 20%. Isso fez a taxa de reposição subir, como você pode ver no gráfico abaixo. Enxergo essa alta de 1,80 para 2,30 bezerros/boi como a esperada e tardia recuperação da arroba do boi sobre a reposição, pois sabe como é, para o cara que engorda boi esse é um custo importante. Se o bezerro é importante, o garrote e o boi magro são mais ainda, pois são mais caros que o bezerro. Recentemente a reposição parou de subir e está oscilando entre 2,20~2,30. Quer dizer que é isso? Que já deu o que tinha que dar? Não acho. O mercado não oscila em linha reta, não é mesmo, caro leitor? Não, ele oscila em pulsos, em ondas... Acredito que a primeira onda de ajuste, essa que estamos vendo aí no gráfico já fez corretamente seu papel. Não adianta ser muito exigente com o mercado. Ele não vai nos dar aquilo que queremos assim de mão beijada. Talvez, não sei, mas talvez seja hora do mercado dar uma descansada, recuar um pouco, dar tempo de recuperar o fôlego para uma nova investida de alta. Ah, sim, pois não creio que a coisa irá parar por aqui não. Foram muitos anos de mercado distorcido para ser corrigido assim em quatro meses e apenas até 2,35, que não é nem de perto onde esse mercado pode chegar quando se olha para a variação histórica da taxa de reposição, como podemos ver no gráfico abaixo. Quando olhamos para o longo prazo vemos que o buraco é mais embaixo. Estamos apenas limpando uma ferida aberta, caro leitor. Não colocamos o curativo ainda. A taxa de reposição precisará subir muito mais do que é hoje para novamente dar gás ao invernista, para ele poder novamente lucrar na atividade e o levar a investir novamente. O povo gosta de dizer que nunca iremos ver novamente uma reposição alta. Como é que se pode dizer uma coisa dessas se dois anos atrás a reposição era 2,50 bezerros/boi, bem acima dos 2,25 atuais? Como é que se pode ter a certeza de olhar para a atividade pecuária e apontar o dedo para hoje e dizer, ah, “hoje o mercado é diferente do que era”. Bom, deixe-me te dizer um segredo. O mercado nunca é diferente. Ele nunca muda. O que mudam são as condições. É claro que antigamente a reposição era maior que hoje, mas isso não significa dizer que ela não oscilava bruscamente lá atrás como oscila hoje. Essa é a mensagem que gostaria de deixar. A taxa de reposição oscila bruscamente ao longo dos anos. Não vai deixar de fazer o mesmo nos anos que virão. O que estou dizendo não é nada mais que descrever a realidade de décadas de mercado, como você pode ver no gráfico abaixo. Ou seja, não deveria estar falando nenhuma novidade para ninguém. Quero chamar a sua atenção para a linha vermelha que coloquei aqui no gráfico. Ela demonstra a taxa de reposição ao redor de 2,50 bezerros/boi. Falei de 2,50 na antes, não? Estávamos ao redor dele em 2008. Pois é, esse número não é à toa. Não me pergunte qual a razão, pois não saberia te dizer, mas historicamente abaixo disso a coisa raríssimas vezes veio. Agora com isso na cabeça, observe no gráfico, ao redor de 2010 o tanto que recentemente a reposição veio abaixo da realidade histórica. É por isso que chamo todo esse período de 2008 para cá de distorção histórica, caro leitor. Acho que agora dá para entender melhor o meu ponto de vista. E na minha humilde opinião a oscilação vai ter um viés para cima, ao contrário do que tivemos desde 2008 para cá, que foi um viés para baixo. Excessos em uma direção levam inevitavelmente a excessos na outra direção. Estivemos passando pela pior reposição histórica recentemente. Nada mais natural que esperar uma boa reposição daqui para frente para compensar, para fazer o mercado voltar à média. Comentamos em uma edição anterior que regressão à média é uma das coisas mais fortes em se tratando de mercado. Olha ela aí em ação. Agora, vamos concluir esse raciocínio. Os picos desse gráfico nos últimos dez anos foram ao redor de 3,0 bezerros/boi. Sinceramente não diria tanto, mas pelo menos até 2,50 nos próximos anos a reposição tem chances de ir tranquilamente. Isso significa uma arroba mais cara que a atual, ou um bezerro mais barato que o atual. Só para te dar uma idéia do que isso significa, mantendo o preço do bezerro igual e alterando o preço do boi gordo, para a reposição valer 2,50 a arroba do boi teria que estar valendo R$105,00 hoje. Se mantivermos a arroba fixa e alterarmos o bezerro, para 2,50 o bezerro teria que cair a R$620,00. Hoje a arroba vale R$93,50, para R$105,00, alta de 12%. Hoje o bezerro vale R$700,00 para R$620,00 queda de 12%. Interessante, não? Se os dois se movessem, ou seja, se tanto o boi e o bezerro se mexessem na mesma proporção para assentar uma reposição de 2,50, então estamos falando de uma janela que vai de R$93,50~R$99,00 e o bezerro de R$660,00~R$700,00. Aí você,que é um leitor esperto e atento, me pergunta: “ Mas, Rogério, entendo sua colocação. Mas me surgiu uma dúvida. Você está assumindo que faltará boi gordo nos próximos três anos e que ao mesmo tempo teremos mais animais de reposição?” Bom, é. É exatamente isso. Baseio isso olhando para a variação do abate de fêmeas nesse gráfico abaixo. A leitura dele é a seguinte. Abaixo de zero estamos tendo retenção, ou seja, o abate de fêmeas está diminuindo. Acima de zero o abate está aumentando e estamos tendo descarte. Atualmente estamos próximos de zero vindo de valores negativos. Isso quer dizer que estamos saindo da retenção de fêmeas e caminhando para novamente uma fase de descarte. Isso é importante frisar — a maré mudou. Mudou porque o movimento de retenção de matrizes que ocorreu entre 2007 e 2010 já está começando a produzir novas fornadas de bezerros. Obviamente em 2010 isso daí ainda é incipiente, mas a partir de 2011 adiante esses animais começarão a entrar com mais força no mercado. Maior quantidade de bezerros, mais pressão sobre o viés da taxa de reposição, ou seja, pressão para cima. Ao mesmo tempo, o principal estrago da retenção foi a diminuição das fêmeas no abate. Isso é o que força o preço do boi para cima, como o que temos visto desde 2006, com um intervalo entre 2008 e 2009 por causa da crise. Essa falta de fêmeas ainda não terminou e acredito em um 2011 ainda apertado. Veja, caro leitor, pelos meus estudos não é o suficiente o abate de fêmeas aumentar acima de zero no gráfico anterior. Ele precisa subir acima de +10% para as fêmeas terem algum impacto na formação de preços. Isso quer dizer que ainda há espaço para o mercado firme que estamos vendo agora. Mas em relação ao pico dos preços? Já atingimos? Não sei. O mercado ainda é firme, e deverá estar ainda em 2011, mas pico é pico. Ele normalmente é aleatório e de difícil previsão. Para mim os preços atuais, desse último mês, estão ótimos. Coloquei aqui minhas razões nos textos anteriores. Mas como terminei a Carta Pecuária passada chamando-nos a olhar para 2011, já que, a meu ver, o que se dava para fazer em 2010 está mais ou menos feito, essa edição atual é para vocês terem uma idéia do que já estou começando a pensar para o ano que vem. Mas vamos conversando. Gostaria de sua opinião para o que você está pensando, qual o seu sentimento para 2011.
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