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Scot Consultoria

O verdadeiro papel da pesquisa agropecuária


por Otaliz

Sexta-feira, 30 de julho de 2010 - 15h29

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


A escassez de recursos financeiros, materiais e estruturais não é o único problema inerente à pesquisa agropecuária no Brasil. Há uma outra questão intrínseca à própria pesquisa que precisa ser melhor avaliada. Trata-se da função social da mesma, ou seja, do impacto que realmente a pesquisa causa no meio rural. Quanto da tecnologia gerada nos órgãos de pesquisa chega efetivamente ao meio rural? Qual a porcentagem de empresas rurais que se apropriam dessas tecnologias e fazem delas um uso correto? A falta de um contato mais estreito entre os pesquisadores e o meio rural faz com que os primeiros, com certa freqüência, determinem por conta própria o que deve ser pesquisado, independentemente das verdadeiras demandas tecnológicas do campo. PESQUISA E O SEU VERDADEIRO PAPEL Em muitos casos, o objetivo da pesquisa é o de apenas dar titulação ao pesquisador. Concluídos os trabalhos de investigação tecnológica, comprovados os resultados, publica-se em revistas especializadas e pronto. Quem e quantos vão se beneficiar dos resultados obtidos por esse trabalho e qual será o impacto social e econômico que essa pesquisa proporcionará ao meio rural, parecem ser questões irrelevantes. Na origem desse problema está o perfil narcisista da universidade brasileira que parece existir exclusivamente para si mesma, na medida em que não interage com o ambiente onde se situa. Algumas faculdades de agronomia, veterinária e zootecnia formam profissionais, até mesmo pesquisadores, com bons níveis de conhecimentos técnicos, mas absolutamente órfãos no que se refere às áreas de administração, sociologia, extensão e desenvolvimento rurais. Sem esta bagagem, é natural que esses profissionais passem a atuar dentro de uma ótica reducionista. Mas há outros fatores que colaboram para tornar áspero o caminho entre os centros de pesquisas e o produtor rural que, em última análise, deve ser o destinatário final dos trabalhos de investigação tecnológica. Um deles é o flagrante divórcio que existe entre pesquisa e extensão rural. Embora o público alvo das instituições de pesquisa e da extensão seja o mesmo, há uma marcada tendência para o percurso em caminhos paralelos. O QUE MUDOU NOS ÚLTIMOS ANOS O texto acima é parte de um artigo publicado nesta coluna em janeiro de 2003. De lá para cá algumas coisas mudaram para melhor. O Projeto Balde Cheio, desenvolvido pela EMBRAPA em parceria com a EMATER, Cooperativas Rurais e outras instituições que atuam no meio rural em alguns estados brasileiros é um exemplo disto. Juntas essas instituições estão facilitando sobremaneira o acesso de pequenas e médias empresas rurais às inovações tecnológicas geradas pela pesquisa. RESULTADOS Os resultados não poderiam ser melhores. Finalmente as diferentes instituições que atuam com o mesmo público alvo começam a se livrar dos velhos ranços corporativistas e, em vez de dividir, somam seus esforços na busca dos objetivos comuns. Seguramente, mais do que eventuais apoios financeiros, as empresas rurais, independentemente do tamanho de suas áreas de terra, necessitam de suporte tecnológico para se adaptarem às novas configurações do mercado internacional, agora globalizado, que vê no Brasil o potencial celeiro para a humanidade. Nas regiões Norte e Noroeste do Rio Grande do Sul, esta proposta de integração pesquisa/extensão rural se consolidou. Pesquisadores da EMBRAPA se associaram ao grupo técnico da EMATER e, contando com o apoio efetivo de cooperativas, escolas técnicas e outras instituições ligadas ao meio rural, estão desenvolvendo um projeto de pesquisa e extensão rural, financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário. O projeto abrange 46 municípios e alcança 18 mil produtores leiteiros. Os primeiros e auspiciosos resultados já estão aparecendo de forma concreta.
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