Todas as estatísticas que medem o comportamento do endividamento dos consumidores, notadamente da classe média brasileira, apontam para os vilões “cheque especial” e “financiamento no cartão de crédito”. Afinal, por que estas modalidades de crédito são tão perversas? A primeira explicação vem do fato que, na média, as taxas de juros são extremamente elevadas. O cheque especial gira em torno de 7 a 8% ao mês, ou 125 a 152% ao ano. A rolagem da fatura do cartão de crédito chega, em média, a 290% ao ano, por sinal, já vi administradoras cobrarem 420% ao ano. Pela avaliação meramente financeira fica evidente que o consumidor não tem noção do que isto significa. Neste particular é preciso criar "moedas" para entender a dimensão destes juros. Uma análise que estabelece um bom parâmetro é comparar com o dia trabalhado. Descubra quanto ganha por dia e compare com os juros pagos. Você chegará à conclusão de que perde muitos dias de trabalho para pagar somente os juros do uso crédito. Outro parâmetro é o reajuste da renda anual. Trabalhadores, por exemplo, têm seus salários reajustados na ordem de 5 a 7% ao ano. Observaram a discrepância?
A segunda avaliação é que estas modalidades são de fácil utilização. O crédito pré-aprovado não exige nenhuma burocracia. Emitiu o cheque ou utilizou o cartão, estando dentro do limite, o gasto é realizado. Isso potencializa sobremaneira o consumo. A surpresa fica por conta do débito dos juros em conta corrente ou da chegada da fatura do cartão de crédito. Na prática, o consumidor se instala em uma zona de conforto e acaba pagando um preço muito elevado por esta comodidade. A saída é pró-atividade. O uso do cheque especial deve limitar-se a três dias. Precisando de recursos financeiros há modalidades mais baratas, como o penhor de jóias, o crédito direto ao consumidor, entre outras. No caso da fatura do cartão de crédito, o indicativo é pagar a fatura integralmente. Neste particular, é preferível efetuar um empréstimo bancário com juros menores para honrar a fatura integralmente do que pagar o mínimo indicado. Evidentemente é preciso controlar os gastos para evitar o uso intensivo do cartão de crédito. Enquanto não há uma redução das absurdas taxas praticadas pelo mercado financeiro brasileiro, só resta ao usuário final do crédito se policiar, evitando que o consumo atual vire dor de cabeça futura.
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