Por Diego Augusto Campos da Cruz, graduando em zootecnia da FZEA/USP.
O ano de 2009 foi extremamente atípico no mercado de fertilizantes, onde o quadro encontrado pelos produtores foi de preços elevados no 1º semestre e mais baixos no 2º semestre. Diversos comentários e constatações surgiram na mídia e, como conseqüência do cenário, o segmento de fertilizantes gerou perdas significativas em 2009 para as grandes empresas, em conseqüência de um mercado difícil, caracterizado pelo elevado custo dos estoques e de um ambiente de preços baixos. A tendência para 2010 é a de que os preços se elevem quando comparados aos do final de 2009. O fósforo (P) e o nitrogênio (N) foram os nutrientes cujos preços mais subiram no mercado internacional, sendo que o mesmo cenário foi observado aqui no Brasil
De acordo com levantamento da
Scot Consultoria, os preços dos fertilizantes já tiveram altas consecutivas nestes dois primeiros meses do ano. Os reajustes foram considerados pequenos, mas demonstram uma possível tendência para o curto prazo. A inclinação é de que este panorama se mantenha até o final do 1º trimestre de 2010, devido às compras para safrinha (principalmente no Mato Grosso e Paraná). A partir daí a procura pelos produtos diminui, retomando o ritmo de vendas entre julho e agosto, na fase de preparação para a safra de verão.
Os maiores aumentos foram verificados nos preços dos produtos fosfatados. O fosfato monoamônio (MAP) está, em média, 7,7% mais caro em comparação com dezembro. O superfosfato simples e o superfosfato triplo estão, respectivamente, 5,6% e 7,8% mais caros. Os fertilizantes nitrogenados apresentaram um aumento de 1% a 5% no período, com destaque para o nitrato de amônio, que subiu 5,4%. Estes aumentos decorreram principalmente da alta do preço da matéria-prima no mercado internacional, puxado pela maior demanda mundial e, por conseqüência, muitas empresas ainda estão sem listas de preços, aguardando sinalizações do mercado.
Um dos principais motivos da elevação dos preços dos fertilizantes no mercado interno é a alta do dólar neste início de ano, pois em 18 de dezembro de 2009 o dólar foi cotado em R$1,787 e, desta data até o dia 18 de fevereiro de 2010, houve uma valorização de 2,18% na moeda americana, que fechou em R$1,826.
Outros fatores que podem ser considerados na elevação dos preços no mercado internacional e, por conseqüência no mercado brasileiro, são a constante variação do valor do barril de petróleo e do frete marítimo. Aproximadamente 65% da matéria-prima utilizada no mercado interno de fertilizantes têm origem externa e, assim, qualquer oscilação no mercado lá fora refletirá por aqui. A questão é até que ponto o mercado vai aceitar esses aumentos, já que nosso mercado em termos de oferta e demanda está menos pressionado, pois dispomos de um estoque interno em patamares mais normalizados em relação aos meses finais do ano anterior.
Para o produtor existe a possibilidade da compra antecipada de fertilizantes para a safra de verão, pois o preço dos fertilizantes ainda continua favorável quando comparado com o mesmo período do ano anterior e ainda não se sabe ao certo como o mercado irá se comportar nos próximos meses.
Mas, em contrapartida, o que se observa atualmente são produtores bastante cautelosos nesse aspecto, estudando mais o mercado. Em 2009 os grandes produtores se anteciparam, fazendo aquisições no início do ano, mas perceberam que compraram mais caro, pois no segundo semestre o preço ficou melhor. A tendência é que com o fim da crise e a retomada de crédito o mercado passe a assistir a volta da sazonalidade, com o produtor ainda mais precavido e prudente.
O governo brasileiro trata o mercado de fertilizantes como um grande desafio e começa a atuar com uma política muito mais agressiva para diminuir a nossa dependência externa de matérias-primas. Esta política será regida por meio de legislações especificas, criando incentivos fiscais à produção de fertilizantes em "larga escala" no país. Segundo o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, o Brasil se tornará auto-suficiente em fertilizantes dentro de uma década.
Aliado a estes fatos, grandes empresas nacionais começam a investir mais fortemente neste ramo, como é o caso da mineradora brasileira Vale, que adquiriu nestas últimas semanas duas grandes empresas de fertilizantes do Brasil, tornando-se uma das líderes do mercado nacional do ramo. Este é somente o primeiro passo neste grande desafio de reduzir a dependência externa, mas com certeza é o passo mais concreto rumo ao desafio do país em reduzi-la.
Perante todo esse turbilhão de especulações, as empresas devem se programar com critérios mais rigorosos neste começo de ano, principalmente no quesito importação, pois o ano de 2009 foi extremamente atípico e, devido a isto, 2010 se tornou uma incógnita. A recomendação é que os produtores e compradores se programem da mesma forma para que não tenham preocupações relacionadas à disponibilidade e preços dos produtos no futuro.
Referências:
Fertilizante tem leve alta com avanço da safrinha, aponta consultoria.
Agência Estado, disponível em:, acesso em: 20 janeiro 2010
Preços de fertilizantes disparam no mercado internacional e já refletem nos preços do início do ano.
Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás. Disponível em: , acesso em: 08 fevereiro 2010.
União dará incentivo fiscal à produção de fertilizantes.
Valor Online, disponível em: , acesso em: 17 fevereiro 2010.
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