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Scot Consultoria

Rumo à competitividade


Segunda-feira, 18 de janeiro de 2010 - 11h22

Engenheiro agrônomo


Até algum tempo atrás, era relativamente difícil convencer produtores pecuaristas da viabilidade de intensificação e melhoria das condições de sua empresa. A discussão sobre o assunto resumia a debate sobre o que seria melhor: baixa ou alta tecnologia. Hoje em dia o produtor não questiona mais a viabilidade; a questão é como fazer para melhorar a empresa, quanto investir e como administrar o fluxo de caixa. Trata-se de um avanço, pois meio caminho andado para se chegar a uma solução, é identificar o problema. Atualmente o pecuarista reconhece que a baixa produtividade por área é uma das características que reduz os ganhos da pecuária de corte no Brasil. No entanto, mesmo sabendo da necessidade, resta ainda um obstáculo considerável a ser vencido, que é a disponibilidade de capital para investir. Melhorar a produtividade de qualquer empresa é sinônimo de investimentos em estrutura, pastagens, treinamento, equipamentos e maquinários. Há também de se investir no próprio rebanho, pois aumento de produtividade implica em aumentar a carga animal da empresa. “Haja dinheiro”, dizem alguns. Ótimo! Trata-se de um obstáculo. Mas nunca, ninguém, conseguiu nada sem que em algum momento desafiasse obstáculos, mesmo alguns que parecem intransponíveis. É preciso planejar e, dentro do possível, avançar alguns passos. Para que estes passos sejam ordenados, na direção certa, é preciso que tudo esteja previamente planejado, permitindo que o empresário construa gradativamente as bases para uma empresa mais competitiva, mais produtiva. É importante frisar que o dinheiro é um recurso valioso e, caso não haja tal planejamento, os investimentos acabam não sendo coordenados e podem fugir do principal objetivo, que é justamente melhorar os resultados econômicos da propriedade. Sabemos que são nos anos de preços melhores que normalmente os produtores acabam “comprando” bens de capital novos e substituindo os bens mais antigos. Evidente que tal decisão é importante, porém caso não seja feita com critérios pré estabelecidos, o empresário poderá aumentar os custos fixos de produção para os próximos anos. O investimento que deveria agregar valor acaba por agregar custo. Essa armadilha deve ser evitada a todo custo. Enfim, nesse sentido, um serviço que geralmente é oferecido a produtores é um diagnóstico e uma análise de melhoria da competitividade da empresa. Sendo assim apresentaremos um exemplo de um estudo em uma propriedade localizada em Goiás, cujo caso foi apresentado em recente palestra proferida pela Bigma Consultoria. A fazenda, de ciclo completo, operava com natalidade de 78%; idade de abate em 32 meses; desfrute médio do rebanho em 27,13%; lotação de 0,84 unidades animal (450 kg de peso vivo) por hectare; rebanho de 14.340 cabeças em 11.950 hectares de pastagens. Havia um funcionário para cada 288 cabeças. Não apenas os vaqueiros, mas toda a equipe da fazenda. O tempo de vida das pastagens estava estimado em 12 anos. Bom, estes são alguns dos indicadores que foram trabalhados. A fazenda lucrou R$61,05 para cada hectare em produção no período de julho de 2008 a junho de 2009. Os valores foram atualizados por preços de mercado para dezembro de 2009. Observe, na figura 1, a participação dos componentes de custos de produção nesta propriedade. O gráfico em formato de pizza é uma ótima ferramenta para se visualizar rapidamente a composição dos custos e iniciar o estabelecimento de um diagnóstico. Por exemplo, quanto maior for a participação nas depreciações, menor o aproveitamento dos bens de produção da empresa. Em outras palavras, a estrutura presente permitiria maior produção em relação à atual. A conseqüência é custo fixo alto. Enfim, finalizado o diagnóstico, e em parceria com a Coan Consultoria, estabelecemos um plano para melhorar os resultados da empresa. O plano, arquitetado junto com o próprio produtor e com sua equipe de campo, estabeleceu como metas atingir os seguintes índices zootécnicos: - Natalidade: 83% - Tempo para abate: 26 meses - Desfrute: 31,52% - Lotação: 2,35 UA/ha - Aproveitamento por funcionários: 806 cabeças de gado/pessoa - Rebanho: 40.152 cab - Pastagens e volumosos para seca: 11.950 ha - Vida útil das pastagens past.: perenização, mas consideramos 40 anos Considerando todos os detalhes, investimentos e orçamento para se atingir a meta, os custos de produção se comportariam conforme a figura 2, exposta a seguir. Observe como se reduz a participação dos custos com funcionários, administração e depreciações em relação à figura 1. Aumenta consideravelmente a participação dos custos de insumos agrícolas, indicando que há uso de corretivos, fertilizantes e defensivos. Aumenta também a participação dos custos de alimentos e mineralização, indicando maior atenção com a nutrição dos animais. Lembre-se que a participação nos custos, expostas em gráficos modelos de pizza, é proporcional. Ou seja, não há alteração pelo fato do número de cabeças ter aumentado. A tecnologia de produção agrícola e a melhor nutrição animal, além de proporcionar ganho de produtividade, otimiza o esforço humano da propriedade. O uso de herbicidas e a fertilização de pastagens demandam bem menos quantidade de diárias de trabalho, do que a reforma de pastos e a roçada, seja ela manual ou mecanizada. Mesmo que a reforma de pastagens seja considerada como investimentos, aqueles funcionários envolvidos sempre constarão na folha de pagamento, onerando a fazenda. Por isso a meta era atingir mais de 40 mil cabeças com a mesma quantidade de funcionários, apenas remodelando as funções e salários. Melhor qualidade de vida para os envolvidos e melhor produtividade. Na tabela 1 é apresentado um maior detalhamento dos custos e resultados da empresa no diagnóstico, na meta planejada e durante alguns passos pelo percurso de investimentos e melhoria da empresa. Observe que a meta é levar a empresa às condições de R$521,98 para cada hectare em produção. Em valores de dezembro de 2009 esse avanço representaria um aumento na rentabilidade de 0,61% para 4,19% sobre todo o patrimônio investido. Observe a evolução do resultado na figura 3. Evidente, conforme relatado logo no início, que há a dificuldade da disponibilidade de capital para o processo. Mesmo assim é melhor ter um plano a não tê-lo. Em alguns períodos os preços favorecerão ou surgirão algumas possibilidades de capitalização que podem e devem ser aproveitadas. Por isso já fica estabelecido um plano de investimentos e fluxo de caixa, conforme descrito na tabela 2. Este plano pode ser mais simples, como o apresentado aqui, ou mais detalhado e elaborado envolvendo maiores períodos. No caso, apresentamos apenas o capital necessário para se atingir cada um daqueles passos descritos na tabela 1. Diferente da tabela 1, que trata de um demonstrativo de resultados, a tabela 2 ilustra o fluxo de caixa. Saem as depreciações e os resultados e entram os investimentos ao longo do processo. O resumo de tudo é o fluxo de caixa, ou seja, a diferença entre quanto entrou e quanto saiu. Veja que para atingir a meta foram estimados investimentos da ordem de R$32,32 milhões. Em quanto tempo? Depende da disponibilidade de capital e, claro, da viabilidade técnica e operacional em colocar um projeto para andar mais rápido. Do total dos investimentos, pouco mais de 80% são em compra e expansão do rebanho, um ativo de alta liquidez, cujas vantagens a Bigma Consultoria tem ressaltado sempre que possível. E outros 17,3% são investimentos em pastagens e forragens (culturas agrícolas) e edificações e benfeitorias (cercas, corredores, cochos, bebedouros, currais, etc.). Inquestionavelmente há uma melhoria da propriedade e da qualidade dos ativos pelo aumento do rebanho. Vale lembrar que o valor da terra continua sendo o ativo individual de maior valor na empresa. Por isso que, quanto maior a produtividade, maior tende a ser a taxa de retorno do capital investido. No processo, o fluxo de caixa ficou negativo em R$11,118 milhões, dinheiro que precisaria ser aportado no negócio. É um valor alto, não tenha dúvidas. Não é fácil disponibilizar todo este capital. Mas, quando se tem um plano prévio e a disciplina de mantê-lo com as devidas adaptações, a empresa chega aos objetivos mais cedo do que possa parecer. Por exemplo, as depreciações anuais chegam a pouco de mais de R$1 milhão. Grosso modo as depreciações são recursos que deveriam ser reaplicados, ou provisionados, para reinvestimentos, na propriedade. Se não são feitos, a empresa vai sucateando seus bens, aumentando os custos de manutenção e criando uma necessidade de investimentos pesados num futuro bem próximo. Observe que em 10 anos o valor total em depreciações se iguala ao saldo negativo do fluxo de caixa. E, nos investimentos da tabela 2, já estão sendo consideradas as eventuais substituições e reformas nos bens presentes na propriedade. Numa fazenda, 10 anos passam bem rápido. Serão menos de dois ciclos pecuários inteiros. Por exemplo, outro dia estávamos no ano 2000, preocupados com o “bug” do milênio. Vivíamos o foco de febre aftosa em Jóia (RS) e o foco de Naviraí (MS) havia sido pouco menos de um ano antes. Parece que foi outro dia. É muito rápido, e o interessante é que quando se olha para trás não se percebe o tanto de dinheiro que foi gasto na propriedade. Mas quando se planeja o futuro, o valor do investimento ou aporte de capital assusta, dando a impressão de que não será possível atingir determinadas metas. É uma armadilha de nosso inconsciente. Reforçando o argumento do início, quando há um plano, os recursos são destinados a bens que garantirão o retorno mais rápido daquele capital, possibilitando fôlego e um bom desempenho na atividade. É por esta razão que o estabelecimento de um “norte” para as ações da propriedade tende a tornar o uso de dinheiro mais eficaz do ponto de vista dos interesses da organização. Na grande prática, trata-se de usar os recursos disponíveis em alguns anos para crescer, melhorar, ganhar eficiência e não para simplesmente se manter. Não é fácil estabelecer e seguir o plano; mas também não é impossível. Basta um diagnóstico, um plano de metas e o detalhamento técnico e econômico. Depois é só disciplina para manter e corrigir o plano de acordo com mudanças tecnológicas, econômicas ou mesmo de oportunidades.
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