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Scot Consultoria

Integração Lavoura Pecuária Floresta – “Uma Visão Geral”


Segunda-feira, 16 de novembro de 2009 - 17h25

Engenheiro Agrônomo e Mestre em Nutrição Animal pela ESALQ/USP. Sócio-consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.


A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é uma técnica de exploração que integra as três atividades mencionadas (agrícola, pecuária e florestal), de uma forma mais econômica e lucrativa e, ao mesmo tempo, conservacionista. Assim, em uma mesma área se produz animais, culturas agrícolas e produtos oriundos da floresta, que exercem um mínimo de interação entre si. A ILPF pode ocorrer em ciclos de períodos variados e não necessariamente as três atividades precisam acontecer juntas, mas podem variar de acordo com o interesse do produtor. Este sistema de produção também é conhecido como agrossilvipastoril, que é considerado uma ciência devido à complexidade das interações entre os seus componentes. Há diversas razões para a adoção dessa integração. Dentre elas podemos citar o problema da monocultura, que não é um sistema de produção sustentável do ponto de vista ambiental e econômico ao longo dos anos. Considerando-se um cultivo de grãos como a soja, por exemplo, em uma lavoura durante anos, uma vez que a extração de nutrientes é mantida e a produção de matéria seca que devolveria parte destes nutrientes é baixa (quando comparada a outras culturas), a exigência do adubação é cada vez maior. As pragas e doenças que ocorrem na área repetem-se ano a ano, exigindo assim o aumento do uso de defensivos agrícolas e aumentando o risco de perdas. Já as pastagens, que na maioria das vezes não são adubadas, acabam se degradando. Outro problema está no setor florestal, que além de exigir um alto investimento durante os anos para a manutenção das áreas de produção, na maioria das vezes recebe a sua primeira entrada de capital somente depois de sete ou oito anos de sua implantação. Outras razões que justificam a adoção da ILPF são as novas características do agronegócio, já conhecidas pelos produtores. O aumento do valor da terra e o aumento do valor dos insumos geram um alto custo de produção e há as novas exigências do mercado como a sustentabilidade ambiental e social das propriedades. Por fim, com apenas uma cultura, uma queda nos preços pode levar o produtor à falência. Assim, a adoção do sistema de integração em substituição à monocultura se torna cada vez mais frequente. Além das razões citadas para a implantação da ILPF o sistema proposto gera uma série de soluções e vantagens econômicas e benefícios ambientais. O produtor diversifica sua renda devido à produção de três ou mais produtos de diferentes mercados. Além de não depender mais de apenas um mercado, por exemplo, o do boi, ele pode utilizar a renda de uma atividade para custear a outra. Como exemplo, o capital oriundo da venda de grãos pode custear a compra de animais ou a reforma de pasto. Outra vantagem é o menor custo de produção de cada atividade na integração se comparada com a atividade convencional, pois isto ocorre devido às interações entre os componentes. Os resíduos da adubação realizada no plantio da cultura agrícola podem ser utilizados pela pastagem que crescerá após a colheita ou pelas árvores que estão presentes na mesma área, sendo estas duas mais efetivas na busca por nutrientes. Os resíduos gerados na produção de grãos, como farelo de soja e quirela de milho, são aproveitados na alimentação animal a um custo baixíssimo. A diluição de riscos é outra vantagem econômica estratégica, pois caso os preços de algum produto estejam em baixa, os outros produtos darão o suporte na entrada de capital e na manutenção saudável do fluxo de caixa da propriedade. Os benefícios ambientais ocorrem devido às interações entre os componentes do sistema. As pastagens promovem maior eficiência na ciclagem de nutrientes e na reestruturação de solos compactados, armazenam um maior volume de água e produzem maior quantidade de matéria orgânica devido à morte das raízes e à queda de folhas no pastejo. Já a lavoura acrescenta nutrientes ao solo devido à exigência de adubação, produz alimentos aos animais como grãos, silagem e feno e a venda destes grãos auxilia nos custos de recuperação e reforma das pastagens. Promovem, também, a entrada de capital em curto prazo, auxiliando no fluxo de caixa. As florestas, por sua vez, promovem a incorporação e a redução da perda dos nutrientes por lixiviação devido à serapilheira, diminuem a evapotranspiração das culturas em consórcio melhorando o balanço hídrico do solo, promovem sombra e quebra vento, gerando conforto térmico aos animais e proporcionam uma renda extra com a venda dos produtos oriundos da produção florestal, que podem ser frutos, madeira, borracha e óleos, entre outros. Apesar das soluções econômicas e benefícios ambientais, é necessário que o produtor esteja atento no momento da adoção do sistema de ILPF, pois ele traz várias mudanças à propriedade. O fluxo de caixa se torna mais intenso, são necessárias novas estratégias de comercialização devido aos três mercados diferentes, é necessária mão de obra especializada e, consequentemente, o gerenciamento se torna mais complexo. Estudos de viabilidade técnica e econômica são indispensáveis para garantir que a propriedade comporte o sistema de produção proposto. A integração gera diversos benefícios e vantagens ao produtor, se mostrando uma alternativa viável para driblar os riscos e o mercado incerto do agronegócio. A diversificação leva à melhor sustentabilidade econômica e ambiental, fazendo com que o produtor consiga permanecer no mercado e manter sua produção por longo prazo. Jaqueline Santiago Freitas é graduanda em Engenharia Agronômica, ESALQ/USP. 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