Pequenos proprietários, pequenos produtores?
Quinta-feira, 31 de agosto de 2006 - 11h37
É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.
Em recente artigo publicado pelo Prof. Sebastião Pinheiro Gomes, baseado em pesquisa sobre a atividade leiteira realizada em Minas Gerais, ficou demonstrado a crescente redução da participação de pequenos produtores na produção total de leite naquele Estado.
Este quadro, em maior ou menor escala, ocorre também em outros Estados. Isto é conseqüência do novo perfil assumido pelo agronegócio leite no Brasil, que consistentemente está se voltando para o mercado externo como estratégia fundamental, considerando a abertura de mercados externos e que o acentuado crescimento da produção verificado nos últimos anos não vem sendo acompanhado na mesma proporção pelo aumento do consumo interno. Dentro desta lógica, a permanência de produtores na atividade será balizada pela escala de produção e pela qualidade do leite.
Mas a exclusão sumária de produtores não deve ser encarada como fato natural e irreversível diante das novas tendências do agronegócio leite. Neste País de desempregados e sem-renda, engrossar o quadro dos excluídos é socialmente indesejável e perigoso. Não se trata de querer a qualquer custo viabilizar o inviável. Basta um pouco de reflexão para visualizarmos estratégias que permitam a viabilidade econômica das pequenas unidades de produção na atividade leiteira.
PEQUENOS PROPRIETÁRIOS SÃO PEQUENOS PRODUTORES?
Em primeiro lugar é necessário que uniformizemos alguns conceitos. A expressão - “a produção de leite é uma atividade típica do pequeno produtor”, obviamente está superada. Mas, a meu juízo, a produção de leite continuará sendo uma atividade típica dos pequenos proprietários. Confunde-se pequena propriedade com pequena produção, o que nem sempre é correto.
Recentemente a revista Balde Branco publicou uma reportagem referente a um produtor gaúcho, proprietário de uma área de 22 ha, e dentro dessa pequena propriedade produz 3000 litros de leite por dia. Exemplo típico de pequeno proprietário e grande produtor.
No Rio Grande do Sul, todas as bacias leiteiras importantes estão localizadas em regiões coloniais, onde o tamanho médio das propriedades não ultrapassa 20 ha, e a produção e venda de leite vêm se constituindo, nos últimos 4 anos, na principal atividade econômica do setor primário dessas regiões.
A atividade leiteira se ajusta muito bem às pequenas propriedades geridas pelas famílias, por duas razões principais: ocupa de forma intensiva o único fator de produção abundante nessas empresas – a mão-de-obra familiar; por ser uma atividade intensiva, exige diariamente, e ao longo do ano, atenção e dedicação especiais, providências estas que não são alcançadas com facilidade quando se entrega a administração da leiteria a terceiros (empregados).
A chegada de três grandes indústrias de laticínios, que vem somar-se a outras já em operação na região noroeste do RS, onde ocorre a predominância absoluta das pequenas propriedades, é um forte indicativo do enorme potencial produtivo da região colonial. É claro que para ajustar-se às exigências do agronegócio leite é imperioso que os pequenos proprietários se profissionalizem, a fim de que possam produzir com baixos custos e maximizar a utilização dos recursos produtivos.
Cabe aos órgãos públicos e instituições privadas (sindicatos, cooperativas) acelerar o processo de incorporação de tecnologia pelas pequenas unidades de produção, bem como as instituições de pesquisa analisar ou buscar sistemas de produção sustentáveis, capazes de viabilizar a atividade leiteira nas pequenas propriedades.
Também as práticas de associativismo (pequenas cooperativas de produção, associação de produtores) podem se constituir em importante instrumento capaz de aumentar o potencial de investimentos, diluir custos e melhorar o poder de barganha dos pequenos produtores. Não recomendável é a aceitação tácita de que a exclusão sumária dos pequenos proprietários é um fato consumado e irreversível.
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