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Chorume (ou dejetos?) na fertilização de pastagens


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Sexta-feira, 29 de agosto de 2008 - 14h54


O aproveitamento integral e racional de todos os recursos disponíveis dentro da propriedade rural, com a introdução de novos componentes tecnológicos, aumenta a estabilidade dos sistemas de produção existentes, bem como maximiza a eficiência dos mesmos, reduzindo custos e melhorando a produtividade. A associação dos diversos componentes em sistemas integrados, que preservem o meio ambiente, estabelece o princípio da reciclagem: "o resíduo de um passa a ser insumo de outro sistema produtivo". Nas zonas rurais do Brasil, como conseqüência da criação de animais em confinamento e semiconfinamento, há uma grande produção de dejetos. Este resíduo orgânico, conhecido como chorume, é obtido da água de lavagem de currais, pocilgas e granjas, sendo constituído de fezes, urina, restos de rações e pêlos. A quantidade estimada de produção de esterco de aves e suínos, que em geral são criados em regime de confinamento, é de 93 milhões m3 (produção de 0,1 kg/dia/cabeça) e 175 milhões m3 (utilizando média de produção de 15 litros/dia/cabeça), respectivamente, por ano. Estes dados poderiam ser acrescidos da produção de pelo menos 180 milhões m3 de esterco líquido por ano do rebanho bovino, especialmente do leiteiro, que tem em torno de 21,5 milhões de vacas em lactação e secas (um animal que produz 6 mil litros de leite por ano gera aproximadamente 50 litros de esterco líquido por dia) e apresenta parte de sua produção em regime de confinamento. Se fossem aplicados 10 m3 de esterco de aves e 60 m3 de esterco de suínos ou de bovinos por ha por ano, seria possível aplicar estes produtos como fertilizantes em aproximadamente 15 milhões de hectares em um ano. Estes dados impressionam, mas considerando que ocorre perda de grande parte do dejeto produzido (rachaduras em esterqueiras, transporte, esterqueiras sem revestimento, entre outras), este potencial deixa de ser utilizado. Desta forma, se não forem bem manejados e utilizados, os dejetos podem contribuir para a contaminação da água de três maneiras: a primeira, pelo escoamento superficial após aplicação dos estercos no campo, lixiviação de nutrientes em função de excessivas aplicações, ou nos próprios tanques de armazenamento sem nenhum revestimento; a segunda, pela poluição do ar em função de gases e odores liberados na decomposição do dejeto durante o período de armazenamento e/ou após distribuição no campo; e a terceira, pela poluição do solo causada por aplicações excessivas de certos nutrientes, tendo como conseqüência um desbalanço em determinados elementos e que pode refletir negativamente no crescimento de plantas. Daí o chorume nos últimos anos ter recebido bastante atenção por parte dos governos e da pesquisa. Tal interesse é devido, por um lado, ao alto custo dos fertilizantes químicos que limita o seu uso pelos agricultores familiares, e por outro lado, à pressão social por uma agricultura sustentável, onde a reciclagem de nutrientes dentro da propriedade contribua não somente para a redução dos custos, mas também para a redução da poluição ambiental. Além disso, o uso de dejetos como fertilizante orgânico tem sido feito porque este contém uma série de elementos químicos prontamente disponíveis (Tabela 1) que após o processo de mineralização estarão disponíveis e poderão ser absorvidos pelas plantas da mesma forma que aqueles oriundos de fertilizantes minerais industrializados. Porém, ao contrário dos fertilizantes minerais que possuem uma composição mínima definida para cada condição de cultura e/ou solo, a composição do dejeto é extremamente desbalanceada em relação aos fertilizantes minerais, dependendo da alimentação fornecida aos animais, do manejo da água e das condições de armazenamento, o que dificulta a recomendação de doses padronizadas, dificultando assim, a formação de grupos de fertilizantes orgânicos com um bom conteúdo de nutrientes, e assim, a própria denominação do termo fertilizante para esse tipo de resíduo é questionável. Por isso, aplicações contínuas poderão ocasionar desequilíbrios de nutrientes no solo e a gravidade do problema dependerá do tempo de aplicação, da composição e da quantidade de dejeto aplicado, além do tipo de solo e da capacidade de extração das plantas. RESULTADOS DE PESQUISAS A seguir descreveremos alguns resultados de pesquisas, realizadas nos últimos anos, que atestam os resultados práticos da aplicação de esterco. Veja na figura 1 o resultado da adubação de Brachiaria brizantha cv. Marandu, (braquiarão) com doses crescentes de dejetos de suínos, em pesquisa realizada em Goiás. Houve acréscimos de produção desde a menor dose, em comparação com a testemunha, sem adubação, atingindo incremento de 156% para a matéria seca e 230% para a proteína, na dose de 150 m3/ha. A dose de 100 m3 teve produção semelhante à da adubação química. Os resultados da adubação de 78 hectares de braquiarão com 180 m3/ha de dejetos de suínos, parcelados em seis aplicações anuais, durante cinco anos, mostraram que, a partir do quarto ano, foi possível manter uma lotação de 3,77 U.A. por hectare, em sistema de pastejo intensivo, no período de dezembro de 2001 a maio de 2002 (Figura 2). Observações realizadas em pastagens de capim tanzânia, mombaça e braquiarão, fertirrigadas com dejetos de suínos, mostraram produções de até oito toneladas de matéria seca por hectare por mês. Essas pastagens proporcionaram, em 1999, uma produção em torno de 1.899 kg de peso vivo por hectare, com uma lotação de 5,4 U.A./ha e um ganho em peso de 0,899 kg/animal/dia. No período anterior, (1998) a produção alcançou 1.508 kg de peso vivo por hectare (Figura 3). A economia de fertilizante químico foi acima de 85%, em 1.200 hectares fertirrigados. Como podemos verificar, os benefícios da adubação orgânica são muitos, principalmente em condições de clima tropical e subtropical predominantes nas regiões de pecuária de leite e de corte, no Brasil, onde os solos são pobres e ocorre alta incidência de radiação solar deteriorando a matéria orgânica. Deste modo, o tratamento e a reciclagem dos dejetos (fezes e urina), além de contribuir para redução da poluição do meio ambiente e possibilitar reciclar nutrientes da alimentação animal para produção de biomassa, preservando e melhorando as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, contribuindo assim para a manutenção de sistemas produtivos equilibrados. Além disso, a utilização de dejetos passa a ser cada vez mais importante em função da economia de fertilizantes químicos derivados do petróleo, que são altamente energéticos, caros e não renováveis. Vale ressaltar que produzir de maneira sustentável implica em reduzir custos de produção, e principalmente, evitar desperdícios de energia e de matérias-primas, aumentando a produtividade, a competitividade do capital e da mão de obra. Na próxima edição trataremos de aspectos práticos da utilização de esterco. ricardo dias signoretti é engenheiro agrônomo, doutor em produção animal, pesquisador científico/ apta colina-sp e consultor da coan consultoria.
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