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Scot Consultoria

Ganhos recordes de 2013 não aliviam temores nos EUA


Quinta-feira, 2 de janeiro de 2014 - 09h21

Os agricultores americanos acabam de fechar as contas do melhor ano financeiro que já tiveram e mesmo assim se veem dominados pela ansiedade. A dupla ameaça representada pela queda dos preços dos grãos e pelo recuo do governo americano em sua política para os biocombustíveis vem resultando em alertas de que algumas operações agrícolas poderão ter problemas para atingir o ponto de equilíbrio em 2014, em uma reviravolta amarga depois do ganho nominal recorde de US$131,0 bilhões obtidos em 2013.


Um enfraquecimento da economia agrícola afetará as vendas de fabricantes de equipamentos como John Deere e a AGCO, e também limitará a alta estonteante dos preços de algumas commodities. As cotações menores da safra também poderão forçar Washington a pagar bilhões de dólares em subsídios, conforme delineado na lei agrícola em negociação no Congresso, mesmo que alguns apoios sejam cortados.


Uma grande fonte de preocupação é o fato de os produtores terem obtido uma média de US$4,40 por bushel pelo milho colhido no quarto trimestre de 2013, 36,0% menos que em 2012, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). "O temor agora é que haja uma queda considerável nos preços", diz Mark Recker, que cultiva milho e soja em 567,0 hectares no Estado de Iowa.


Os agricultores de Illinois, coração do cinturão do milho dos EUA, precisam obter US$4,31 por bushel em 2014 para conseguirem ter lucro, segundo a Universidade de Illinois. "São boas as possibilidades de os preços ficarem abaixo do ponto de equilíbrio nos próximos anos", escreveu o professor Gary Schnitney.


Os agricultores americanos colheram o recorde de 355,0 milhões de toneladas de milho em 38,4 milhões de hectares em 2013. Os preços das terras em Estados como Illinois e Iowa subiram 77,0% nos últimos quatro anos, mas economistas dizem que os preços menores dos grãos vão desacelerar ou reverter a tendência.


Outro fator que alimenta temores é a proposta de corte na determinação dos EUA para uso do etanol, que vem sendo um pilar importante da demanda por milho nos últimos cinco anos. Grupos lobistas de agricultores pressionam para que a Casa Branca reconsidere a proposta.


A Universidade Estadual de Iowa estima que os preços do milho cairão R$0,25 de dólar por bushel sob o mandato reduzido do etanol. O governador do Estado, Terry Branstad, esteve em Washington este mês e alertou que, se a proposta for aprovada, poderá haver uma "crise agrícola" ao estilo da ocorrida na década de 1980, quando falências e execuções de hipotecas assolaram o Meio-Oeste americano.


"O momento não é o melhor para esvaziar a demanda no mercado de milho", disse Matt Erickson, economista da American Farm Bureau Federation. A indústria do etanol vai consumir 35,0% da colheita doméstica de 2013, segundo o USDA. O preço médio do milho estava em US$2,00 por bushel antes da proposta de determinação da produção de etanol.


A possibilidade de uma queda nas cotações dos grãos acontece em um momento em que o Congresso se prepara para elaborar os detalhes finais do projeto da nova lei agrícola ("Farm Bill") do país. Se aprovado, ele acabará com os "pagamentos diretos" - subsídios em dinheiro concedidos a agricultores, independentemente de eles estarem plantando.


Mas ele estabeleceria outro benefício chamado "cobertura de perda de preço", em que os contribuintes compensam os agricultores quando os preços das safras ficam abaixo dos limites estabelecidos em lei. A cobertura começaria com cotações abaixo de US$3,70 o bushel para o milho e de US$8,40 o bushel, no casos da soja, segundo uma versão do projeto de lei encaminhado pela Câmara.


"Com a queda dos preços de milho e soja, mais pessoas começam a questionar a sensatez desse apoio elevado aos preços, pois parece que vai custar muito dinheiro", diz Bruce Babcock, professor de economia da Universidade Estadual de Iowa.


A cobertura de perda de preço poderá empurrar a política agrícola dos EUA para a chamada "Caixa Amarela" prevista nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que significa que a ferramenta seria considerada uma distorção comercial. "Isso é um reacoplamento dos subsídios agrícolas às decisões de produção", diz Craig Cox do Environmental Working Group, que se opõe ao plano.


Como as receitas agrícolas aumentaram, o mesmo aconteceu com despesas como a locação de terras, fertilizantes, combustíveis e sementes. Mitch Morehart, um economista do USDA, afirmo que é cedo demais para estimar a renda do próximo ano, uma vez que os preços mais baixos poderão levar agricultores a mudar para culturas que ofereçam retornos melhores ou a deixar terras desocupadas.


Após ajustada à inflação, a renda agrícola líquida de 2013 será a maior desde 1973. Dos US$131,0 bilhões, os pagamentos do governo responderão por US$11,4 bilhões dos rendimentos.

Fonte: Financial Times, de Nova York. Por Gregory Meyer. Traduzido por Mario Zamarin. 2 de janeiro de 2014.



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