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Scot Consultoria

Leite e o estouro da "vacada"!!


Terça-feira, 19 de junho de 2007 - 17h55

Dá para imaginar um “estouro” de vacas leiteiras? Geralmente mansinhas, calminhas, com o úbere cheio, realmente não dá para imaginar um rebanho de vacas leiteiras “estourando”, pelos menos as especializadas. Mas um “estouro” de boiada sim: descontrolado, em velocidade, atropelando tudo, passando por cima... Foi assim que um agente do setor, comprador de leite, classificou o mercado dos meses de abril e maio. Em abril, o mercado já havia surpreendido chegando ao recorde de aumento de preço em apenas um mês, segundo levantamentos da Scot Consultoria. Em maio, nova surpresa – os preços mantiveram alta em proporções acima das esperadas. Na média nacional, o valor bruto pago em maio ao produtor aumentou 7,9%, o que equivale a R$0,04/litro. No acumulado dos últimos dois meses, o aumento médio no preço foi de R$0,076/litro, ou 15%. Em valores corrigidos pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), o preço médio do leite pago aos produtores brasileiros, em maio, foi 3,7% superior comparada à média dos últimos 10 anos. No levantamento da Scot Consultoria, o preço de Goiás ultrapassou o valor pago em São Paulo e em Minas Gerais. É o valor mais alto dentre os Estados pesquisados. No entanto, segundo o engenheiro agrônomo Gustavo Beduschi, pesquisador do Cepea/Esalq (Centro de Estudos e Pesquisas em Economia Aplicada), os paulistas ainda recebem preços melhores; porém os goianos estão “encostando”. Em termos de variações nos preços, a Scot Consultoria e o Cepea registraram valores semelhantes. O Rio Grande do Sul apresentou o maior aumento porcentual nos preços, cerca de 13,35%. Com o aumento de R$0,065/litro, o gaúcho passou a receber R$0,549/litro, em média. Observe os preços e as variações em relação ao mês anterior na tabela 1. Em maio, produção de abril, o produtor brasileiro recebeu R$0,5655/litro, em média. No entanto, a média refere-se ao valor “mix”, ou seja, o valor médio que é pago dentre o total do leite captado pelas indústrias. Há os produtores que recebem mais, por atingirem maiores bonificações de acordo com os critérios de cada empresa. Produtores que recebem os valores mais elevados pelas bonificações atingiram a média nacional de R$0,6532/litro. Nas mesmas condições, os mineiros, goianos e gaúchos chegaram aos inimagináveis - até bem pouco tempo atrás - R$0,70/litro. Logo depois vêm os catarinenses, os paulistas e os paranaenses com os preços mais altos atingindo a média de R$0,68, R$0,67 e R$0,64 por litro, respectivamente. Será que investir em qualidade não compensa? E os aumentos não são apenas para aos produtores. De janeiro a maio, o preço do longa vida no atacado – que as indústrias recebem – subiu R$0,41/litro, alta de 36% no período. Até o início de junho, o varejo não havia conseguido repassar a mesma alta para o consumidor. Em média, o preço do longa vida havia aumentado 25%, ou R$0,33/litro no varejo. As diferenças de preços entre varejo e indústria, que geralmente são de 14%, permaneceram por volta dos 4,65%, níveis próximos aos mais baixos registrados pela Scot Consultoria. O assunto do final de maio era o alto preço do longa vida para o consumidor. Em média, o longa vida era comercializado a R$1,65/litro. As marcas que atingiram preços melhores chegavam a R$1,71/litro, em média, com algumas sendo vendidas a R$1,87/litro. Os preços subiram muito, em pouco tempo. No entanto, o preço atual ao consumidor ainda é cerca de 9% inferior ao que era pago entre os anos 2000 e 2003. Corrigindo o preço pelo IGP-DI, o valor atual do longa vida no varejo ainda está R$0,02/litro abaixo da média dos últimos oito anos. O mercado “spot”, leite comercializado entre as indústrias, também surpreendeu. O valor médio negociado em maio (MG, SP e GO), foi de R$0,77/litro. É o maior preço médio já registrado desde 2002, quando a Scot Consultoria começou a acompanhar este mercado. Tanto em valores nominais como em valores corrigidos pela inflação. Corrigindo a inflação, o preço de maio é 32% superior à média do período. Recorde absoluto! E ainda havia registros de preços em torno de R$0,90/litro. Vários fatores explicam as altas. O mercado internacional está batendo recordes, aquecendo a demanda de matéria-prima para fazer leite em pó; o mercado interno também está aquecido; e, ao mesmo tempo, o volume de captação de leite caiu mais do que o esperado, segundo acompanhamento do Cepea. Com exceção do câmbio, cujo efeito negativo o mercado internacional fez a “gentileza” de neutralizar, todas as variáveis favoreceram as altas nos preços. Para junho, pagamento da produção de maio, as perspectivas são de novos aumentos nos preços aos produtores. É o que acreditam 85% dos entrevistados em maio, enquanto 13% esperam estabilidade nos preços. Com relação ao mercado consumidor, o preço é uma incógnita. Embora os valores do longa vida ainda estejam em patamares inferiores aos históricos, os aumentos repentinos nos preços tendem a gerar reações negativas no consumo. Portanto, a ponta consumidora deve pressionar baixa no mercado. A médio prazo, algo em torno de dois a quatro meses, a preocupação é com relação à resposta do produtor no aumento da oferta. Sabe-se que a combinação de preço alto do leite e custos baixos de concentrados é um potencial atrativo para o aumento repentino de oferta de matéria-prima. Os preços do leite estão aí para animar a todos. Já o mercado dos concentrados, até o início de junho, estava uma bagunça total. De um dia para o outro, o cenário que indicava excedente de milho, tanto dos EUA como no Brasil, mudou totalmente. Até o momento ninguém sabia o que aconteceria com os preços do milho. E na onda do milho, seguiam os demais alimentos concentrados. Evidentemente ninguém tem a resposta de quando a oferta de leite irá se ajustar equilibrando, ou derrubando, os preços. E para que nível as cotações recuarão quando isso ocorrer? Sabedor da característica média do produtor brasileiro, que possui vacas alimentadas bem abaixo do potencial de produção, o produtor profissional deve manter-se atento às “viradas” de mercado, tanto de grãos como de leite. Informação é tudo; gestão é indispensável! - Artigo publicado na revista Balde Branco – edição de junho/2007. Maiores informações: www.baldebranco.com.br
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