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Scot Consultoria

Leite e inflação um balanço do plano real


Terça-feira, 4 de dezembro de 2007 - 17h31

Ao longo de 2007, os preços do leite aumentaram em média R$0,29/litro. Em porcentagem, o aumento para o produtor de janeiro a agosto foi de 62%. Produtores beneficiados com as maiores bonificações receberam em média acima de R$0,90/litro. A menos que os preços para a produção de dezembro caiam drasticamente – pouco provável embora estejam em queda – o ano deverá registrar o preço médio mais alto pago aos produtores desde1998, quando se compara os preços corrigindo-os pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna). Como o mercado “spot” – leite comercializado entre as indústrias – ultrapassou a barreira do R$1,00/litro, produtores com grande escala de produção trabalharam, durante alguns meses, com preços acima de R$1,00/litro. Cenário inesperado até pouco tempo. Para as indústrias, o preço do longa vida aumentou 78% de janeiro a julho. Ao consumidor, os preços subiram 65% de janeiro a agosto (mês de pico). Nesse período, de abril a agosto, o leite foi alvo da mídia, apontado como causador da inflação. De fato, quando se detalha os índices de inflação ao consumidor, o leite realmente “puxou” para cima a inflação durante alguns meses em 2007. No entanto, ao longo dos anos, qual seria a real relação entre leite e a inflação brasileira? Adotando o início do plano Real como base, é possível comparar o que aconteceu com os preços do leite, com os índices de inflação e com os custos de produção nos últimos anos. No caso dos índices de inflação,considerou-se o IGP-DI, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FVG), e o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Os preços do leite foram os do Estado de São Paulo, maior consumidor do país, acompanhados pelo CEPEA (Centro de Estudos e Pesquisas em Economia Agrícola), da ESALQ/USP e pela Scot Consultoria, a partir de 1998. Os índices de inflação nos custos de produção são calculados pela Scot Consultoria, que acompanha, desde 1993, o mercado de insumos para a agropecuária e custos de produção em empresas leiteiras. Pois bem, com base em extenso banco de dados gerado ao longo dos anos, e a partir dos índices técnicos e econômicos de empresas leiteiras, foi possível identificar a evolução da participação dos custos de produção nas empresas. A partir desta evolução e dos preços dos insumos e serviços, a Scot Consultoria estima quanto o custo de produção está subindo, ou descendo, mensalmente. A participação nos custos de produção é atualizada a partir das mudanças de mercado e das mudanças na base de dados à medida que outras empresas recém analisadas vão sendo incorporadas ao universo pesquisado. Observe, na figura 1, a participação dos componentes nos custos da produção leiteira, utilizados para o cálculo do índice de inflação pago pelo produtor de leite. Os componentes de custos foram simplificados, para permitir a padronização do cálculo final. Por exemplo, em maquinários e imobilizados consideramos as manutenções, depreciações e despesas diretas gastas com os bens de capital disponíveis. A evolução dos preços é uma média aritmética entre o IGP-DI, diesel, mão-de-obra, preços de máquinas e serviços. O item que mais subiu foi o custo de produção de leite, sofrendo influência, principalmente, dos insumos agrícolas, diesel e dos salários. No último mês, a recuperação dos preços dos grãos, e conseqüente aumento nos custos da dieta, causou o impacto no aumento dos custos do leite, assunto que foi analisado no informativo A Nata do Leite, edição 117, editado pela Scot Consultoria. Algumas correntes de pensamento são contrárias ao uso do IGP-DI para atualizar preços agrícolas, pois este índice estaria superestimando o efeito da inflação nos custos de produção. No entanto, observe que o custo de produção aumentou 2,5 vezes mais que o IGP-DI no período. Na tabela 1 estão os valores acumulados para os quatro itens comparados na figura 1. Em termos de gerenciamento das empresas leiteiras, a diferença entre a evolução dos preços e dos custos de produção fala por si. A margem se reduz, o produtor precisa agregar tecnologia e ganhar escala de produção, principalmente por unidade de área, pois boa parcela dos custos de produção pode ser classificada como custos fixos ou variáveis. Outro fato que chama a atenção é a relação entre os preços do leite e a inflação medida pelo IPC, assunto explorado pela Scot Consultoria há alguns meses. Observe, na figura 2, que durante a maior parte do período, a evolução do preço do leite esteve abaixo do IPC. Em outras palavras, ao longo de todos estes anos, o leite mais contribuiu com a baixa do que com a elevação da inflação. E mesmo neste ano, com os preços em elevação, o aumento não promoveu efeito que fosse capaz de alterar a tendência da curva de inflação. Veja na figura 2. A repercussão na mídia, portanto, pode ser atribuída mais à especulação a quem ganha com a má imagem da pecuária frente à sociedade. Já a relação preço do leite e custo de produção, reforçando o argumento anterior, é motivo para reflexão e de decisões para os produtores em suas propriedades.
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