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Após casos de resíduos na carne, veterinárias preparam mudanças

Terça-feira, 21 de setembro de 2010 -09h45
Segundo Ihde, da Merial, 80% da ivermectina ingerida é eliminada em dois dias
A indústria veterinária brasileira está se movimentando para amenizar os problemas de resíduos encontrados na carne bovina industrializada exportada pelo Brasil e evitar que a situação respingue também na imagem do setor. As empresas acataram uma "recomendação" do Ministério da Agricultura e farão alterações no rótulo de todos os produtos que exijam prazos de carência antes do abate dos animais.

O prazo dado pelo governo para alteração foi 31 de dezembro. Dessa forma, a partir de 2011 as informações sobre a carência dos produtos ganharão maior destaque nos rótulos, com letras diferenciadas em relação ao restante da bula e localizados na face principal da embalagem.

O assunto ganhou destaque após terem sido identificados resíduos acima do limite de ivermectina - antiparasitário usado no controle de vermes e carrapatos em bovinos - na carne exportada pelo JBS aos EUA em maio. O episódio gerou um recall do produto nos EUA e levou o governo a suspender a venda do produto brasileiro àquele país. Na última quarta-feira, foi a vez de a União Europeia rejeitar um lote de carne industrializada, também exportada pela JBS.

"O que ocorreu nesses casos ainda está em análise. O ministério tem tomado todas as medidas para orientar o produtor", diz Marcos Vinícius Leandro Júnior, coordenador de fiscalização de produtos veterinários do Ministério da Agricultura. Ele lembra que no site (www.agricultura.gov.br) está disponível uma série de publicações com orientações ao produtor.

Para Emílio Salani, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), o problema com os EUA foi um marco. "O assunto resíduo ganhou muito destaque e não é possível operar mais nesse mercado sem pensar na questão de segurança alimentar", diz.

Diante disso, as empresas que desenvolvem produtos à base de ivermectina estão se antecipando e atualizando os relatórios junto ao governo. "Aliado a isso, reunimos a cadeia para tratar do assunto e ficou acertado que a CNA e o CNPC serão responsáveis por treinar os produtores por meio do Senar", afirma Salani.

Para Sebastião Costa Guedes, presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), o trabalho de comunicação precisa ser feito com maior ênfase nos confinamentos. Segundo ele, em muitos casos, os bois recebem a medicação quando chegam, mas são enviados ao abate antes de vencer o prazo de carência dos produtos.

Responsável por descobrir e desenvolver a molécula da ivermectina, a Merial lembra que para um produto com 1% de concentração, o prazo de carência exigido no Brasil é de 35 dias. "Temos testes que apontam que uma carência de 21 dias não deixaria resíduos, mas preferimos manter um prazo maior só por garantia", afirma Alfredo Ihde, presidente da Merial.

Independentemente das ações das empresas e do governo, há quem considere que a barreira imposta pelos americanos tem razões comerciais. O aumento no rigor da fiscalização americana seria uma forma de retaliar o Brasil, depois de os EUA terem sido obrigados a pagar uma indenização aos produtores brasileiros de algodão, após a derrota na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Fonte: Valor Econômico. Por Alexandre Inácio. 20 de setembro de 2010.