De janeiro a julho, o Brasil importou 24,2 milhões de toneladas de adubos e fertilizantes químicos, estabelecendo um recorde para o período, o volume é 8,8% maior que o registrado no mesmo período de 2024. Esse desempenho não era observado desde 2022, até então o maior da série histórica, quando foram importados 23,7 milhões de toneladas.
Figura 1.
Volume de fertilizantes químicos (exceto os brutos*) importados pelo Brasil de janeiro a julho, em milhões de toneladas.
*Fertilizantes brutos: minerais naturais sem beneficiamento industrial.
Fonte: Comex/Elaborado pela Scot Consultoria
O maior volume importado foi em julho, estabelecendo um recorde para o mês, totalizando 4,8 milhões de toneladas. O volume só não superou os meses de agosto e outubro de 2024, quando a importação média foi de 4,9 milhões de toneladas.
Até a quarta semana de agosto, o volume importado foi de 3,9 milhões de toneladas – com uma média diária de 246,1 mil toneladas, aumento de 10,8% frente ao embarcado por dia em agosto de 2024.
Se o volume diário permanecer, agosto de 2025 será o mês de maior volume importado de toda série histórica.
Os principais destinos das importações foram o Paraná (20,2%), Rio Grande do Sul (16,2%), Mato Grosso (12,3%), São Paulo (9,2%), e Santa Catarina (6,9%) (figura 2).
Figura 2.
Participação do destino da importação de adubos ou fertilizantes químicos (exceto os brutos*) por estado (%).
*Fertilizantes brutos: minerais naturais sem beneficiamento industrial.
Fonte: Comex/Elaborado pela Scot Consultoria
A Rússia liderou as exportações de janeiro a julho, com 6,8 milhões de toneladas, 28,2% do total; a China embarcou 5,1 milhões de toneladas, 21,2% do total, e o Canadá, ocupou a terceira posição, com 3,1 milhões de toneladas 12,8% do total.
Figura 3.
Origens dos adubos ou fertilizantes químicos importador (exceto os brutos*) em %.
*Fertilizantes brutos: minerais naturais sem beneficiamento industrial.
Fonte: Comex/Elaborado pela Scot Consultoria
Até julho, o Brasil desembolsara US$8,1 bilhões com a importação, valor 19,7% maior que o registrado no mesmo período de 2024, e a tendência é de que os gastos continuem subindo.
A dependência do Brasil em relação à Rússia é um risco no contexto atual. O secretário-geral da Otan, com apoio dos Estados Unidos, sinalizou a possibilidade de impor sanções secundárias a países que mantêm relações comerciais com os russos. Caso isso ocorra, o Brasil teria de buscar outros fornecedores, provavelmente com preços mais caros, o que agravaria o cenário atual.
Além disso, fatores globais também pressionam o mercado, fábricas no Egito interromperam a produção de ureia; no Irã, a atividade foi reduzida devido à guerra; na Rússia, unidades pararam para manutenção ou foram afetadas pelos conflitos, e a China restringiu a oferta.
Essa menor disponibilidade, fez com que compras fossem antecipadas, elevando os preços.
Figura 4.
Cotações médias dos principais fertilizantes nos últimos meses, sem considerar o frete, em reais por tonelada.
*até a primeira quinzena
Fonte: Scot Consultoria
Do início do ano até a primeira quinzena de agosto, a cotação do sulfato de amônio subiu 43,1%, a ureia 32,9%, o cloreto de potássio granulado 23,1% e o MAP granulado 23,6%.
Os preços devem continuar subindo, impulsionados pela instabilidade política, oferta restrita e preparação para a safra de verão.
Tradicionalmente, as importações se intensificam no segundo semestre, acompanhando a demanda para a semeadura da soja e da primeira safra de milho, o que, sustenta as cotações em patamares mais elevados.
Figura 5.
Evolução semestre a semestre da quantidade importado de adubos ou fertilizantes químicos (exceto os brutos*), em milhões de toneladas, e sua variação entre o segundo e o primeiro semestre de cada ano.
*Fertilizantes brutos: minerais naturais sem beneficiamento industrial.
Fonte: Comex/Elaborado pela Scot Consultoria
Diante desse panorama, a preocupação recai sobre a relação de troca com fertilizantes x produtos agrícolas. No entanto, ao analisar os preços da primeira quinzena de agosto, a relação de troca com as principais commodities (milho e soja), manteve-se positiva tanto na comparação feita mês a mês e na comparação feita ano a ano, com exceção dos nitrogenados, cuja relação de troca piorou.
Figura 6.
Quantidade de sacas de soja (60 kg) necessárias para aquisição de uma tonelada de fertilizantes em Paranaguá–PR*.
*Preços apurados até 15 de agosto.
Fonte: Scot Consultoria
Figura 7.
Quantidade de sacas de milho (60 kg) necessárias para aquisição de uma tonelada de fertilizantes em Campinas–SP*.
*Preços apurados até 15 de agosto
Fonte: Scot Consultoria
Vale destacar que, apesar do panorama preocupante e dos preços elevados dos insumos, a situação poderia ser ainda mais desafiadora. Em agosto, o dólar atingiu o menor nível de 2025, se a moeda estivesse nos patamares mais elevados como dos últimos meses, os custos seriam maiores.
Figura 8.
Média mensal da cotação do dólar.
*Até 22 de agosto
Fonte: BCB (Banco Central do Brasil) / Elaborado pela Scot Consultoria
No curto prazo, o mercado de fertilizantes deve se manter aquecido, com preços pressionados, além das restrições globais na oferta e instabilidades políticas.