O Confina Brasil encerrou, em 25 de julho, a Rota 2, que percorreu propriedades no Norte do Tocantins, Pará e no Vale do Araguaia, entre Mato Grosso e Goiás. A região apresenta diferentes realidades climáticas: enquanto áreas como o Vale do Araguaia têm um período seco bem definido, no Pará as chuvas são mais regulares ao longo do ano, garantindo pastagens verdes por mais tempo. Em ambos os casos, os confinamentos adaptam suas estratégias de manejo às características locais, explorando o período seco para intensificar a terminação e, nas águas, investindo no controle de lama e no cuidado com a estrutura de currais.
Produtores, gerentes e diretores compartilharam dados e estratégias com a equipe da Scot Consultoria, que mapeia a pecuária de corte no Brasil. As informações farão parte de um benchmarking nacional previsto para o fim de 2025, destacando tendências como o avanço tecnológico, a eficiência produtiva, a adoção de práticas sustentáveis e a geração de valor para toda a cadeia da carne.
Foto: Bela Magrela
O Tocantins foi o ponto de partida da Rota 2 e reflete as diferentes realidades da pecuária brasileira. De um lado, grandes grupos corporativos com operações de confinamento em larga escala; do outro, fazendas familiares que buscam profissionalizar e aprimorar suas práticas tradicionais. Ao todo, seis fazendas foram visitadas na região, evidenciando a diversidade de modelos produtivos da região.
Em muitas delas, o confinamento vai além da terminação, sendo usado também para sequestro/resgate e preparo de fêmeas para reprodução, melhorando a condição corporal e a eficiência reprodutiva. Em alguns casos, novilhas chegam a representar até 98% da ocupação, estratégia voltada a atender exigências específicas de frigoríficos e aproveitar programas de bonificação por qualidade.
Um dos destaques do estado é a Fazenda Bacaba do grupo Agrojem, referência na produção de carne em Miranorte (TO), combina tecnologia e integração lavoura-pecuária para ganhar autonomia e eficiência. Com o sistema Batch Box, otimizou a logística interna, reduzindo o tempo de abastecimento do vagão misturador e acelerando a rotina de cocho. A ILP garante o uso complementar das áreas e contribui para maior produtividade e estabilidade na produção.
Foto: Bela Magrela
Curionópolis, Sapucaia, Rio Maria, Pau D’Arco, Santa Maria das Barreiras e Santana do Araguaia foram algumas das cidades pelas quais a expedição fez sua rota em 2025. Os municípios fazem parte da mesorregião Sudeste Paraense e se distribuem principalmente na microrregião de Redenção, que abrange cidades localizadas ao sul do Pará, próximas à divisa com o Tocantins. Essa área é conhecida por atividades de pecuária de corte, agricultura e mineração.
O Pará é líder nacional na exportação de gado em pé, respondendo por 64,7% do volume embarcado pelo Brasil entre janeiro e julho deste ano, segundo dados da Comex.
A relevância na comercialização reflete também a transformação pela qual a pecuária paraense vem passando, onde a modernização da gestão é cada vez mais perceptível.
Na Fazenda Santa Olímpia (Santana do Araguaia), a padronização de processos e a busca por melhoria contínua são pilares da operação. Na Fazenda Santa Lúcia (Curionópolis), a rastreabilidade individual é feita com microchips desde o nascimento, acompanhada por um software próprio. Já o Confinamento JP (Rio Maria) além da adoção de um sistema próprio de gestão e análise de dados, a propriedade buscou agregar ainda mais valor à sua mercadoria investindo na linha premium Bella Black, direcionada a nichos de mercado mais exigentes, e reforçando a estratégia de diferenciar a produção do estado.
Outra característica marcante do estado é o clima. Com chuvas regulares e bem distribuídas na maior parte do ano, é um cenário favorável para a adoção de sistemas intensivos à pasto, estratégias como a Recria Intensiva a Pasto (RIP) e a Terminação Intensiva a Pasto (TIP), que aproveitam os recursos forrageiros disponíveis para elevar produtividade e eficiência.
Foto: Bela Magrela
No lado mato-grossense, a eficiência é meta clara. A região vem atraindo cada vez mais investimentos de grandes grupos dos setores sucroenergético, logístico e financeiro. Esses investidores aportam não apenas capital, mas também uma mentalidade orientada por dados, planejamento e foco no retorno sobre o investimento. O resultado é uma gestão de fazendas mais estratégica, com atenção redobrada à eficiência e ao desempenho financeiro.
A Fazenda Roncador é um exemplo marcante na pecuária local: 100% das áreas agrícolas são integradas à pecuária, e todos os animais passam parte do período seco em áreas de ILP, migrando depois para suplementação com feno. O confinamento é multifuncional, usado tanto na engorda quanto estrategicamente na recria intensiva e no sequestro de categorias mais jovens.
A propriedade também mantém um trabalho diferenciado com a raça Asturiana de Los Valles, originária da região das Astúrias, no norte da Espanha, conhecida por produzir carne macia e mais magra para nichos específicos de mercado. Embora não seja a atividade principal, reforça a estratégia de diversificação e a busca por agregação de valor ao produto final.
A produção enfrenta ainda desafios naturais, especialmente onde a pecuária convive com áreas preservadas dos biomas Amazônia e Pantanal. Localizada entre o Parque do Xingu e as planícies do Rio Araguaia, importante área de ocorrência da onça-pintada, a Fazenda Roncador ostenta o selo Jaguar Friendly, iniciativa pioneira do Instituto Onça-Pintada (IOP) que certifica propriedades comprometidas com a conservação dessa espécie.
A região também abriga operações tecnológicas como a Agrogerações, que utiliza sistemas de monitoramento como o CattleView (Nutron) para controle de desempenho dos lotes e manejo de precisão. Assim como no lado goiano, a ILP é protagonista, adaptando-se ao solo arenoso e ao clima mais seco, garantindo diversificação, melhor uso dos recursos e maior rentabilidade.
Foto: Bela Magrela
O lado goiano abriga alguns dos maiores confinamentos do país, com unidades que superam a capacidade estática de 70 mil animais. Nessas operações, gestão através de dados, melhoramento genético e infraestrutura robusta são apenas alguns dos pilares para manter eficiência.
Nas Fazendas Conforto e Grande Lago, duas gigantes da pecuária, a floculação do milho é um dos destaques. A floculação do grão (steam flaking) é uma técnica de processamento físico muito utilizada na pecuária de corte para aumentar a digestibilidade do amido, principalmente em dietas de confinamentos norte-americanos, localizados em grandes regiões produtoras como “Corn Belt”.
O processo envolve o cozimento do grão em alta temperatura e pressão, rompendo a estrutura do amido e aumentando sua disponibilidade no rúmen. Isso melhora a digestibilidade e a absorção de energia, permitindo melhor conversão alimentar.
Na Fazenda Conforto também foi evidenciada uma atenção especial à qualidade da água. Para garantir bons índices de desempenho, parte do confinamento é abastecida por uma estação de tratamento de água construída recentemente. Em um teste conduzido pela equipe técnica da própria fazenda, acompanhado pelo Confina Brasil, a turbidez da água tratada foi de 0,0, esse parâmetro é fundamental na avaliação da qualidade de água, indicando um nível de pureza ideal para o consumo dos animais.
A sustentabilidade na região também ganhou um novo significado: lucratividade. Projetos inovadores têm transformado os dejetos do confinamento, antes vistos como passivos ambientais, em fertilizantes organominerais comercializáveis, como foi o caso dos Biofertilizantes Conforto. Essa prática exemplifica a economia circular ao reaproveitar resíduos, promovendo benefícios econômicos e ambientais dentro da cadeia produtiva. Vale destacar que 100% das propriedades visitadas realizam a coleta e o aproveitamento dos dejetos, destinando-os a lavoura ou pastagem. Além disso, mais de 60% dos confinamentos visitados praticam integração lavoura-pecuária.
O Vale do Araguaia, na porção goiana, abrange municípios como São Miguel do Araguaia, Aruanã, Nova Crixás, Mozarlândia e parte de regiões próximas à divisa com o Mato Grosso. Mesmo com solos arenosos e clima seco em parte do Vale a agricultura tem avançado significativamente, principalmente graças à ILP e ao uso eficiente de sistemas de irrigação.
Foto: Bela Magrela
Essa rota do Confina Brasil mostrou que, independentemente de clima, relevo ou modelo de produção, a pecuária brasileira segue se reinventando. De grandes corporações com tecnologia de ponta a fazendas familiares em busca de profissionalização, a combinação entre gestão estratégica, inovação e práticas sustentáveis está moldando uma nova realidade no campo. O resultado é uma atividade mais eficiente, competitiva e alinhada às demandas do mercado, um caminho que segue consolidando o Brasil como referência mundial na produção de carne bovina.
Acompanhe os próximos passos da expedição pelo site oficial da Scot Consultoria e pelas redes sociais da pesquisa-expedicionária:
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