Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Carta Boi - “Bye-bye American dream?”: um olhar para o mercado do boi além dos Estados Unidos

por Felipe Fabbri
01/08/2025 - 18:30


A exportação de carne bovina in natura em 2025 está firme.

O volume exportado no primeiro semestre foi o maior da história e esteve aquecido em julho até a terceira semana do mês (dados parciais). Veja na figura 1 o volume exportado nos primeiros semestres.  

Figura 1.
Exportação de carne bovina in natura, em mil toneladas, nos primeiros semestres.

Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria

Em 2025, China (49,1%), Estados Unidos (12,2%), Chile (4,5%), México (4,0%) e Rússia (2,8%) foram os principais destinos da carne bovina brasileira.

Em julho, o governo dos Estados Unidos anunciou tarifa de 50% ao Brasil, cujo início da imposição à carne bovina brasileira foi confirmado em 30 de julho e a medida passará a valer a partir de 6 de agosto.

O mercado do boi gordo, com uma oferta confortável e do noticiário negativo, sofreu e, as cotações em todas as trinta e duas praças monitoradas pela Scot Consultoria, caíram.

Tabela 1.
Cotação da arroba do boi gordo (R$/@), livre de impostos e à vista, em diferentes praças pecuárias. 


Fonte: Scot Consultoria

Perder um mercado relevante em volume e faturamento, é um baque. Mas, será que a notícia muda o curso do mercado no segundo semestre?

A exportação de carne bovina cresce no segundo semestre

Em julho, até a quarta semana, a exportação brasileira de carne bovina não sentiu o tarifaço.

O Brasil exportou 243,9 mil toneladas de carne bovina in natura, consolidando este ano como o de melhor julho da história e, considerando que em 2024 foram 23 dias úteis analisados e, em 2025, até o momento, 19 dias... mantida a média diária atual - 12,9 mil toneladas - com o potencial de ser o melhor mês para a exportação em nossa história.

Mas o movimento em julho traz à tona um dado favorável e menos "turvo", frente aos noticiários sobre a exportação de carne.

Considerando os últimos 20, 15 e 5 anos, a exportação de carne bovina in natura cresceu em volume, preço e faturamento no segundo semestre, em relação ao primeiro.

Veja na tabela 2.

Tabela 2.
Comportamento da exportação de carne bovina in natura no segundo semestre, em relação ao primeiro.


Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria

Então, é de se considerar que a perda do mercado norte-americano, por mais que se trate de um mercado forte e, bom pagador, talvez não mude o desempenho no restante do ano.

Para tanto, realizamos simulações e estimativas referente aos impactos no volume.

Em 2024, o Brasil, no segundo semestre - em volume de carne bovina in natura - exportou 23,6% mais que no primeiro semestre - ou 268,6 mil toneladas a mais.

No segundo semestre de 2024, os Estados Unidos compraram 121,7 mil toneladas de carne bovina in natura - 80,2% mais que no primeiro semestre daquele ano. Em 2025, no primeiro semestre, comprou 156,5 mil.

A partir destas informações, simulamos três cenários para a exportação no segundo semestre:

1 - Crescimento da exportação no segundo semestre de 2025 na mesma intensidade que o crescimento ocorrido em 2024 (23,6%);

2 - Expectativa da exportação em (1), subtraída de todo o volume exportado pelo Brasil aos Estados Unidos em 2024, no segundo semestre (121,7 mil toneladas);

3 - Crescimento da exportação no segundo semestre de 2025 em ritmo semelhante ao do pior ano de crescimento do volume nos últimos cinco anos - 2021 (12%), subtraído do volume exportado aos Estados Unidos no primeiro semestre de 2024.

Mantivemos os dados de exportação para Estados Unidos considerando o volume realizado em 2024, no segundo semestre, por considerá-lo volume já realizado e com potencial, considerando o primeiro semestre e momento do mercado norte-americano, para se repetir em 2025.

Em todos os casos (1, 2 e 3) a exportação tem potencial para, no segundo semestre, ser melhor que no primeiro semestre - independentemente da perda dos Estados Unidos e de uma retração de crescimento de 23,6%, ocorrida em 2024, para 12%, como a ocorrida em 2021. Veja na figura 1.

Figura 1.
Exportação de carne bovina in natura, por semestre, e estimativa para o segundo semestre de 2025.


Fonte: Secex / Scot Consultoria

Para encerrar a pauta exportação e abordarmos o mercado do boi gordo, destacamos uma última informação:

Em 2024, no primeiro semestre, 119 países compraram carne bovina in natura do Brasil. Desses, 52,9% deles aumentaram o volume de compras no segundo semestre, em relação ao primeiro (figura 2).

No segundo semestre de 2024, outros 10 países compraram carne bovina do Brasil - além dos que já figuravam na primeira metade do ano. Dos dez maiores compradores no primeiro semestre de 2024, apenas dois diminuíram o volume das compras.

Figura 2.
Movimento dos compradores de carne bovina brasileira no segundo semestre de 2024.


Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria

Ou seja, a exportação está com bons fundamentos para a demanda e deve ser fator de sustentação da cotação da arroba do boi gordo - se não tivermos novidade pelo caminho (vide China e a investigação de salvaguarda).

Demanda, participação das fêmeas e a cotação do boi

Além da demanda, do lado da oferta, há um ponto relevante para considerar: a participação de fêmeas no abate de bovinos na segunda metade do ano.

Considerando a participação mensal das fêmeas nos abates entre 2014 e 2024 e a cotação real (deflacionada pelo IGP-DI) nesse período, o preço sobe no último terço do ano.

Figura 3.
Preços reais do boi gordo (R$/@), na linha, e a participação (%) de machos e fêmeas nos abates, nas barras (2014-2024).

Fonte: IBGE / Scot Consultoria / Elaboração: Scot Consultoria

O período marca a seleção e o preparo das fêmeas para a estação de monta do ano vigente. E, em 2025, o preço dos bezerros - e margem da operação -, encontra-se melhor do que em 2024 e 2023, o que pode estimular a retenção de fêmeas e tornar a oferta um fator de sustentação.

Além disso, no mercado interno, indicadores macroeconômicos, como a taxa (%) de desocupação e o rendimento médio (R$) per capita (figura 5), somado a uma diminuição de encargos tributários à população no segundo semestre, indicam trajetória positiva para o mercado interno de carne bovina.

Figura 4.
Taxa de desocupação (%), no eixo da esquerda, e rendimento (R$) médio per capita, no eixo da direita, no Brasil.


Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria

Em resumo, o mercado do boi gordo, em seus fundamentos para os próximos meses, vai além da exportação de carne bovina aos Estados Unidos. E, o quadro em pintura neste momento, é promissor.