Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro.
As commodities, o dólar e a safra (entende-se, a produção agrícola), desempenham papéis importantes no agronegócio brasileiro e na própria economia do país. O agronegócio brasileiro é sensível a esses três fatores, e o equilíbrio entre eles define a saúde econômica do setor.
Por exemplo, de 2005 a 2011 a economia brasileira cresceu relativamente bem e um dos fatores que ajudaram nesse crescimento foi o constante aumento internacional dos preços das commodities, tanto as agrícolas, como as não agrícolas, como o minério de ferro. A partir de 2012, a economia brasileira começou a desacelerar e, por coincidência (ou não), os preços internacionais das commodities começaram a cair a partir desse ano também. É claro que existem diversos outros fatores econômicos que permeiam essa discussão.
Agora, pensando nas commodities, como elas afetam o agro brasileiro?
Podemos olhar por duas perspectivas:
Primeiro:
Em uma avaliação própria, entendo que a cotação das commodities em alta favorece o cenário exportador do Brasil, fortalecendo a economia interna. Com a economia interna aquecida, o consumo pela população por produtos agrícolas tende a crescer.
Mas esse cenário também pode se inverter: commodities com a cotação em alta indicam maior repasse aos consumidores de maneira global, e consequentemente maior inflação global. Nesse sentido, bancos centrais aumentam taxas de juros, que tendem a reduzir o consumo e consequentemente os bens do agronegócio são menos consumidos.
O primeiro cenário tem uma força muito maior do que o segundo cenário.
Segundo:
É simples: Preços de commodities em alta favorecem o agronegócio do Brasil, simplesmente pelos preços em alta. Aumenta a rentabilidade dos produtores e estimula investimentos em tecnologia e expansão de área plantada. E o contrário é verdadeiro: cotação das commodities em baixa reduzem a margem de lucro e levam a menor investimento e ao endividamento dos produtores.
Mas e os insumos, por exemplo, o diesel, o gás para fabricar a ureia, os insumos utilizados para fabricar defensivos agrícolas etc., quando as commodities estão em alta?
Comentaremos, a seguir
As commodities brasileiras são precificadas em dólares. A desvalorização do real permite que os produtores brasileiros vendam a preços mais altos em reais, o que melhora a rentabilidade. Basicamente, os produtores vendem em dólar, mas gastam em reais.
Uma desvalorização acelerada do real impulsiona uma expansão da produção e das exportações agrícolas brasileiras.
Por outro lado, insumos agrícolas, como fertilizantes, defensivos agrícolas etc., são importados, e a desvalorização também aumenta os custos de produção para os agricultores brasileiros, elevando o preço efetivo dos insumos importados, que são cotados em dólares.
Mesmo assim, segundo um estudo realizado pelo Serviço de Pesquisa Econômica do USDA, a rentabilidade resultante do dólar mais elevado é maior do que os custos dos insumos que aumentam por causa do dólar. Veja a imagem abaixo:
Fonte: USDA
Observe a soja, por exemplo. Os custos aumentam em 2%, mas a rentabilidade aumenta quase 13%. A cana-de-açúcar, por outro lado, fica quase em um impasse. Nesse sentido, a soja e o trigo são as duas commodities em que o Brasil mais se beneficia com a depreciação do real, (claro que no trigo, o benefício não é tanto, já que também somos grandes importadores, e por isso, também gastamos em dólares para trazer o produto ao Brasil).
Caso o contrário venha a acontecer (o fortalecimento do real frente ao dólar), o valor das exportações é reduzido em reais e o volume exportado poderia diminuir. Ressalto que, ao longo de anos, o real SEMPRE se desvalorizou frente ao dólar.
Um artigo do USDA relata que uma rápida desvalorização do real poderia aumentar as exportações do agronegócio brasileiro em até 5,6% acima das projeções até 2028.
Dessa forma, podemos observar que a adoção de diferentes modos da política macroeconômica do Brasil (governos que façam o real se desvalorizar ou valorizar) podem afetar o mercado global agrícola, através da maior/menor exportação.
Safras:
Sobre safras, o cenário é mais simples:
O volume da safra brasileira influencia a oferta interna e os preços. Por exemplo, uma boa safra aumenta a disponibilidade de grãos para exportação e uma safra ruim reduz a oferta, que pode diminuir o volume exportado.
Concluindo:
Um cenário ideal para o agro brasileiro: Dólar alto, preços altos das commodities e safra recorde.
Um cenário desfavorável para o agro brasileiro: Dólar baixo, preços em queda e safra ruim.
Exemplos recentes:
2020 a 2022: Dólar alto, commodities em alta (pós-pandemia e guerra na Ucrânia) = lucros recordes
2023-2024: Queda parcial no preço das commodities + dólar mais estável + safra grande = menor crescimento, mas ainda com forte exportação.