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Produção rural sob pressão e produzindo bem

por Alcides Torres e Eduardo Abe
Segunda-feira, 19 de setembro de 2022 -17h30


Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 12/9/2022.


Mundo


O mundo está fragilizado. Está evidente o esforço global para a recuperação, para sanar, os efeitos causados pela pandemia de covid-19. Apesar da imunização através de vacinas ser uma realidade, surtos da gripe ainda causam o fechamento (lockdown) de importantes cidades chinesas.


Mas nada está tão ruim que não possa ser piorado. Desde fevereiro, eclodiu uma guerra entre Rússia e Ucrânia que não apresenta sinais de desfecho. Recentemente, em retaliação às sanções impostas pelo Ocidente, buscando forçar o fim do conflito, a Rússia reduziu o fornecimento de gás para a Europa Ocidental e, recentemente, o suspendeu totalmente para a Alemanha, gerando uma crise energética no bloco europeu e que contaminou o mundo.


Esses acontecimentos provocaram alta generalizada da inflação e, visando contê-la, os países estão aumentando as taxas de juros, motivo de apreensão pois desacelera a economia e aumenta o desemprego.


Além disso, em diversas regiões da América do Norte e Ásia, o fenômeno climático La Niña tem causado seca e zonas de calor recordes, reduzindo a expectativa de produção em importantes produtores agrícolas como os Estados Unidos e China. Na Europa, temperaturas extremas e a seca têm sido causadas por ventos advindos do deserto do Saara.


Brasil


De acordo com o boletim Focus de 5 de setembro, a projeção para a inflação esse ano está em 6,61%. Visando controlar essa inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) vem aumentado a taxa básica de juros (Selic) desde maio de 2021. Atualmente a taxa está em 13,75%.


O agronegócio, em meio aos acontecimentos mundiais apresentados, está com bom desempenho. Para as safras de grãos de 2021/22 e 2022/23, a Conab prevê recordes de produção de 271,5 e 308 milhões de toneladas, respectivamente (figura 1). 


Figura 1.
Produção brasileira de grãos dos últimos 10 anos e expectativa para as safras 2021/22 e 2022/23.

*expectativa
Fonte: Conab


Os números da produção animal brasileira, por sua vez, estão melhorando. Destaca-se a exportação de carne bovina e suína que em agosto foi recorde. Foram exportados 203,2 mil toneladas de carne bovina e 106 mil toneladas de carne suína. Recordes.


Será sempre assim?


O agronegócio representa 27,4% do Produto Interno Bruto (PIB), uma parcela significativa, mas bons projetos e investimentos são necessários para manter e aumentar a produtividade e a qualidade dos alimentos e das fibras.


Políticas que facilitam o acesso da população à educação são essenciais para a formação de mão de obra especializada necessária para evolução do agronegócio, além de aumentar a renda da população consumidora.


Para reduzir e racionalizar o tempo de escoamento da produção e reduzir as perdas relacionadas ao transporte no agronegócio, deve haver investimentos em logística. Rodovias e ferrovias, principais meios de transporte para escoamento terrestre, precisam de novas rotas e manutenção das existentes. Melhorias em portos e malhas ferroviárias facilitariam o escoamento da produção para o mercado externo.


A exportação está concentrada em poucos mercados e o risco de depender de poucos países é evidente. Será preciso aumentar a quantidade de parceiros comerciais, diversificar mercados. Isso é mais dramático quando a dependência é de mercados cujos governos são totalitários.


Devido aos efeitos adversos do clima, pautas ambientais estão em alta e as exigências para exportação estão mais rígidas, principalmente de commodities. Projetos de pesquisa, controle e conscientização sobre como a ação humana impacta o ambiente e como reduzi-lo devem estar entre as prioridades.


Bons estadistas, com bons projetos, são essenciais para o desenvolvimento integral do país e são peças-chave para o Brasil se firmar como produtor e fornecedor de alimentos do mundo. Aí será sempre assim.