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O intelectual que o Brasil produz

por Fabio Lucheta Isaac
Terça-feira, 22 de novembro de 2005 -11h59
No dia 22 de novembro, um mestrando em política científica e tecnologia na Unicamp fez um comentário no painel do leitor do da Folha de São Paulo, louvando a iniciativa da parceria feita entra a USP (Universidade de São Paulo) e o MST (Movimento dos Sem Terra).

O comentário evidencia o pouco conhecimento dos profissionais formadores de opinião com relação ao campo.

Categoricamente, com a autoridade do título que almeja, o leitor afirma que um grande intelectual (referindo-se ao ex-ministro Paulo Renato Souza) "sabe que a ciência que vale para o agronegócio não é a mesma que vale para os sem-terra."

Segundo o leitor, os sem terra não usam a tecnologia baseada na busca de eficiência, como os outros do agronegócio, o que justifica sua tese de que a produção científica do setor agropecuário não atenderia às necessidades dos menores e dos sem-terra.

Infelizmente, por simples desconhecimento, o leitor ignora que é justamente essa eficiência tecnológica que pode gerar mais empregos, mais bem estar aos trabalhadores do campo, maior segurança alimentar ao consumidor e, por incrível que pareça, maior preservação ambiental. Qualquer produtor - independente de tamanho, região e nível cultural - que esteja na terra com o objetivo de produzir se beneficiará das tecnologias desenvolvidas para agronegócio.

Aliás, não existe diferença entre pequeno agricultor e agronegócio. Todos estão no agronegócio. O MST talvez não, pois os objetivos deles não são a produção
agropecuária; são outros.

Não se deve culpar o leitor pela sua falta de conhecimento, afinal não é em ciências agrárias que o mesmo está se especializando; mas em política científica e tecnológica.
O lamentável é que instituições como a Unicamp possam produzir profissionais de alta graduação, que voltarão para a sociedade carregando uma pesada bagagem de preconceito com relação a um setor que há muito está mudado

Pode descer uma epopéia de argumentos e fatos históricos sobre o campo; mas uma "visitinha" à realidade das empresas modernas, à pequena agricultura empresarial (procure a Embrapa) e à grande maioria dos acampamentos dos sem terra vale mais que qualquer conhecimento acadêmico. Quando se trata de opinar sobre um assunto que não conhece, e que não se preparou para tal, um pouco de conhecimento faz bem.

É por tal postura dogmática, de grande parte da sociedade intelectualizada, que a política brasileira segue sofrendo com a inépcia administrativa, com os erros grosseiros e com os exagerados desperdícios de recursos públicos. É gente que não entende, com postura de sábio.

Os profissionais que saem de uma Universidade deveriam voltar à sociedade com o mínimo de espírito investigativo, com capacidade para pensar e contribuir.

Sair de lá, com uma opinião formada e baseada em paradigmas criados ao longo da história brasileira, de nada serve ao povo brasileiro. Mais desperdício de recursos públicos!!! Uma pena, uma sina de um país pobre. (MPN)