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Biofertilizante: alternativa para uma agricultura sustentável

por Guilherme Ibelli
Terça-feira, 4 de maio de 2021 -11h50


Introdução


No nosso último artigo, abordamos a respeito dos benefícios dos biodigestores e da geração de energia com sua utilização.


Neste artigo, apresentaremos informações gerais e econômicas relacionadas a outro subproduto dos biodigestores: o biofertilizante.


O que é um biofertilizante?


O biofertilizante é um coproduto do processo da biodigestão, que contém organismos e nutrientes (micro e macro).


O efluente produzido no biodigestor tem potencial de utilização como adubo orgânico e pode ser utilizado para irrigação em culturas anuais ou perenes, em sistemas de produção convencionais ou orgânicos.


A parte sólida do biofertilizante pode ser usada em compostagem e consumida como fertilizante.


Por ser um produto resultado de fermentação, com a participação de diversos microrganismos, pode ter efeitos fito hormonal, fungicida, bacteriológico, nematicida e acaricida.


Biomassa


A biomassa produzida em uma granja de suínos ou em um confinamento de bovinos, por exemplo, é composta por água extravasada de bebedouros, resíduos de ração, poeira das instalações, urina e fezes. Observe na tabela 1 a produção de dejetos de suínos e de bovinos de corte em diferentes fases.


Tabela 1. Produção de dejetos de suínos e bovinos de corte em diferentes fases.



Fonte: Adaptado de Takitane (2001) e Lorimor e Powers (2004), elaborado pela Scot Consultoria.


Tagnelli (2007) determinou a composição média de biofertilizante e resíduos orgânicos para diferentes tipos de dejetos.


A composição do biofertilizante de dejetos de suínos foi de 1,8 a 2,5% de N; 1,2 a 2,0% de P e 0,8 a 1,5% de K e a de bovinos foi de 1,5 a 1,8% de N; 1,1-2,2% de P e 0,8 a 1,2 de K. Veja na tabela 2 a composição química média (%) de resíduos líquidos não decompostos e resíduos submetidos à fermentação, produzidos por diferentes espécies animais.


Tabela 2. Composição química média (%) de resíduos líquidos não decompostos e submetidos à fermentação anaeróbia (biofertilizante) produzidos por diferentes animais.



Fonte: Tanganelli (2007), elaborado pela Scot Consultoria. 


Economia e sustentabilidade


Como exemplo, suínos em fase de terminação com peso entre 25 e 100 kg produzem 6,10 l. dia-1 de dejetos e bovinos, também em fase de terminação, com peso médio de 340,20 kg produzem 17 l.  dia-1, em média.


Dessa maneira, pode-se estimar que uma granja com 2,3 mil suínos em terminação produza aproximadamente 13,80 m³ de dejetos por dia e 5.037,00 m³ de dejetos por ano. Já em um confinamento com 1,5 mil cabeças de gado na mesma fase, produza algo próximo a 25,50 m3 de dejetos diariamente e 9.307,50 m3 anualmente.


Para suínos, as contas foram feitas com base nas análises do Laboratório de Fertilizantes e Corretivos da Faculdade de Ciência Agronômicas (Unesp, Campus de Botucatu-SP), onde amostras do biofertilizante apresentaram as seguintes concentrações de macronutrientes: nitrogênio (0,91 g.l-1), fósforo (0,33 g.l-1) e potássio (0,30 g.l-1).


Já para bovinos, utilizou-se a porcentagem apresentada na tabela 2, ou seja, em 17 l. dia-1 do biofertilizante, temos as seguintes concentrações de macronutrientes: nitrogênio (0,31 g.l-1), fósforo (0,38 g.l-1) e potássio (0,21 g.l-1).


No entanto, podemos estimar o benefício econômico da produção de biofertilizante de acordo com a quantidade de macronutrientes presente no efluente do biodigestor em função dos preços médios dos nutrientes (tabela 3).


Tabela 3. Lucratividade gerada em um ano, através do uso de biofertilizante oriundo de dejetos suínos e de bovinos de corte.



**preços médios/kg até dia 25/4/2021; Produtos referências para o preço dos nutrientes: Nitrogênio= Ureia; Fósforo=Superfosfato Simples granulado; Potássio = Cloreto de Potássio granulado.
Fonte: Scot Consultoria.


Ao considerar a substituição do adubo inorgânico pelo biofertilizante oriundo da biodigestão de dejetos da suinocultura ou de bovinos de corte, é possível uma economia de R$20.000,00/ano.


Na prática


Levando em conta uma propriedade com um dos dois sistemas de produção animal e o cultivo de milho, podemos analisar que:


Para atender às necessidades de N, P2O5 e K2O (160 kg/ha, 120 kg/ha e 80 kg/ha) para a produção de 8 mil kg/ha de grãos de milho*, seriam necessários resíduos para o processo de biodigestão de 176 suínos ou 316 bovinos, ambos em fase de terminação, proporcionando uma economia em gastos com fertilizantes minerais próxima a 80,0%, ou R$723,00/ha, e 75,5%, ou R$684,00/ha, respectivamente.  


Na utilização do biofertilizante de suínos, seria necessária adubação complementar para fósforo (P) e potássio (K) e para o de bovinos, nitrogênio (N) e potássio (K). 


Cabe destacar que a aplicação do biofertilizante também gera gastos e os custos operacionais para o processo produtivo do insumo também devem ser considerados.


Conclusão


O biofertilizante pode ser usado na fertilização sem comprometer a qualidade do solo e do ambiente.


Sua utilização é uma alternativa ou complemento a adubos químicos.


A elaboração de um plano técnico de manejo e adubação considerando a composição química dos dejetos, a área, fertilidade e tipo de solo e as exigências da cultura continuam a ser indispensáveis.


Espera-se que o volume de resíduos dos sistemas produtivos seja cada vez maior, pressão de buscas por soluções ambientais.


Os preços utilizados neste artigo são referentes à aquisição do adubo mineral (preço médio de mercado até dia 25/4/2021).


*Considerando a densidade de 75 mil plantas por hectare, solo com teores altos de P e K, teores médios de matéria orgânica e cultura anterior com gramínea de alta produtividade.


Bibliografia consultada


MAPA. Pecuária de baixa emissão de carbono - Tecnologias de produção mais limpa e aproveitamento econômico dos resíduos da produção de bovinos de corte e leite em sistemas confinados, 2017.


Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal – Abisolo.


CERVI, G.R. Avaliação econômica do aproveitamento do biogás e biofertilizante produzido por biodigestão anaeróbia: estudo de caso em unidade biointegrada – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2009.


EMBRAPA. Aplicação de biofertilizante de água residuária da bovinocultura leiteira na cultura do milho, 2018.


SILVA, A, A. Viabilidade técnica e econômica da implantação da biodigestão anaeróbia e aplicação de biofertilizante nos atributos de solo e plantas– Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2009.


TANGANELLI, K. M. Utilização dos dejetos de suínos como fertilizante do solo – Oklahoma State University. 2007. 21 f. Relatório de Estágio Curricular (Bacharelado em Engenharia Florestal) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2007.