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Abril pode ter horizonte de melhora no preço dos suínos, após março de fortes quedas

por Notícias Agrícolas
Domingo, 11 de abril de 2021 -18h00

 


O primeiro trimestre de 2021 para a suinocultura brasileira foi de penúria, tanto pela queda nos preços pagos ao produtor quanto pela elevação dos custos de produção. Em São Paulo, por exemplo, a queda de preço entre o início de janeiro e o final de março passou de 30% para o animal vivo. Entretanto, de acordo com especialistas, abril pode ter um horizonte de melhora nos preços.


De acordo com o Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS), Valdomiro Ferreira, alguns pontos devem motivar a melhora do preço na suinocultura brasileira em abril, tais como uma redução na oferta de animais vivos para abate, continuidade nos bons ritmos de exportação, redirecionamento do consumo da população com menor renda deixando de lado a carne bovina para adquirir a suína e uma pressão por parte dos suinocultores para um realinhamento positivo de preços devido aos altos custos de produção.


Segundo o zootecnista da Scot Consultoria, Felipe Fabbri, "a nova rodada do Auxílio Emergencial em valor menor, associado ao atual momento de preços em queda no setor , pode abrir espaço para um aumento na demanda da proteína". 


O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos, Marcelo Lopes, concorda que estes fatores podem influenciar positivamente nos preços. Entretanto, ele pondera que enquanto os valores caem rapidamente para o produtor, nas gôndolas o movimento é demorado. Ou seja, há uma morosidade para que a queda de preços chegue ao consumidor final  e isso retorne ao suinocultor em forma de novos preços .


Fabbri explica que as exportações mantiveram os ritmos fortes, mas como quase 75% da produção de carne suína é destinada ao mercado doméstico e a alta dos preços ao longo de 2020 não foi acompanhada pelo consumo, os preços derreteram ao longo do primeiro trimestre. 


Mesmo com o ritmo dos embarques acelerando de janeiro para fevereiro e de fevereiro para março, as exportações não foram suficientes para escoar a produção. 


Lopes aponta que anualmente, a suinocultura brasileira cresce entre 4% a 5%, e que este aumento se chocou com a demanda interna mais fraca neste início de ano, ajudando a derrubar os preços. 


Neste primeiro trimestre, a suinocultura independente registrou quedas vertiginosas nas cotações semanais, segundo a base de dados do Notícias Agrícolas. Em São Paulo, por exemplo, entre a primeira cotação de janeiro e a última de março, a perda foi de 37,5%. 


De acordo com o presidente da APCS, a relação de troca ideal entre uma arroba suína e uma saca de 60kg de milho é de 2,5. Na primeira cotação do suíno no mercdo independente paulista de 2021, a arroba suína foi negociada a R$ 160,00, enquanto no mesmo dia (07/01/2021), a saca de milho (indicador do milho ESALQ/BM&FBOVESPA) valia R$ 82,65, resultando em um poder de compra de 2,00 sacas por arroba. Na mesma referência, no final de março deste ano, a arroba do suíno no mercado independente paulista comprava 1,07 sacas de milho, o que é negativo e muito distante da relação de troca ideal. 


Segundo levantamento feito por Felipe Fabbri, da Scot Consultoria, levando em conta o período de março de 2020  a março de 2021, este último teve o pior patamar na relação de troca do quilo do suíno terminado em São Paulo x milho (referência Campinas/SP).


"Os custos de produção devem seguir pressionando o setor; os preços do milho para maio no mercado futuro bateram R$ 99,00 esta semana (04/04 a 10/04/2021), e as medidas de ajuste entre oferta e demanda (descarte de animais agora no primeiro trimestre) devem começar a ser sentidas no mercado  apenas em meados de junho/julho", disse o zootecnista. 


O presidente da ABCS pondera que é preciso que a suinocultura tenha um crescimento ordenado. "A gente sabe que há um crescimento desordenado, e a situação só não está pior por causa das exportações de carne suína. É preciso ter muita consciência, colocar um pouco o pé no freio em relação aos investimentos", disse Lopes.


Para o curto prazo, Fabbri afirma que o suinocultor deve seguir com preços pressionados e margem apertada, apesar da expectativa de exportações fortes em 2021, principalmente com as recentes notícias de novos casos de Peste Suína Africana (PSA) na Ásia. 


Segundo o analista da SAFRAS & Mercado, Fernando Iglesias, os resultados de exportação, sobretudo no mês de março deste ano, são reflexos da retomada da China às compras para repor os estoques da proteína suína após a passagem do feriadão do ano Novo Lunar. 


Sobre os casos de PSA que têm sido noticiados pela imprensa internacional e por consultorias, Iglesias pondera que o efeito no mercdo é de gerar especulação, uma vez que a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) não emitiu relatórios sobre surtos da doença em março deste ano.


Para Iglesias, será necessário observar o comportamento importador da China neste mês de abril para que se possa traçar um horizonte, ainda que de curto prazo, de como o gigante asiático deverá prosseguir com as compras da proteína fora do contexto de pós feriadão.


Um olhar para o 1º trimestre de 2020 x 2021


No comparativo com o primeiro trimestre do ano passado, as quedas para o preço dos suínos foram mais vertiginosas nos primeiros três meses de 2021. Fabbri aponta que o mercado interno em 2021 foi influenciado pela demanda enfraquecida e uma oferta maior de animais. 


A comparação entre os primeiros três meses de 2020 e de 2021 se dá, além da semelhança da sazonalidade, com a população descapitalizada pelos pagamentos de impostos no início do ano, colocando o pé no freio no consumo, no entanto estes dois períodos se diferem quanto ao peso no contexto de pandemia.


O zootecnista da Scot Consultoria explica que no início do ano passado a pandemia gerava, sim, incerteza, mas ainda não havia impactado com força a economia do país, com aumento do desemprego, por exemplo. Já em 2021, o cenário é de efeitos sobre a economia brasileira mais efetivos e, de certa forma, conhecidos. 


Como exemplo da variação entre as relações de troca entre suíno e milho entre o início do ano passado e este ano, no começo de janeiro de 2020, uma arroba suína no mercado independente de São Paulo comprava 2,5 sacas de 60 kg de milho (indicador do milho ESALQ/BM&FBOVESPA), relação ideal de troca.Já no final do primeiro trimestre de 2020, essa relação caiu para 1,9 saca de 60 quilos de milho por arroba suína.


No início de janeiro de 2021 a relação de troca já estava ruim para o produtor e era de 1,9. Até o final de março/21, a situação só piorou com uma arroba suína comprando 1,07 saca de milho.


"A questão dos custos de produção pressionando o setor ganhou ênfase em 2021. Os preços do milho e da soja grão, no comparativo à março de 20 subiram 58% e 88%, respectivamente, considerando o estado de São Paulo", disse Fabbri. 


Segundo analistas ouvidos pelo Notícias Agrícolas, a explicação do contexto de aumento no preço dos insumos em 2021 se dá da seguinte maneira: a demanda por milho e farelo de soja em 2020 foi maior do que em 2019, então o estoque de passagem de 19 para 20 foi apertado. Esta demanda aquecida por estes insumos no ano de 2020 estreitou ainda mais os estoques de passagem de 20 para 21. Soma-se a isto, o fato de que este ano, além da alta demanda, há um risco de perda de produção devido aos atrasos de plantio tanto para a soja quanto o milho 2ª safra. A valorização do dólar ante a desvalorização do real também contribuíram para a elevação dos preços destes insumos.


Setor de proteína animal pede apoio ao governo federal


Neste final de março, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) solicitou ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que seja concedido um novo período de isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) para importação de milho e produtos do complexo soja de países de fora do Mercosul. Esta medida já havia sido concedida pelo Ministério em outubro de 2020, e teve duração até 15 de janeiro, no caso do complexo soja, e 31 de março para o milho.


Além deste pedido, mais recente, desde o final de 2020 não só a suinocultura, mas os setores da avicultura (postura e corte) e bovinocultura de leite vêm pleiteando junto ao MAPA a isenção temporária de PIS/Cofins para a importação de milho para os produtores fora do sistema de drawback e a liberação para importação de algumas variedades de milho geneticamente modificado dos Estados Unidos. 


Segundo o presidente da ABPA, Ricardo Santin, em entrevista ao site Notícias Agrícolas na última terça-feira (6) estes pleitos ainda não foram atendidos, já que o Ministério da Economia ainda está avaliando a possibilidade da isenção do PIS/Cofins, e a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) analisa a viabilidade de importação de milho transgênico norteamericano. "Ainda não recebemos uma devolutiva sobre estes pedidos, mas sabemos que estão sendo estudados", disse Santin.