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Suinocultura: aspectos sustentáveis e melhorias no sistema de maternidade­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

por Tamyres Rodrigues de Amorim
Terça-feira, 26 de janeiro de 2021 -15h30


Introdução


As práticas de manejo menos invasivas em sistema suinícola ganharam importância. A conscientização dos consumidores em relação à origem dos alimentos e à forma como são produzidos têm incentivado a cadeia produtora de suínos a operar de maneira sustentável.


Nesse sentido, a adoção de práticas de produção aliada ao bem-estar animal ganha preferência entre os sistemas. Elencamos o alojamento coletivo de fêmeas suínas na fase de gestação e sua contribuição para a produção sustentável relacionada ao bem-estar animal.


Sistema de alojamento de matrizes em gaiolas individuais


O alojamento de matrizes é um dos aspectos relacionados ao bem-estar animal passível de melhoria na suinocultura.


O sistema de alojamento predominante no Brasil é o de matrizes em gaiolas individuais, que permite um maior número de fêmeas por metro quadrado e apresenta vantagens quanto à alimentação individualizada, supervisão e impedição de brigas.


No entanto, a desvantagem da criação de matrizes em gaiolas individuais é que ela prioriza o isolamento das fêmeas em seu período gestacional e no puerpério; as fêmeas podem apresentar alta incidência de estereotipias (transtornos comportamentais), conduta apática, interações sociais mal resolvidas, lesões nos pés e pernas, infecções urinárias em decorrência do baixo consumo de água e movimento reduzido.


Alojamento em grupo


Os suínos são naturalmente levados à vida em grupo, as fêmeas agrupadas garantem a sobrevivência dos leitões quando criados em vida livre, uma vez que, enquanto umas fêmeas forrageiam, as outras cuidam da leitegada.

Matrizes criadas juntas apresentam cio sincronizado, permitindo proles em idades similares.


Quando criadas juntas, há uma melhor divisão dos leitões por porca, favorecendo a homogeneidade do lote, as fêmeas apresentam comportamento mais calmo e menor presença de comportamentos estereotipados quando comparado a matrizes mantidas em gaiolas, deixando evidente a importância da vida gregária, e redução do estresse.


Porém, há limitações quanto à quantidade de animais por grupos, visto que excesso de indivíduos por m² favorecem brigas e disputas por alimento e espaço e requerem uma atenção dos funcionários para evitar acidentes e prejuízos econômicos, desafios estruturais com relação ao piso, e a competição por alimentação.


Cuidados importantes no alojamento coletivo


O estresse relacionado ao reagrupamento e à alimentação constituem um dos desafios do sistema, além de atenção às brigas e disputas que ocorrem no momento da organização hierárquica da baia.


Para um sistema harmonioso, a equitatividade em idade, escore corporal ou peso são importantes e devem ser considerados na eleição dos animais que comporão o grupo, para evitar disputa no momento do arraçoamento ou no convívio.


Para mitigar os riscos durante o processo de agrupamento, a escolha do layout da instalação e acessórios é fundamental.


Melhorias no sistema de criação


São considerados pontos chave para uma produção sustentável em diversos elos da cadeia quando atingimos esses quatro pontos:


-nutricional: escore corporal, acesso à água limpa, qualidade e frequência dos alimentos fornecidos;


-sanitário: cuidados sanitários em relação a alterações tegumentares (lesões), sinais clínicos, sinais de dor, programas preventivos e protocolos de tratamento;


-ambiental: conforto térmico, conforto físico e enriquecimento ambiental;


-comportamental: possibilidade de expressar comportamentos naturais.


Impacto econômico de matrizes alojadas individualmente X baias coletivas na fase de gestação


Para considerar a viabilidade econômica do alojamento de matrizes é necessário levar em consideração a alimentação, os insumos e a produção de leitões, considerando os custos variáveis, custos fixos e a renda dos fatores.


No estudo elaborado segundo Alves et al., (2021) foi considerado 1,7 mil matrizes e produção de 1.174,97 toneladas de leitões.


Figura 1. Estimativa de custos de leitões produzidos por matrizes alojadas em baias coletivas e individuais na fase de gestação.



Fonte: Adaptado de Alves et al., (2021). Elaboração: Scot Consultoria


Figura 2. Representatividade dos custos por produção em baias individuais.



Fonte: Adaptado de Alves et al., (2021). Elaboração: Scot Consultoria


Figura 3. Representatividade dos custos por produção em baias coletivas.



Fonte: Adaptado de Alves et al., (2021). Elaboração: Scot Consultoria


Tabela 1. Alojamento de matrizes e principais impactos na produção de leitões.



Fonte: Adaptado de MAPA, 2018. Elaboração: Scot Consultoria.


Segundo o estudo de Alves et al., (2021) os custos fixos de baias coletivas foram maiores em comparação ao custo de baias individuais, devido às depreciações, manutenções e identificação eletrônica das matrizes, quando comparado ao custo de gaiolas individuas.


De acordo com Alves et al., (2021) o ganho em R$/kg de leitões apresentaram valores muito próximos nos dois sistemas estudados, porém, o sistema de baias coletivas apresentou, na média, valores de produção de leitões nascidos e vivos maiores comparado ao sistema de gaiolas individuas.


Considerações finais


As práticas de produção sustentável no estudo citado e na gestação de matrizes suínas são processos que influem no desempenho final da leitegada. As boas práticas e a capacitação técnica dos colaboradores somadas à transformação gradativa dos sistemas de gestação individuais para coletivos mostram-se circunstancialmente de maior competitividade em mercados nacionais e internacionais.


Bibliografia


Alves, L.K.S.; Reis, B.Q.; Moreno, D.R.; Sousa, R.O.; Garbossa, C.A.; Raineri, C. Viabilidad económica en la producción de lechones en sistemas con alojamiento individual o colectivo de cerdas. Revista Facultad Nacional de Agronomía Medellín, 74(Suplemento), S97-167, 2021.


Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento- MAPA. Gestação coletiva de matrizes suínas : boas práticas para o bem-estar na suinocultura / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo. – Brasília : MAPA, 2018. 55 p.


Suinocultura: uma saúde e um bem-estar / Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. – Brasilía : AECS, 2020, 500p.