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Reciclagem animal: o processo da indústria de transformação de produtos e coprodutos bovinos

por Guilherme Ibelli
Segunda-feira, 4 de janeiro de 2021 -10h20

 


Introdução


O Brasil é um dos principais produtores mundiais de carne bovina in natura (figura 1). Em 2019, a produção foi de 10,2 milhões de toneladas. O maior produtor são os Estados Unidos, cuja produção é de 12,4 milhões de toneladas (USDA).


Como resultado do processamento da carne em 2019, estima-se que as indústrias frigoríficas geraram um volume superior a 7 milhões de toneladas de resíduos ou coprodutos (Abra).


Figura 1. Importantes países produtores de carne bovina de 2017 a 2020*, em milhões de toneladas.



*expectativa.


Fonte: USDA, elaborado pela Scot Consultoria.


A reciclagem animal


Caracterizada pelo processamento das partes de bovinos não adequadas para consumo humano, a reciclagem animal transforma esses resíduos em coprodutos com valor comercial, como gorduras, farinhas etc.


O desenvolvimento e avanço das tecnologias melhorou o aproveitamento das carcaças, consequentemente aumentando o rendimento dos coprodutos.


O mercado


O mercado interno absorve cerca de 5,3 mil toneladas de farinhas e gorduras animais por ano (58% para suplementação animal, 14% para a produção de “pet food”, 13,5% para biodiesel, 10% para higiene e limpeza e 4,5% para demais indústrias).


Com relação à exportação de coprodutos, em 2019 gerou-se uma receita de US$ 115 milhões. O principal produto de exportação foram as farinhas.


Figura 2. PIB do setor brasileiro de reciclagem animal de 2010 a 2020* em bilhões de R$.



*projeção


Fonte: Abra, elaborado pela Scot Consultoria.


Coprodutos


A cada 100kg de peso vivo de um bovino, cerca de 30kg a 40kg são resíduos (tabela 1), que são a matéria-prima para a fabricação de alimentos proteicos e energéticos, gelatinas e hemoderivados.


Tabela 1. Pesos e rendimentos médios dos subprodutos de bovinos.



* Carne de língua, da cabeça, do diafragma, da bexiga, do esôfago, do lábio e do coração.
** Gordura extraída do escroto, rins, coalheira, intestino, pele, pâncreas e bexiga.
*** Sebo extraído do rúmen, retículo e omaso.
Fonte: ADAPTADO DE TONHATI, ET. AL., elaborado pela Scot Consultoria.


Tabela 2. Porções de subprodutos, carcaça e carne sem osso de vários animais, em % do “peso vivo”. 



Fonte: PRÄNDL et al., 1994, elaborado pela Scot Consultoria. 


A pele bovina após o processo de curtimento é chamada de couro. O couro é utilizado em diversos setores (têxtil, vestuário, moveleiro, automobilístico etc.) e tem importância econômica na cadeia pecuária.


Da pele também se extrai o colágeno, uma substância usada em diversos setores (medicamentos, gomas e cosméticos).


Do intestino originam-se fios usados em procedimentos cirúrgicos. A insulina, utilizada no tratamento da diabetes por exemplo, é extraída do pâncreas bovino.


Das glândulas bovinas (suprarrenais, tireoide, pâncreas etc.) são extraídas substâncias usadas em perfumes e remédios.


Conclusão


A reciclagem é um importante fator na sustentabilidade da produção de alimentos, atuando como parte dos ingredientes em dietas de monogástricos, na produção de biodiesel (reduzindo o uso de combustíveis fósseis) e na fabricação de sabões, entre outros fins.


Antes da reciclagem animal, os resíduos eram descartados.


A reciclagem animal reduz a emissão de gases causadores do efeito estufa. 


Bibliografia consultada:


ABRA – Associação Brasileira de Reciclagem Animal.


BARROS, FERNANDO DUQUE ET AL., A reciclagem de resíduos de origem animal: uma questão ambiental.


CiCarne – Embrapa, Reciclagem animal: uma atividade essencial, segura e sustentável, 2020.


GERALDES, D., O mundo da reciclagem animal e sustentabilidade. Revista Graxaria, 2018.
NRA – National Renderers Association


TONHATI, HUMBERTO ET. AL., Rendimento integral de bovinos após abate, 2000.