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Carta Grãos - Expectativas com relação à demanda por milho em 2021

por Rafael Ribeiro
Terça-feira, 22 de dezembro de 2020 -17h00


Um dos fatores de alta no preço do milho em 2020 foi a demanda interna aquecida, motivada especialmente pelo setor de nutrição animal. A valorização do câmbio e o clima adverso (atrasos nas chuvas e preocupações com a safra de verão e estreitamento da janela de plantio do milho de inverno) também colaboram com o aumento expressivo nas cotações.


Para uma comparação, o preço vigente na região de Campinas-SP, R$77,00 por saca de 60 quilos (18/12), mesmo com os recuos recentes, está 52,5% acima do registrado em dezembro de 2019. Veja a figura 1.


Figura 1. Preços médios mensais do milho em grão na região de Campinas-SP, em R$ por saca de 60 quilos, sem o frete.



Em 2020 foram consumidas 68,66 milhões de toneladas de milho no país (Conab). O volume aumentou 5,7% na comparação com 2019.


Destaque para o incremento na demanda pelos setores de aves e suínos para atender a maior produção, puxada pelo incremento nas exportações, em especial de carne suína.


Para 2021, as estimativas da Conab apontam para um consumo doméstico de 71,83 milhões de toneladas, um incremento de 4,6% na comparação anual. Nesse acaso, além das expectativas positivas para o setor de nutrição animal, é esperada uma recuperação da demanda pelas usinas de etanol de milho.


Apresentamos na figura 2 a evolução do consumo de milho no Brasil nos últimos anos e a projeção para 2021, segundo os dois últimos relatórios da Conab, de novembro e dezembro deste ano.


Figura 2. Consumo de milho em grão no Brasil, em milhões de toneladas.



Mercado


O dólar mais fraco e a menor movimentação no mercado interno pressionaram para baixo os preços do milho na primeira quinzena de dezembro.


Segundo levantamento da Scot Consultoria, na região de Campinas-SP, a queda chegou a 7,6% no período, com a saca sendo negociada em até R$73,00 – R$74,00 em 14/12. De lá para cá, o mercado firmou e a referência subiu para R$76,00 – R$77,00 por saca de 60 quilos, com as preocupações climáticas e baixo volume de negócios nesse final de ano.


Para o curto prazo, o viés é de baixa, mas destacamos as questões climáticas preocupantes em algumas regiões produtoras de milho de verão ou primeira safra, que podem pontualmente dar firmeza ao mercado.


Ou seja, se persistirem as revisões com queda de produtividades médias e de produção das lavouras de milho de verão, é possível um cenário de preços mais firmes no mercado interno, que poderá se estender, inclusive, até a colheita da primeira safra ganhar força, a depender do câmbio.


Do lado da demanda interna, vimos que o cenário é de aumento em 2021. A expectativa é de bons volumes exportados. As exportações estão estimadas em 35 milhões de toneladas, frente às 34,50 milhões de toneladas previstas para 2020.


Por fim, os estoques finais em 2020/21 estão estimados em 7,40 milhões de toneladas, o menor volume desde 2015/16. Qualquer revisão para baixo com relação à produção de verão ou inverno pode enxugar ainda mais os estoques finais.


Em resumo, o câmbio deverá dar um alívio para os preços do milho em 2021, mas o clima segue no radar, pois qualquer contrariedade com relação ao tempo poderá ser fator de sustentação das cotações, em especial no primeiro semestre, quando a oferta interna é menor, basicamente o estoque de passagem mais o que será colhido na safra de verão ou primeira safra.