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Competitividade das proteínas de origem animal em meio a pandemia

por Felipe Fabbri
Segunda-feira, 31 de agosto de 2020 -14h00


Os últimos anos não estão sendo fáceis para o brasileiro. Vivemos crises políticas incontáveis, novo impeachment presidencial após 22 anos e níveis elevados de desemprego e informalidade no país. 


A eleição de 2018 trouxe esperança de virada de chave para o brasileiro. Hoje, quase dois anos depois, o cenário segue caótico. A crise política segue firme no Brasil e o índice de desemprego chegou, em julho último, ao maior nível nos últimos três anos (13,3%) segundo o IBGE. 


Com o desemprego em alta e várias empresas fechando suas portas ou reduzindo suas atividades em meio a pandemia causada pelo novo coronavírus (covid-19), o poder de compra do brasileiro enfraqueceu e a tendência é de maior procura por proteínas de menor valor agregado, como a de suínos e frango.


Porém, o cenário de exportações firmes e o aumento forte nos preços dos principais insumos da avicultura e suinocultura (milho e soja) equilibraram a oferta dos produtos no mercado interno e trouxe preços firmes ao longo de 2020. 


O consumidor hoje deve indagar-se quanto a competitividade das outras fontes de proteína em meio ao atual cenário e vamos nesta análise resumir o cenário atual. 


Figura 1.
Variação mensal do frango e suíno no atacado e dos principais cortes avícolas (RS/kg)
Fonte: Scot Consultoria/Jox


Cenário atual


O consumo de carne suína vive uma sazonalidade forte, normalmente melhor no segundo semestre e fortemente estimulada pelas festas de fim de ano. Note na figura 1 como, nos últimos três anos, a média de preços no segundo semestre sempre foi superior à do primeiro semestre, independente da valorização do primeiro semestre. 


Neste ano, esse movimento tem sido mais acentuado. Após sofrer um baque nos preços no primeiro semestre com o início da pandemia, redução de consumo e aumento expressivo da oferta, o setor se reorganizou e na produção de aves, por exemplo, foi reduzida a quantidade de animais alojados. Com relação à carne suína, as exportações firmes trouxeram um cenário para o segundo semestre deste ano de preços firmes para o consumidor brasileiro e recordes nominais do preço pago aos produtores. 


Apesar de estarmos no final de agosto, já observamos forte valorização dos preços médios no semestre, acumulando uma alta de 11,6% para o frango médio e 27,7% para o suíno especial, ante a média do primeiro semestre (figura 2). A maior valorização, considerando os cortes de frango, fica por conta da asa de frango, cuja média está em R$11,22/kg, uma valorização de 228% comparado ao mesmo período (figura 1).


Figura 2.
Variação da média semestral dos preços do frango e suíno especial no atacado (R$/kg) x variação percentual (%).
Fonte: Scot Consultoria/Jox


Mas as recentes valorizações tiraram a competitividade dessas proteínas frente a carne bovina? As figuras 3 e 4 consideram quanto é possível adquirir com o preço de 1 kg de dianteiro 1x1 no atacado. A média dos últimos três anos nesta relação são 2,2kg de carne de frango e 1,4kg de carne de suíno para cada quilo de dianteiro, parte da carcaça de menor valor agregado na proteína bovina.

A média neste semestre, até esta data, mostra que a proteína de frango é a mais competitiva entre as três categorias. Compra-se 2,8kg de carne de frango no atacado, incremento de 23% frente a média, e 1,26kg de carne suína no atacado, retração de 10% ante a média.


Considerações finais


Ainda estamos a quatro meses do período de festividades com reabertura gradual do comércio, e do forte incremento nas exportações, principalmente de carne suína. Esse cenário sugere que ainda há espaço para que a relação de troca das proteínas alternativas ante a proteína bovina se estreite nos próximos meses.


Figura 3.
Relação de troca dianteiro 1x1 (R$/kg) x frango médio atacado (R$/kg).

Fonte: Scot Consultoria/Jox


Figura 4.
Relação de troca dianteiro 1x1 (R$/kg) x suíno carcaça especial atacado (R$/kg).

Fonte: Scot Consultoria/Jox