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Carta Leite - O que esperar para o mercado do leite em 2020

por Juliana Pila
Quarta-feira, 18 de dezembro de 2019 -16h30


Balanço de 2019


O ano começou com boas expectativas com relação à demanda interna. Existia um bom humor com relação ao novo governo. Mas, com o tempo, a euforia diminuiu. 


A economia caminhando em ritmo lento e o grande número de desempregados resultou em redução na renda da população que se traduziu em queda no consumo. 


A demanda pelos produtos lácteos de maior valor agregado foi a mais afetada. 


A demanda interna menor do que as previsões iniciais, somado a uma oferta de leite crescente neste ano resultou na dificuldade de evolução dos preços dos lácteos em plena entressafra. Na figura 1, apresentamos os preços do leite longa vida e da muçarela no mercado atacadista em São Paulo.


Figura 1.
Evolução do preço do leite longa vida UHT (eixo da esquerda, em R$/litro) e do queijo muçarela (eixo da direita, em R$/kg), no atacado de São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 


Dificuldade de escoamento da produção de lácteos e margem apertada para os laticínios resultou em menor valorização dos preços do leite pago ao produtor nos primeiros sete meses de 2019. 


Considerando a média nacional ponderada dos 18 estados em que a Scot Consultoria faz o monitoramento, a valorização foi de 5,6% entre janeiro e julho, frente aos 19,7% na entressafra passada e 11,6% de alta, em média, nas últimas cinco temporadas. 


Figura 2.
Cotação média nacional ponderada do leite pago ao produtor - em R$/litro, valores nominais, por mês desde 2014.

Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 


Dali em diante, período de safra no Brasil Central e Centro Sul, destacamos a pressão de baixa no mercado interno com a oferta de leite maior nos últimos meses, entretanto, as quedas dos preços pagos aos produtores foram mais amenas, frente à média histórica para o período. Veja a figura 2. 


Isto porque, os incrementos na produção foram menores, devido ao atraso nas chuvas nesta temporada, que prejudicou a evolução das pastagens e também em função dos cortes na alimentação por parte de produtores, com as quedas no preço do leite. 


Apesar do cenário, o preço pago ao produtor até novembro está 6,3% maior que em igual período do ano passado, em valores nominais. 


Expectativas para o curto prazo


Para o pagamento a ser realizado agora em dezembro, referente a produção entregue em novembro, 62% dos laticínios pesquisados pela Scot Consultoria acreditam em manutenção das cotações, 30% falam em queda e os 8% restantes estimam alta (laticínios nas regiões Sul e Nordeste do país).


Apesar da expectativa da produção ser de alta no Sudeste e Brasil Central até dezembro de 2019 ou janeiro de 2020 (pico de produção), a concorrência entre as indústrias está maior este ano, com incrementos menores na produção na safra.


Isto deve manter o mercado entre estável a ligeira queda nestas regiões no próximo pagamento, com um viés de manutenção em curto prazo e possibilidade de reações (ainda que ligeiras) no pagamento a ser realizado em janeiro de 2020.


Dependerá de como reagirá a demanda neste final de ano, já que a tendência para leites fluídos é de menor procura, em função das férias escolares e festas de final de ano.


Para 2020


No mercado interno, a expectativa fica por conta da melhoria na demanda com a retomada do crescimento econômico. Segundo o último relatório Focus (13/12), do Banco Central, a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) para 2020 é de crescimento de 2,25%.


Além disso, para 2020, as apostas ficam para a possibilidade do aumento das exportações de leite em pó e queijos, para a China, após a habilitação de 24 laticínios para exportar lácteos, fato que poderá ajudar na sustentação dos preços no mercado interno. 


Os preços ao produtor nesta reta final de 2019 estão em um patamar alto frente aos últimos anos, portanto, 2020 partirá de uma base de preços elevada. 


Do outro lado da balança, os custos de produção tendem a ser maiores, a expectativa é de alta para os alimentos concentrados em 2020, em relação a 2019, com destaque para o milho, em decorrência da menor oferta, e da perspectiva de crescimento no consumo. Lembrando que o preço do grão já está em patamar superior ao de 2018. 


O câmbio em alta (estimativa de R$4,10 segundo o Boletim Focus) pode diminuir as importações de leite em pó em 2020, sendo este mais um fator positivo para a cadeia leiteira. No entanto, estimula o envio de produtos ao exterior (milho e farelo de soja) pesando nos custos de produção.