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Carta Boi - Consequências da habilitação de mais frigoríficos para exportação de carne para a China

por Marina Zaia
Terça-feira, 17 de setembro de 2019 -14h00


No início da segunda semana de setembro o GACC (órgão de sanidade chinês) comunicou ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a habilitação de 25 plantas frigoríficas brasileiras para exportar carnes para a China.
 


Dos 25 frigoríficos habilitados, 17 são de carne bovina, seis de carne de frango, um de suínos e um de asininos. 


A notícia é positiva, pois os chineses são os maiores compradores da carne bovina brasileira. Em 2018, do total de carne bovina in natura exportada (1,35 milhão de toneladas), 24% foi para a China (322 mil toneladas). 


Importante ressaltar que devido aos casos de Peste Suína Africana que acometeram os suínos no país, a demanda chinesa por carnes no mercado internacional está aquecida, tendo em vista o déficit na produção doméstica. 


Ou seja, o aumento da oferta de carnes no mercado internacional poderia causar uma retração no preço da tonelada exportada, entretanto, como a procura do país asiático está em patamares elevados, esse cenário não é muito provável.


Esclarecido este ponto, voltamos para as plantas que ganharam habilitação. Com a decisão do órgão de sanidade chinês, o número de plantas habilitadas passa de 15 para 32, considerando os frigoríficos produtores de carne bovina.


De todos os frigoríficos habilitados, seis estão localizados em Mato Grosso, quatro estão no Pará, dois no Tocantins e dois em Mato Grosso do Sul. Já em Goiás, São Paulo e Rondônia apenas uma planta foi habilitada por estado.


Veja na tabela 1 como ficou distribuição de plantas aptas para exportar para a China, por estado, antes e depois do comunicado. 


Tabela 1.
Localização das plantas habilitadas para exportar carne bovina para China.

































































  Antes Depois Total
MT 1 6 7
MG 4 0 4
RS 2 0 2
SP 7 1 8
GO 1 1 2
TO 0 2 2
PA 0 4 4
RO 0 1 1
MS 0 2 2
       

Fonte: MAPA / Elaborado por Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 


Veja que São Paulo ganhou apenas uma habilitação, mas como já possuía sete plantas habilitadas anteriormente, continua sendo o detentor do maior número de frigoríficos aptos para exportar carne bovina para a China. 


Por esse motivo, São Paulo também é o estado que mais vende carne bovina para a China, seguido de Minas Gerais.  


Em 2018, do total embarcado, 41,3% foi proveniente de São Paulo, o que corresponde a 133 mil toneladas. Veja na figura 1 como foi a distribuição naquele ano. 


Figura 1.
Exportação de carne bovina in natura em 2018, por estado.

Fonte: MDIC / Elaborado por Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 


Contudo, é provável que haja um rearranjo nesta participação, pois agora Minas Gerais perdeu a posição no pódio para Mato Grosso e ainda enfrentará uma disputa acirrada com o Pará, no que diz respeito à quantidade de plantas habilitadas (tabela 1).


Vejamos Mato Grosso, por exemplo. Com somente uma planta habilitada, o estado vendeu 30 mil toneladas de carne bovina in natura para a China em 2018, agora com mais seis plantas aptas, o potencial de exportação aumentou exponencialmente.


Dessa forma, a forte demanda chinesa deve trazer mais liquidez para o mercado do boi gordo e, conforme o apetite das indústrias pela matéria-prima aumenta, os preços da arroba tendem a ganhar força. 


Analisando as cotações do boi gordo nestes estados que tiveram a maior quantidade de plantas habilitadas (MT, PA, TO e MS), é possível perceber que somente o efeito da entressafra já tem causado valorizações para o boi gordo. Veja na figura 2.


As altas mais significativas ocorreram no Tocantins, onde, considerando as médias mensais, a cotação do boi gordo subiu 4,1% de julho a setembro (preços até dia 10/9).


Figura 2.
Média de preços do boi gordo em julho e setembro de 2019.


Portanto, é provável que a trajetória de altas ganhe ainda mais intensidade, apoiada no aumento da demanda por animais terminados.


Lembrando que, dentre os atributos requeridos pela China, os animais devem ser jovens, com menos de 30 meses. As boiadas que se encaixam nessa categoria recebem ágios normalmente de R$2,00 a R$3,00 sobre o preço do boi comum.


As novilhas também têm sido demandadas para este fim. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no primeiro semestre, enquanto os abates totais aumentaram 2,7%, os de novilhas cresceram 21%, frente ao mesmo período de 2018. 


Portanto, esse cenário sugere que o produtor procure adotar tecnologias para terminar seus animais em menor tempo.


Lembrando que tecnologia é qualquer processo que melhore a produção, podendo ser desde uma adequação da taxa de lotação das pastagens, até o fornecimento de suplementação para os animais, sempre de acordo com as possibilidades de caixa da fazenda.


De qualquer forma, a intensificação do sistema deve ser buscada não somente para atender a demanda de países específicos, mas porque aumentar a eficiência tem um objetivo simples, que é aumentar o resultado financeiro da atividade.