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Pragas da pastagem: cigarrinhas

por Adilson de Paula Almeida Aguiar
Segunda-feira, 11 de março de 2019 -10h50


As pastagens, como qualquer outra cultura cultivada pelo homem, são atacadas por pragas. As pragas que atacam as pastagens são classificadas como ocasionais, tais como, a cochonilha-da- pastagem, a lagarta-dos-capinzais e o percevejo-das-gramíneas; como gerais, são os cupins, as formigas, os gafanhotos, o percevejo-castanho-das-raízes e a larva de besouro escarabeídeo, mas a praga especifica da pastagem são as cigarrinhas que atacam pastagens, as que mais causam danos e prejuízos econômicos à atividade de produção animal em pasto. 


Definição: as cigarrinhas são insetos da ordem Homoptera, da família Cercopidae, são insetos sugadores apenas de gramíneas (capins). São insetos sugadores da seiva na fase imatura e toxicogênicos na fase adulta, à exceção das cigarrinhas-dos-canaviais cujas ninfas também são toxicogênicas.  Todas as cigarrinhas de pastagens são autóctones, ou seja, nativas.


Ciclo de vida: as cigarrinhas são insetos que se desenvolvem por hemimetabolia (fases ovo – ninfa – adulto), passando pelas seguintes fases:


1.Eclosão das ninfas provenientes de ovos em diapausa no início das chuvas, mas pode ocorrer o ano inteiro em regiões com chuvas distribuídas ao longo do ano e em pastagens irrigadas;


2.As ninfas se alojam na base da touceira da planta, junto ao solo, produzem uma espuma branca por meio da glândula de Bateli que as protegem da dessecação solar e do controle de inseticidas químicos. 


3.Em média o ciclo de vida compreende os seguintes períodos: período de incubação: 15 dias; período ninfal: 35 dias; pré-ovoposição: 3 dias; adultos: 10 dias – acasalamento e ovoposição – nova geração.


Danos causados: variam entre 10 a 100%. As ninfas das cigarrinhas-da-pastagem causam algum dano, mas no caso da cigarrinha-da-cana (Mahanarva fimbriolata), os danos são mais severos, mesmo os causados pelas ninfas. Os adultos são os responsáveis pelos maiores prejuízos. Injetam dois grupos de substâncias: um se coagula no interior do tecido das folhas, possivelmente desorganizando o transporte da seiva, outro grupo é composto por substâncias solúveis, que se translocam para o ápice (ponta) das folhas, provocando morte dos tecidos. Em consequência das ações daquelas substâncias aparecem os sintomas típicos do ataque das cigarrinhas nas pastagens, como se fosse uma “queima” pela geada ou o efeito da aplicação de herbicidas dessecantes.


Como conseqüência dos ataques ocorre redução na produção de forragem, com conseqüente redução da capacidade de suporte da pastagem, o que leva a necessidade de o produtor reduzir a taxa de lotação. Com 25 adultos/m2 de Notozulia entreriana durante 10 dias a produção de matéria seca caiu 30% em Brachiaria decumbens. Constataram também redução significativa no crescimento de raízes.


As toxinas injetadas nas plantas pelas cigarrinhas ainda provocam uma queda do valor nutritivo da forragem por empobrecer sua composição química com menores teores de proteína, fósforo, magnésio, potássio, cálcio e maiores teores de fibra, menor digestibilidade, com conseqüente redução no desempenho dos animais. A redução nos teores de proteína bruta, extrato etéreo, cálcio, fósforo e zinco podem ser da ordem de 20 a 50%.


Alternativas de controle: As alternativas de controle das cigarrinhas-da-pastagem compreendem vários métodos os quais constituem um programa de controle integrado de pragas (MIP).


1)Resistência de gramíneas: o mecanismo de resistência é a antibiose. Por meio deste a gramínea causa um efeito adverso no desenvolvimento e sobrevivência do inseto, mas este ainda não é bem entendido no caso das cigarrinhas.


As avaliações que permitiram concluir sobre a resistência do cultivar Marandu (capim-braquiarão), forrageira que atualmente ocupa mais de 65% das pastagens na região Norte, e aproximadamente 50% da área de pastagens brasileiras, foram feitas com espécies de cigarrinhas típicas de pastagens como Notozulia entreriana e Deois flavopicta, mais comuns nos Cerrados e em outras regiões (classificação feita pela EMBRAPA na década de 80), entretanto, hoje se sabe que este cultivar é susceptível à cigarrinha típica de canaviais e capineiras, do gênero Mahanarva.


A Brachiaria humidicola comum foi classificada no passado como resistente, depois como tolerante, mais em níveis populacionais altos, no trópico quente-úmido, como na região Norte, os danos são significativos.


A Brachiaria humidicola cultivar Llanero foi liberada pelo CIAT (Colômbia) como resistente, mas é uma excelente planta hospedeira para as ninfas, causando danos severos.


Como método de controle para as cigarrinhas típicas de pastagens algumas opções de forrageiras comprovadamente resistentes são: capim-andropogon cultivar Planaltina, capim CONVERT HD364, cultivares de Panicum maximum, tais como os capins Tanzânia, mombaça e massai, capim-setaria, gramas do gênero Cynodon, tais como as gramas estrelas, os tiftons, capim-pojuca, capim-jaraguá, capim-gordura etc.. O fundamento aqui é a “diversificação” das espécies forrageiras na propriedade.


Entretanto, para cigarrinhas dos canaviais que atacam pastagem o pecuarista tem que estar preparado para adotar outros métodos de controle.


2)Práticas culturais: compreendem os procedimentos que podem ser adotados na condução do manejo da pastagem, tais como:


Manejo do pastejo: as populações de cigarrinhas tendem a aumentar em pastos viçosos subutilizados; a sobrevivência de ovos é maior em pastos de Brachiaria com altura maior que 30 cm e com grandes quantidades de palha sobre a superfície do solo. Por outro lado, as populações de ninfas e adultos diminuem com o aumento da pressão de pastejo.


Observa-se por estes resultados que o ajuste da taxa de lotação à capacidade de suporte da pastagem faz parte do conjunto de práticas em um programa de controle desta praga.


3)Controle químico: observou-se que a sintomatologia dos danos causados pela cigarrinha se expressa plenamente em três semanas. Se considerarmos que a longevidade média dos adultos é de 15 dias, ao se constatar o pasto amarelecendo, a quase totalidade da população responsável por aqueles danos já estaria morta. Portanto, qualquer controle deverá ser feito com a cigarrinha ainda na fase de ninfa (inseto dentro da espuma). Para isso, os inseticidas têm que ter efeito residual prolongado.


Os princípios ativos aprovados pelo MAPA são o Carbaril, Clorpirifós, Fenitrotiom, Malatiom, Naled, Triclorfon, entretanto, o maior efeito residual prolongado tem sido alcançado com as misturas de neonicotinóide e lamdacyalothrin.


4)Controle biológico: usam-se inseticidas biológicos com o fungo Metarhizium anisopliae, entretanto os resultados têm sido inconsistentes, variando entre 10 a 60% de controle, devido ao grande numero de fatores que influenciam a eficácia deste tipo de controle.


Vejamos: deve ser executado com o aparecimento da segunda e da terceira gerações de ninfas, pois é a fase mais susceptível. Em áreas com histórico de alta infestação e em que a população de ninfas é alta já no inicio das chuvas, recomenda-se utilizar o fungo também na primeira geração.


Condições para a aplicação: a altura do pasto deve ser maior que 25 cm para evitar radiação ultravioleta sobre o fungo; a umidade relativa do ar deve estar acima de 80%, seguida de veranicos e temperaturas de 25 a 29o C; os pulverizadores devem estar totalmente descontaminados de pesticidas químicos (herbicidas, inseticidas, fungicidas), o volume de calda é de 50 l/ha para aplicações aéreas e de 200 a 300 l/ha, em aplicações terrestres. Estas são condições indispensáveis para a eficácia do controle. Mesmo assim o nível de controle tem variado entre 10 a 60%.


Outras alternativas de controle biológico: o microimenóptero Anagrus urichi, um parasitoide de ovos de cigarrinhas; a larva da mosca Salpingogaster nigra eficiente predadora de ninfas; os adultos da mosca Porasilus barbielliri predador de adultos; as formigas predam ninfas recém-eclodidas.