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Boi gordo: fim das vendas a prazo?

por Fabiano Tito Rosa
Quarta-feira, 10 de junho de 2009 -09h24
A mídia tem noticiado a crescente mobilização de pecuaristas com o objetivo de estabelecer a venda à vista como parâmetro de comercialização de bovinos para abate no Brasil. Sabe-se que, hoje, a maior parte do gado é vendida a prazo, normalmente de 30 dias.

Não dá para questionar a legitimidade desse movimento. Afinal, ninguém gosta de levar calote, que foi o que aconteceu com muitos pecuaristas por esse Brasil afora. E, em última instância, cada um tem que cuidar do seu negócio.

A questão é que o frigorífico vende carne a prazo, dentro e fora do País. E além do prazo de pagamento, quem exporta arca com o período de estocagem (até conseguir formar uma carga homogênea), com os atrasos nos portos e com o próprio período de viagem.

Para que o movimento de venda de boi à vista cresça de forma sustentável, ele teria que dar força a um movimento de venda de carne à vista. A questão é: será que importadores e grandes redes de varejo vão aceitar numa boa? De uma hora para outra?

Duvido.

Daí surge um problema. Suponha que os pecuaristas consigam se organizar a ponto de, realmente, só venderem à vista (pelo menos a maior parte deles). As indústrias frigoríficas, que já estão endividadas e ainda encontram problemas de acesso a crédito, sofrerão mais um forte impacto em seu fluxo de caixa.

Seria de se esperar que algumas viessem, novamente, a fechar as portas.

Nesse caso, haveria uma redução da concorrência pelo boi, o que poderia tirar a sustentação dos preços. No mínimo, em caso de significativa falta de oferta, serviria para enfraquecer o movimento de alta. Alguém já viu esse filme?

Não defendo aqui, pura e simplesmente, a continuidade das vendas a prazo. Apenas acredito que a idéia da venda à vista tem que ser mais bem discutida, trazendo para o debate todos os elos da cadeia produtiva.