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Carta Conjuntura - Os desafios da cadeia da produção de carne no Brasil e no mundo

por Pâmela Andrade
Terça-feira, 11 de setembro de 2018 -12h15


O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, entre eles, a carne bovina.


Considerando o panorama global do rebanho bovino, a Índia chama a atenção em função do maior efetivo, estimado em 303,35 milhões de cabeças, em seguida vem o Brasil com 226,03 milhões de cabeça, a China com 100,08 milhões de cabeças, os Estados Unidos com 93,5 milhões de cabeças e a União Europeia com 89,2 milhões de cabeças (FAO, 2017).


De acordo com dados da FAO, até 2050 a população mundial crescerá 28,6% frente a 2018 (FAO, 2018). Isso significa aproximadamente 9 bilhões de pessoas a serem alimentadas. Esse incremento na população mundial, será oriundo principalmente de países em desenvolvimento, visto que países desenvolvidos tendem à estabilidade populacional.


A produção de alimentos terá que aumentar, inclusive a de carne bovina.


Além do aumento da população, o aumento no consumo da proteína bovina também virá do poder de compra do consumidor. A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) prevê que a taxa de crescimento anual para os países em desenvolvimento será maior frente a de países desenvolvidos.


Por exemplo, a Índia é o país que mais cresce, com projeções de 7,5% ao ano, seguido pela China com 6,4% e Indonésia com 5,4%. Em contrapartida em países desenvolvidos, o Reino Unido, por exemplo, crescerá 1,3% ao ano, França 1,9%, Alemanha 2,0%, Estados Unidos 2,8% e Austrália 3,0% (OCDE). Ou seja, o consumo de carne bovina crescerá, e de onde virá a produção?


O Brasil é responsável pela produção de 9,5 milhões de toneladas de carne bovina, isso corresponde a 15,4% da carne bovina do mundo (USDA). Figura 1.


Figura 1.


Ponderação na produção mundial de carne bovina em 2017.



Fonte: USDA/Scot Consultoria.


Essa produção brasileira está disposta em 180 milhões de hectares de pastagens, com índices zootécnicos/produtivos abaixo do potencial que a atividade pode oferecer, como por exemplo taxa de lotação de 1,25 cabeças por hectare. (EMBRAPA, 2018)


Para aumentar a produção de carne será necessário eficiência no sistema produtivo, com a adoção de tecnologias como, o manejo correto de pastagem (manejo, piquetes e adubação), aumento da taxa de lotação, de investimento em reprodução animal (melhoria na precocidade sexual das matrizes, diminuição da taxa de mortalidade pós desmama, redução do intervalo entre partos), suplementação, sanidade, e o uso de técnicas como ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta).


Investimentos em infraestrutura também é um item a se melhorar no país. Hoje todo escoamento da carne é feito através de rodovias, até os portos, para exportação.


Apesar desses desafios, somos competitivos. Tradicionais produtores de carne bovina como a Austrália, China, Índia, Estados Unidos, União Europeia, Argentina e Uruguai, estão limitados por não terem terras para atender a essa demanda.


Mesmo nos países com grandes extensões de terras, como China e Índia, a taxa demográfica e o esgotamento dos recursos naturais tornam essa expansão difícil. Esses dois países, respondem por 38,6% da população mundial, com 2,7 bilhões de pessoas (FAO, 2017).


Nos Estados Unidos o clima adverso em regiões importantes do país, dificulta o a expansão da produção de alimentos.


Na Austrália, grande parte do território é semiárido, o que restringe o aumento da produção de carne bovina e da produção vegetal.


O Brasil, por sua vez, detém área, clima favorável, abundante produção de grãos, recursos naturais disponíveis e graças a condições propícias para crescimento de gramíneas torna a bovinocultura de corte em pasto menos custosa quando comparado a países como a Austrália, por exemplo.


Quando observamos a demanda por carne em países desenvolvidos, notamos que consumidor tem exigido carne de qualidade, e atender esse mercado inclui investimentos ainda maiores, para padronização de carcaça e rastreabilidade do rebanho que revelem a procedência da carne.


Por fim, o desafio de produzir alimentos para toda população mundial nos próximos anos é ter eficiência. Precisamos ser eficientes e evitar perdas/desperdícios em todo sistema produtivo, do campo ao prato.