Scot Consultoria
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Carta Boi - Depois das fêmeas

por Hyberville Neto
Quarta-feira, 4 de abril de 2018 -10h00


Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os abates de bovinos somaram 30,8 milhões de cabeças em 2017, considerando as inspeções federal, estadual e municipal.


Foi um incremento ano a ano de 3,9%, puxado pela oferta de fêmeas, que subiu 9,2%. No mesmo intervalo, os abates de machos aumentaram 0,6%.


A maior participação de fêmeas é decorrente da redução das margens da cria, com preços do bezerro menores. Na média das praças pesquisadas pela Scot Consultoria, houve queda nominal de 10,5% para a cotação do bezerro de doze meses em 2017, frente a 2016.


Isso gerou aumento da venda de fêmeas (figura 1).


Figura 1.
Variações dos abates de fêmeas, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 


Desde novembro de 2016 este movimento de maior volume de fêmeas abatidas tem sido observado nas comparações ano a ano.


Apenas em abril de 2017 não aumentou, mas naquele mês, em decorrência dos desdobramentos e incertezas acerca da Operação Carne Fraca, houve redução geral dos abates, da ordem de 15,4%.


A retenção em 2014 e 2015 gerou a oferta maior de bezerros observada em 2017 e esperada para 2018. É o que chamamos de fase de baixa do ciclo de preços pecuários.


Mas já combinaram com os russos?


Neste ano é esperado um maior volume de abates, com oferta crescente de fêmeas, que já tem sido observada nos primeiros meses de 2018, com fortes aumentos nos abates.


Por outro lado, é importante ressaltar alguns pontos. A oferta de fêmeas é concentrada no primeiro semestre, com picos em março e maio, considerando uma movimentação histórica. Em março devido ao descarte da estação de monta e em maio com a chegada da seca, que aumenta a oferta de todas as categorias.


Outro ponto é que uma parcela de garrotes e bois magros que iria para o cocho em 2017 não foi, devido a inviabilidade, na época, da atividade, com preços futuros em queda. Parte desta oferta está chegando agora.


Ou seja, depois deste primeiro semestre, a tendência é que a disponibilidade de gado diminua.


Na segunda metade do ano temos uma participação importante do gado de confinamento para composição das escalas. Com os preços do milho em alta no passado recente e pressão de baixa sobre o boi gordo, não é improvável que uma parte do gado que seria confinado não entre no cocho. Os preços no mercado futuro também não mostram uma alta estimuladora até outubro e novembro.


Com isto, o cenário aponta para um segundo semestre de menor oferta, com uma melhoria paralela na demanda. Em doze meses, o indicador de Intenção de Consumo das Famílias, calculado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), aumentou 12,6%. Está no maior patamar desde junho de 2015. É mais consumo chegando. 


Além disto, estamos com exportações em bom ritmo e temos um ano animado, do ponto de vista de eventos não rotineiros. A Copa do Mundo é um período curto, mas tem efeito positivo sobre o consumo da carne vermelha, em um período após o término da safra e antes de um volume maior de gado de cocho.


As eleições também geram maior volume de dinheiro circulando na economia, o que colabora com o consumo.


Considerações finais


Mesmo com um cenário de forte aumento nos abates, as margens de comercialização da indústria estão se mantendo próximas da média histórica, ao redor de 20% para o Indicador Scot Desossa, um sinal de que o consumo tem melhorado.


Quando a oferta de fêmeas e da safra diminuir, é possível que haja momentos de firmeza no mercado no meio do ano, o que pode animar os preços no mercado futuro e abrir oportunidades de garantia de preços.


Perceba que mesmo com um cenário de possibilidade de um segundo semestre positivo, a indicação é encontrar momentos para garantir as cotações do gado a ser vendido no segundo semestre, ainda mais daquele que sairá entre o primeiro e segundo giro (digo, turno) eleitoral.


Se aparecerem oportunidades a preços atrativos, o mercado de opções pode ser uma alternativa para não perder uma eventual alta mais forte.