Entrevistado:
Rafael Ribeiro, zootecnista pela Universidade Estadual Paulista (UNESP - Ilha Solteira) e analista da Scot Consultoria.
Sidnei Maschio: Rafael, fazendo assim um resumo geral, como está o andamento da colheita nas principais regiões produtoras de grãos do país?
Rafael Ribeiro: Em Mato Grosso, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), até o dia 9 deste mês, 28,7% da área de soja havia sido colhida no estado, frente aos 45,8% colhidos neste mesmo período da safra passada.
Com o atraso na colheita da safra de verão, a semeadura da safra de inverno está atrasada. Até então, 27,0% da área prevista para 2017/2018 foi semeada, frente aos 46,7% da área semeada neste período do ciclo anterior.
No Paraná, no caso do milho de verão, 1,0% da área foi colhida até meados de fevereiro, enquanto a semeadura da segunda safra do cereal atingira 2,0%, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral).
Os atrasos são decorrentes das chuvas, que dificultam os trabalhos no campo.
Sidnei Maschio: O que já estamos sabendo em relação a perdas, Rafael?
Rafael Ribeiro: O Imea estima uma redução de 1,1% na produtividade média das lavouras de soja em MT em 2017/18, frente a safra passada, e queda de 11,4% no rendimento médio do milho de segunda safra no estado.
No PR, as produtividades médias estimadas para esta temporada são 6,4% menor para a soja e 6,6% menor para o milho de verão.
Conforme avança a colheita da safra de verão será possível ter uma ideia melhor destas perdas.
Sidnei Maschio: Sobre a área de milho na safra de verão, o que aconteceu em relação ao ano passado?
Rafael Ribeiro: A área de milho de verão diminuiu 8,9% em 2017/2018 frente à safra passada, enquanto a produtividade média deverá cair 10,8%, segundo a Conab.
Sidnei Maschio: E a respeito do plantio do milho da segunda safra, onde é que o serviço está em dia e em quais regiões o atraso já é motivo de preocupação?
Rafael Ribeiro: A preocupação é maior no Centro-Oeste, onde a safra de verão está mais atrasada e poderá comprometer a janela de plantio do milho de segunda safra. Até então, 27,0% da área prevista para 2017/2018 foi semeada, frente aos 46,7% da área semeada neste período do ciclo anterior.
No Paraná, com as chuvas dando trégua nos próximos dias, a expectativa é de os trabalhos avancem em um ritmo melhor em curto prazo.
Sidnei Maschio: Qual deve ser o resultado desse atraso na produtividade da segunda safra de milho?
Rafael Ribeiro: Se persistirem as chuvas e as dificuldades de colheita da safra de verão e semeadura da segunda safra o resultado será o encurtamento da janela ideal de plantio do milho de segunda safra, o que aumenta os riscos para a safra, em termos de produtividade.
Sidnei Maschio: No caso da soja, Rafael, como está a situação atual nas regiões mais importantes?
Rafael Ribeiro: Preocupação maior é no Centro-Oeste, mas atenção também no RS (cenário foi de menor volume de chuva no estado nesta temporada) e Paraná (excesso de chuvas).
Sidnei Maschio: Voltando a falar do milho, Rafael, qual é a previsão mais recente a respeito do volume que deve ser colhido na soma das duas safras?
Rafael Ribeiro: No total o país deverá colher 88,01 milhões de toneladas em 2017/2018, frente as 97,84 milhões de toneladas colhidas em 2016/2017. São 9,83 milhões de tonelada a menos (10,1% menos).
Sidnei Maschio: O que o mercado está esperando em relação à demanda por milho este ano?
Rafael Ribeiro: Houve revisão para cima da demanda interna, estimada em 58,50 milhões de toneladas, frente as 56,16 milhões de toneladas em 2016/2017.
Do lado das exportações, estão previstas 30,00 milhões de toneladas em 2018, frente as 30,80 milhões embarcadas em 2017 (recorde).
Sidnei Maschio: Se essas previsões todas forem confirmadas, como vai ficar o estoque de milho no final do presente ano safra?
Rafael Ribeiro: Com o ajuste na produção (para baixo) e da demanda (para cima) os estoques internos foram revisados para baixo. Estão previstas 18,52 milhões de toneladas ao final de 2017/2018, frente as 23,17 milhões de toneladas estimadas no relatório de janeiro.
Lembrando que os estoques de passagem em 2016/2017 foram de 18,61 milhões de toneladas e em 2015/2016 foram de 6,95 milhões de toneladas.
Sidnei Maschio: Depois dessa atrapalhação na colheita, o que foi que aconteceu com o preço do milho na praça?
Rafael Ribeiro: Mercado interno com preços sustentados, na casa de R$32,00 por saca de 60 quilos na região de Campinas-SP.
Sidnei Maschio: Mas na comparação com o ano passado esse preço atual do milho ainda está apanhando no mercado?
Rafael Ribeiro: O cereal está custando 10,4% menos frente ao mesmo período do ano passado.
Sidnei Maschio: Como foi a demanda de milho para a exportação em janeiro? Dá para apostar em um crescimento do volume de milho exportado este ano na comparação com dois mil e dezessete?
Rafael Ribeiro: E m janeiro/18 o Brasil embarcou 3,02 milhões de toneladas de milho. A média foi de 137,34 mil toneladas por dia, aumento de 108,3% em relação a janeiro de 2017.
Sidnei Maschio: Pensando agora diretamente no interesse do pecuarista, Rafael, como está hoje a relação de troca entre o milho e a arroba do boi gordo?
Rafael Ribeiro: Considerando a praça de São Paulo, atualmente é possível comprar 4,63 sacas de 60 quilos de milho com o valor de uma arroba de boi gordo.
Sidnei Maschio: Como está essa relação de troca atual na comparação com esta mesma época do ano passado?
Rafael Ribeiro: Na comparação com fevereiro de 2017, a relação de troca melhorou 10,7% para o pecuarista.