Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Nós ganhamos é na compra: a sazonalidade da soja

por Mariane Crespolini
Quarta-feira, 17 de janeiro de 2018 -09h30

  


Caro produtor,


Cresci ouvindo meu pai dizer que, na produção agropecuária, o momento de garantir a margem é na compra dos insumos. Na venda dos produtos, nossas vantagens diminuem e ficamos muito mais à mercê do mercado. Frente à tantas mudanças pelas quais a pecuária tem passado, esta frase do meu pai faz cada vez mais sentido para nós, pecuaristas. Por isto, é hora de ficarmos atento aos insumos.


Nesta época do ano, nada melhor que conversarmos sobre a soja. Talvez você deva estar pensando: “mas o início do meu semi ou confinamento está tão longe... Porque pensar nisto agora?”. Porque é agora que começa a safra.


Aqui em Mato Grosso, maior estado produtor, tem chovido muito nas últimas semanas. Isto, aliado a outros fatores da época do plantio, tem deixado a colheita um pouco atrasada e alguns agricultores preocupados. Ainda assim, a colheita está começando e isto é importante para o seu planejamento de 2018.


Como o farelo de soja é um subproduto do grão, os preços destes produtos (CBOT) têm correlação positiva muito alta, de 0,9, pelo índice de Pearson. Isto quer dizer que, em 90% das vezes, os preços caminham juntos e no mesmo sentido. Por este alto grau de correlação, vamos analisar o índice de sazonalidade da soja, que serve como indicador para todas as regiões brasileiras e também para os preços do farelo.  


Analisar a “sazonalidade de preços” é o mesmo que analisar os dados históricos climáticos de uma região. Ele permite traçar um padrão de comportamento, mas há anos em que existem adversidades climáticas, podendo chover mais ou menos. Ainda assim, este padrão das estações dos anos é o que nos permite planejar nossa produção e, inclusive, decidir o momento de começar o plantio. O mesmo vale para os preços.


A figura 1 apresenta o Índice de Sazonalidade da Soja (Indicador Soja – Cepea/Esalq – Paraná -de julho de 1997 até dezembro de 2017). A linha vermelha apresenta a base 100 do índice, que pode ser considerado o preço médio do ano. Abaixo da linha, são os meses em que os preços tendem a ser mais baixos que a média, e acima os preços mais altos. Ainda que o mercado da soja seja muito mais volátil que o do boi gordo, com fatores externos e especulativos afetando os preços diariamente, o índice nos coloca uma luz em como os preços tendem a se comportar.



Com o avanço da colheita, que está começando agora, a oferta aumenta e os preços tendem a ceder. Historicamente, é entre fevereiro e junho que os preços tendem a ficar abaixo da média. Abril registra o menor número índice, sendo 11,7 pontos percentuais abaixo de novembro, quando tende a ocorrer o maior preço. Para quem confina, este é um recado importante. Deixar para comprar o farelo com os animais já confinados, pode não ser a melhor estratégia na compra deste insumo. 


Este índice não é uma previsão para o que vai ocorrer em 2018. Em anos de quebra de safra, por exemplo, os preços podem não se comportar desta maneira. No entanto, o índice mostra, estatisticamente, como se comportam os preços na maior parte dos anos e safras.


Mais do que prever os preços de um ano, é uma ferramenta importante para o planejamento do fluxo de caixa. Além disso, se a estrutura da sua propriedade permitir, pode também ser uma ferramenta de mercado para que você adquira este insumo com maior probabilidade de obter preços mais competitivos, garantindo a margem da sua produção na compra de insumos.         


METODOLOGIA - Para analisar o comportamento dos preços da soja, o modelo matemático utilizado foi proposto por Hoffmann (2002), na série histórica do Indicador da Soja Cepea – Esalq – Paraná. Traduzindo os termos matemáticos, este modelo busca normalizar as variações de série de preços, diminuindo os efeitos abruptos ou atípicos de uma base de dados, são as quebras de safras de alguns anos específicos. Busca assim, um valor matemático que expressa o comportamento de preços em período típicos, onde não há choques de oferta, nem demanda. O efeito da inflação já está descontado.                                                                                                      


Agradecimentos: Gostaria de agradecer as opiniões de João Paulo Franco, Caio Monteiro, Marianne Tufanni e Natália Orlovicin para a construção deste texto.