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Uma realidade inconveniente - o processo de degradação das pastagens brasileiras - parte 1

por Adilson de Paula Almeida Aguiar
Sexta-feira, 3 de novembro de 2017 -09h20


Quando os colonizadores portugueses chegaram ao Brasil, em 1.500, aqui encontraram uma vegetação natural composta por 89% de formação florestal e apenas 11% de formação campestre, que poderia ser denominada “pastagem nativa”. Cinco séculos depois, 20,3% do território brasileiro está ocupado por pastagens, constituindo-se na quarta maior área de pastagens do mundo.


Essa conversão se deu a partir do início do século 19, em um intenso processo de “africanização” das pastagens, o qual pode ser dividido em três fases. A primeira ocorreu entre 1812 e 1920, e ficou conhecida como “fase de introdução acidental”, quando quatro gramíneas foram introduzidas como “cama” em porão de navios negreiros; e como alimento, na forma de feno, para alimentar animais trazidos do continente africano.


Numa segunda fase, conhecida como “fase das importações de cultivares de forrageiras”, que se estendeu entre 1920 e 1979, aproximadamente 31 introduções de gramíneas africanas foram importadas da África, da Austrália, dos EUA e de Porto Rico, e aproximadamente 13 introduções de leguminosas nativas da África, Ásia e América Latina, muitas coletadas no Brasil, e selecionadas, principalmente na Austrália. Desde 1980 iniciou-se a fase atual ou “fase de lançamentos” de cultivares de gramíneas africanas e de leguminosas nativas do Brasil, e que têm sido selecionados e lançados por instituições públicas brasileiras, tais como a EMBRAPA, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Instituto de Zootecnia (IZ), da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo; e a partir da década de 90 também por empresas privadas. Nesta atual fase já foram lançados aproximadamente 35 cultivares de gramíneas e cinco de leguminosas.


Com este processo de “africanização” das pastagens, e o seu povoamento pelo processo de “indianização” do rebanho (importações de raças zebuínas da Índia), o Brasil se tornou o segundo maior produtor e o maior exportador de carne bovina do mundo (desde 2003), cuja produção é baseada em pastagens, nas fases de cria e recria, e 89% a 95% na fase de engorda (na última década, apenas 5% a 11% dos animais terminados foram engordados em confinamento), enquanto na produção de leite o país se destaca, figurando entre os seis maiores produtores mundiais.


Não existe um levantamento de qual proporção do leite produzido no Brasil é proveniente de sistemas cuja alimentação do rebanho baseia-se em pastagens, considerando estes como sendo aqueles nos quais mais de 85% da matéria seca ingerida no ano pelo rebanho é proveniente da forragem produzida pela pastagem. Mas é possível arriscar dizer que é mais de 90%.


Apesar desta posição de destaque da pecuária nacional é sabido que as pastagens brasileiras têm sido exploradas de forma extensiva/extrativista, sem condições, no médio-longo prazo, de atender as dimensões técnica-econômica, social e ambiental do conceito de sustentabilidade.


Dos 190 milhões de hectares de pastagens (EMBRAPA, 2011), estima-se que aproximadamente 80% se encontram em processo de degradação, demandando altos investimentos anuais em sua recuperação/renovação além dos impactos econômicos (menores produtividades, receita e lucro; baixa rentabilidade da atividade), sociais (empobrecimento de regiões de pecuária tradicional, desemprego e empregos com baixos salários, etc.) e ambientais (compactação e erosão do solo, assoreamento e contaminação de cursos d’água, emissão de gases de efeito estufa).


Além destes impactos a atividade pecuária ainda tem sofrido pesadas criticas e acusações por parte da sociedade e de ONGs do país e do exterior pelo seu modelo de exploração extensivo/extrativista.


Na segunda parte deste artigo será feita uma abordagem de como os produtores entendem a persistência das pastagens, será dado o conceito de pastagens perenes e serão relacionadas as causas da degradação das pastagens brasileiras.