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Carta Conjuntura - Consumo de carne x bem-estar animal

por Equipe Scot Consultoria
Quarta-feira, 26 de outubro de 2016 -15h00


A preocupação com o bem-estar dos animais de produção tem sido muito debatida, porém para que seja aplicado nas propriedades rurais é necessário aumento na demanda por este produto diferenciado.


O conceito ganhou força devido às questões morais, éticas, religiosas, ligadas ao respeito aos animais, e também à qualidade do produto, já que carnes oriundas de animais bem tratados e com criação humanitária, desde o nascimento até o abate, sem dúvida, apresentarão melhor aspecto, textura e sabor (Oliveira et al., 2008). Para mais detalhes, ver o artigo “Influência de procedimentos pré-abate na qualidade da carne bovina” por Scot Consultoria.


No Brasil, pesquisas sobre bem-estar animal são recentes, mas os avanços são notáveis e vem ganhando visibilidade devido às exigências dos países importadores de produtos de origem animal, principalmente os da União Europeia (Queiroz et al., 2014).


Os brasileiros começam a ter contato com o assunto e cada vez mais as mídias divulgam o tema. Também não é raro encontrar vídeos postados na internet, sem autorização prévia, contendo cenas de abate e manejo inadequados, o que causa repulsa por parte dos consumidores.


A eficiência da cadeia produtiva não está associada, somente, à produção com custos mínimos e/ou alta produtividade, mas ao atendimento das necessidades do consumidor, que dita o dinamismo das cadeias de produção (Pelinski et al., 2005).


Nesse contexto, o bem-estar animal, junto a temas como sustentabilidade e segurança alimentar, ganha destaque, e deixa de ocupar um espaço “filosófico”, embasado na ética pessoal, para se tornar aspecto prático, quantificável e aplicável, passível de ser valorado.


O que é o bem-estar animal?


Para a Organização Mundial de Saúde Animal, bem-estar animal é a forma como o animal lida com o ambiente. Para animais de produção, admite-se boas condições de bem-estar quando são atendidas as “cinco liberdades”:


1) livres de fome, sede e má nutrição;


2) livres de dor, lesão e doença;


3) livres de medo e angústia;


4) livres de desconforto;


5) livres para manifestar o padrão comportamental da espécie.


Os princípios das “cinco liberdades” devem ser observados em sistemas de criação, no que tange às adequações do espaço mínimo disponível por animal, fornecimento de dietas balanceadas e, em sistemas extensivos, disponibilidade de sombra. Com relação ao transporte, possibilitar o embarque dos animais sem estresse, em veículos apropriados, determinando o tempo e distância máximos, sem interrupção, até o abatedouro. E em relação ao abate, este ser sem sofrimentos, com tranquilidade e certeza de atordoamento eficaz.


Mercado para esta carne


Os consumidores estão cada vez mais exigentes e bem informados sobre a qualidade dos alimentos que consomem (Francisco et al., 2007). E estão dispostos a pagar a mais (de 3,0 a 10,0%) por produtos oriundos de sistemas de criação que respeitem o bem-estar animal (Queiroz et al., 2014; Schaly et al., 2010).


Em Fortaleza - CE, 70,0% dos consumidores entrevistados em supermercados, acreditam ser correto deixar de consumir um produto associado ao sofrimento animal (Queiroz et al., 2014). Em Porto Alegre - RS, os entrevistados valorizam e estão dispostos a pagar a mais por uma carne com selo de garantia de qualidade em bem-estar (Francisco et al., 2007).


Em Belo Horizonte - MG os consumidores reportaram que a existência de selo de qualidade e de procedência é o atributo mais importante que pode afetar a decisão de compra da carne bovina (Souki et al., 2003).


Pesquisa britânica recente mostra que quando se trata de produção ética de alimentos, questões relacionadas ao bem-estar animal ficam acima de preocupações com o meio-ambiente, tratamento dos funcionários e não pagamento de impostos (TheCattleSite, 2015). Os pesquisadores disseram que com a presença nos canais de mídias sociais, as reputações podem ser rapidamente prejudicadas se práticas antiéticas forem descobertas.


Considerações finais


Os consumidores atuais estão preocupados com o bem-estar dos animais de criação e demostram interesse no pagamento de certificados que garantam a produção com ética. Portanto, uma parcela considerável da sociedade poderia aumentar o valor pago pela carne, ou simplesmente diminuir seu consumo, somente pela forma como estes animais são criados. Nesse sentido, todos os elos da cadeia da carne, necessitam se adequar às exigências do consumidor atual.


Referências consultadas


FRANCISCO, D.C. et al. Caracterização do consumidor de carne de frango da cidade de Porto Alegre. Ciência Rural, v.37, n.1, p.253-258, 2007.


OLIVEIRA, C.B. de; BORTOLI, E.C de; BARCELLOS, J.O.J. Diferenciação por qualidade da carne bovina: a ótica do bem-estar animal. Ciência Rural, v.38, n.7, p.2092-2096, 2008.


PELINSKI, A.; SILVA, D.R. da; SHIKIDA, P.F.A. A dinâmica de uma pequena propriedade dentro de uma análise de filière. Organizações Rurais & Agroindustriais, v.7, n.3, p.271-281, 2005.


QUEIROZ, M.L.V. et al. Percepção dos consumidores sobre o bem-estar dos animais de produção em Fortaleza, Ceará. Ciência Agronômica, v.45, n.2, p.379-386, 2014.


SCHALY, L.M. et al. Percepção do consumidor sobre bem-estar de animais de produção em Rio Verde, GO. PUBVET, v.4, n.38, ed.143, art.966, 2010.


SCOT Consultoria - Gabriela Manzi - Influência de procedimentos pré-abate na qualidade da carne bovina, 2016. https://www.scotconsultoria.com.br/


SOUKI, G. Q. et al. Atributos do ponto de venda e a decisão de compra dos consumidores: contribuições para as estratégias dos agentes da cadeia produtiva da carne bovina. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE ECONOMIA E GESTÃO DE REDES AGROALIMENTARES, 2003, Ribeirão Preto. Anais... São Paulo: PENSA/USP, 2003.


THE CATTLE SITE - Survey Finds Animal Welfare Tops Consumers’ Ethical Concerns, 2015.  http://www.thecattlesite.com/