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Mais uma do Ministério do Trabalho!!

por Fabio Lucheta Isaac
Quinta-feira, 6 de outubro de 2005 -13h29
A quinta-feira, 6 de outubro, começa com um desjejum no noticiário da Globo, que passa às 6:30 h da manhã. A manchete “trabalho escravo no oeste de São Paulo” chama a atenção, especialmente da população urbana, muito distante da realidade do campo. Nossa!!!! Aqueles “coronéis” ainda escravizam!!

Depois de três chamadas, sempre com destaque, finalmente a reportagem. Em uma fazenda, numa área que provavelmente era arrendada para produção de tomate (deduzido pela presença de estacas em toda a área), um grupo de trabalhadores estava há 15 dias trabalhando sem registro. É começo de safra e o trabalho exige a contratação, experiência por algum tempo e daí sim o registro dos funcionários. No entanto, muitos produtores não registram os safristas.

A desinformação é enorme e a parcialidade com que a matéria é apresentada é evidente. Ao final da reportagem, a emissora anuncia que o produtor não havia sido encontrado, como se o sr. “coronel” tivesse sumido, um foragido que correu ao ver os burocratas do Ministério do Trabalho.

Nem chamam a atenção e deixam passar batido ao espectador que o responsável pelas contratações estava ali mesmo, no local e foi, inclusive, entrevistado pela Rede Globo.

Por isso, é provável que a área fosse arrendada e o arrendatário, como todos os demais, estava ali no batente, usufruindo das mesmas condições de trabalho que seus funcionários. Ficou claro a intenção de igualar as condições do agricultor com os demais funcionários, passando a impressão de que todos ali sofriam com a indiferença do perverso fazendeiro.

Também não se deram conta que o salário pago é acima de R$600,00, segundo um dos trabalhadores que reclamaram por receber o salário com cheque pré-datado. Opa, cheque pré-datado??? Sim, mas infelizmente esqueceram de mencionar na matéria se o pré-datado ao menos respeitava as datas de recebimento do salário.

Enfim, várias outras denúncias foram divulgadas, como a falta de banheiro. Bom, talvez se a carga tributária, os custos de transporte, os encargos, a burocracia e tantos outros problemas fossem menores, talvez seria até possível negociar a construção de banheiros a cada hectare de uma fazenda. Falar de banheiro numa plantação? Quem trabalha no Ministério do Trabalho?

Outra denúncia é a falta de EPI (Equipamento de Proteção Individual). Porém, no começo de uma cultura, cuja limpeza da área é mecânica (arados e grades) e não química (herbicidas), o EPI ainda não se faz necessário. Portanto, embora realmente seja importante fornecê-lo aos trabalhadores, não é possível saber se o empresário estava enquadrado ou não, tendo em vista o serviço que estava sendo desenvolvido. Foi julgado antecipadamente.

Fatos como esse vão chamando a atenção, colocam a sociedade contra o empresariado rural e trazem prejuízos muitas vezes desnecessários a pessoas que trabalham no campo.

Reportagens mentirosas passam todos os dias. As pessoas vêem e esquecem, mas quem foi o alvo, o indivíduo citado como irresponsável, nunca mais se livrará deste acontecimento. É aquele ditado, “a estatística para muitos geralmente é a tragédia de alguns”.

Ainda existe muito a ser melhorado no país, principalmente a questão do trabalho informal. Porém, vale lembrar que segundo o IBGE mais de 40% da força de trabalho no país é informal. E por quê só na área rural essa relação é chamada de trabalho escravo? Portanto, mesmo que todas as denúncias de informalidade apresentadas na reportagem sejam fundamentadas, o que pode ser provável, a manchete por si só já é extremamente exagerada e sensacionalista.

O ministério do trabalho existe para resolver problemas. Talvez, as relações de trabalho seriam melhores se os profissionais deste ministério, e afins, focassem suas atividades em objetivos concretos, na solução dos problemas e não em sua auto-promoção nos jornais televisivos. (MPN)