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A China e sua importāncia no mercado de leite

por Rafael Ribeiro
Quarta-feira, 9 de dezembro de 2015 -15h40


A China passou a ter um papel de destaque no mercado internacional de lácteos a partir de 2008, quando problemas de contaminação de leite em pó de empresas locais prejudicaram a imagem do setor no país e provocaram o aumento das importações.


De 2000 a 2008 a China importou, em média, 66,1 mil toneladas de leite em pó integral por ano, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).


Este era o padrão de importação do país até então, com volumes variando de 40,0 mil a 90,0 mil toneladas de leite em pó integral por ano, somados a 45,0 mil toneladas, em média, de leite em pó desnatado por ano.


Contudo, de 2009 até 2015 (estimativa), o volume médio importado (leite em pó integral) aumentou para 417 mil toneladas por ano, uma expressiva alta de 530,8%. Veja a figura 1.


A maior demanda chinesa puxou para cima as cotações do produto no mercado internacional.


Considerando os preços da plataforma Global Dairy Trade (GDT), referência no mercado internacional, o leite em pó saiu de um patamar de US$1.500,00 a US$2.000,00 por tonelada vigentes até 2006, chegando a um preço médio de US$4.667,00 por tonelada em 2013.


O pico de preço e recorde foi US$5.245,00 por tonelada, em abril daquele ano.


Importante destacar na figura 2, que o aumento de preço em 2007, se deu em função da forte seca que afetou a Nova Zelândia, maior exportador mundial de lácteos, e que provocou uma queda da produção de leite naquele país e, consequentemente, menor oferta no mercado internacional.


Em 2008, os preços caíram em função da crise mundial, voltando a subir em 2009, aí sim, com a demanda estimulada pela China.


Cenário atual


Com a economia da China crescendo menos nos últimos anos e estoques maiores de produtos lácteos, as importações chinesas de leite em pó diminuíram desde meados de 2014.


A queda prevista é de 40,4% nas compras de leite em pó integral em 2015, em relação a 2014. No caso das importações de leite em pó desnatado, a queda está estimada em 20,9% na comparação anual.


A China foi a responsável pelo aumento dos preços dos lácteos no mercado internacional, em função do crescimento astronômico da demanda em um curto espaço de tempo, e agora é a protagonista das quedas de preços no mercado mundial.


De abril a agosto deste ano, o preço do leite em pó caiu 69,7% nos leilões da GDT, chegando à menor cotação histórica, cujo valor foi de US$1.560,00 por tonelada.


Esse cenário exigiu da indústria exportadora um ajuste na produção e oferta no mercado mundial.


As empresas que participam dos leilões da GDT, entre elas a Fonterra, a maior cooperativa de leite do mundo, reduziu a quantidade de lácteos ofertado para conter novas baixas e este fato surtiu efeito.


Em setembro deste ano, o volume comercializado nos leilões foi 13,8% menor, frente a agosto último. Em relação ao mesmo período de 2014, as vendas diminuíram 29,0%.


Com isso, os preços reagiram, com o leite em pó sendo negociado, em média, por US$2.495,00 por tonelada no final de setembro.


Houve alta de 56,9% desde o menor preço em agosto, mas ainda assim o leite em pó está valendo 7,0% menos em relação ao mesmo período de 2014.


Considerações finais


Em curto e médio prazos a menor oferta deverá continuar dando sustentação as cotações dos lácteos no mercado internacional. Porém, do lado da demanda não é esperada reação, o que deve limitar as altas.


A expectativa é de que a China retorne de forma mais ativa às compras no mercado internacional em meados de 2016, quando espera-se que os estoques estejam enxutos.


Para o Brasil, pode ser uma oportunidade para exportar. Foi aprovado em setembro deste ano o comércio de produtos lácteos entre o Brasil e a China. As negociações vinham desde 1996.


Embora a demanda chinesa esteja patinando, em função da desaceleração da economia, o país asiático é um mercado de peso neste segmento.


Vale lembrar que a China e a Rússia são os maiores importadores mundiais de produtos lácteos, com participação respectivamente de 14,0% e 7,0% do total mundial em 2014.


As exportações brasileiras de lácteos para a Rússia começaram em 2014, resultado das barreiras impostas pelos russos aos Estados Unidos e países europeus.


A abertura destes dois mercados para os produtos brasileiros é de extrema importância para o segmento do leite no país, como alternativa de escoamento da produção.

*Artigo publicado na revista Animal Business Brasil - ano 5 - número 24 - 2015, p 43. 44 e 45

Colaborou Alcides Torres, engenheiro agrônomo e sócio-fundador da Scot Consultoria.