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Viabilidade econômica e ambiental da produção de carne em diferentes sistemas de gestão de alimentação no bioma Pampa, região Sul do Brasil

por Gabriela Milani Manzi
Segunda-feira, 7 de dezembro de 2015 -14h00


Atualmente, a cadeia brasileira de carne bovina encontra-se sob pressão de organizações nacionais e internacionais por causa de questões ligadas ao aquecimento global.  Através de estimativas, argumenta-se que a produção de carne bovina é responsável por mais da metade das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do setor agrícola nacional (Ruviaro et al., 2014a).

Em 2013, o Brasil tinha 211 milhões de cabeças de bovinos distribuídas em 160 milhões de hectares de pastagens. No mesmo ano, 34 milhões de cabeças foram abatidas, o que correspondeu a quase 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro (USDA, 2014). Levando em consideração a importância do gado brasileiro, somado à crescente demanda mundial por proteína animal, surgem entre os consumidores preocupações relacionadas ao esgotamento dos recursos naturais e ao impacto ambiental das emissões de gases do efeito estufa (GEE), gerando uma discussão relevante sobre a importância desta atividade para a economia e seu papel nas mudanças climáticas globais.


Entretanto, frente a este cenário, a pecuária de corte brasileira apresenta grande potencial de se tornar uma das principais fontes de mitigação de GEE, mas é necessário analisar formas de avaliar, e compensar o agricultor que opta por uma gestão de produção de carne mais sustentável, uma vez que a remuneração recebida é baseada apenas na venda dos animais.


Neste contexto, o objetivo deste estudo foi de avaliar sete sistemas de produção de carne bovina no bioma Pampa no Sul do Brasil, considerando as suas emissões de GEE, visando não somente saber a quantidade de GEE emitida em diferentes sistemas de manejo alimentar de bovinos de corte, mas também avaliar a viabilidade econômica e ambiental dessa produção.


O bioma Pampa consiste em pastagens muito antigas com vegetação arbustiva e florestas, que cobrem dois terços do Rio Grande do Sul, no Sul do Brasil. A principal atividade econômica desenvolvida é a pecuária extensiva, uma vez que a região apresenta solos de baixa fertilidade o que torna inviável a produção agrícola. A produção animal é baseada principalmente em raças taurinas, como Hereford, Aberdeen Angus, Simental e Charolês.


A criação de gado em pastagens nativa é visto como o principal instrumento de conservação, uma vez que mantém a diversidade da flora e fauna do bioma Pampa previnindo os avanços de fronteiras agrícolas. No entanto, a gestão inadequada de gado nessa região, devido à excessiva taxa de lotação nas pastagens durante o inverno, atua negativamente sobre a cobertura dos solos, contribuindo para a degradação da pastagem.


A implementação de técnicas de pastejo rotacionado com diferentes intensidades, suplementação alimentar estratégica, correção e fertilização do solo, adubação nitrogenada nas pastagens e melhoria na genética animal podem gerar benefícios, como redução no tempo de engorda, aumento do retorno financeiro dos agricultores por animal e redução nas emissões de GEE, preservando o bioma Pampa.

As emissões de GEE pelo gado podem ser quantificadas e comparadas entre os diferentes sistemas de produção por uma metodologia chamada Avaliação do Ciclo de Vida da produção (ACV), que identifica os potenciais pontos críticos visando reduzir impactos ambientais na cadeia de abastecimento, fazendo a comparação de diferentes tecnologias de produção e suas emissões (a ACV é regulada pelos padrões ISO, onde os princípios, definição de escopo e análise de inventário, avaliação do impacto do ciclo de vida e interpretação são mostrados, respectivamente)


A fase de campo desta pesquisa foi conduzida por Ruviaro et al. (2014a). Os dados sobre emissões de GEE foram calculados para 60 animais, da raça Angus, para cada sistema de produção, totalizando 420 coletas durante seis anos no Rio grande do Sul, região ocidental - fronteira Brasil-Uruguai.


As análises de produtividade de carne bovina, emissões de GEE e análise de investimento foram realizadas por animal e por hectare, a fim de melhor comparar os sistemas. Sendo estes divididos em:


SP I: Pastagem nativa; (UA = 0,70)


SP II: Pastagem nativa melhorada + azevém; (UA = 1,53)


SP III: Pastagem nativa + azevém; (UA = 1,11)


SP IV: Pastagem nativa melhorada + sorgo; (UA = 1,53)


SP V: Azevém + sorgo; (UA = 1,61)


SP VI: Pastagem nativa + suplementação proteica; (UA = 0,73)


SP VII: Pastagem nativa + suplementação proteico-energética; (UA = 0,94)


As avaliações das emissões basearam-se no volume de GEE emitido por quilo de carne produzida em cada sistema, e o seu custo foi avaliado usando o preço de crédito de carbono no mercado. O valor monetário das emissões de GEE entra como um custo no processo de produção. Como um parâmetro para o cálculo dos benefícios ou penalidades sobre as emissões foi utilizado o SP I, porque este é o sistema de produção mais amplamente adotado no bioma Pampa.


Para a análise de investimento, o valor presente líquido (VPL), taxa interna de retorno (TIR) e o índice de rentabilidade anualizada (API) foram utilizados para cada sistema de produção, a fim de encontrar o sistema mais viável no ponto de vista ambiental e econômico.


De acordo com os resultados obtidos no sistema de produção VII, é possível reduzir a emissão dos GEE na produção de carne bovina com um retorno econômico significativo, devido ao maior ganho de peso por animal, em consequência da suplementação proteico-energética, sendo necessário um período mais curto para o abate, resultando em menores emissões de GEE. O SP II também foi mostrado como uma alternativa interessante para os produtores que tenham um mínimo de conhecimentos sobre a forrageira utilizada, gestão adequada e que tenham capacidade de injeção de capital na atividade.


Embora os custos de produção nestes sistemas sejam mais elevados, ambos proporcionam um maior rendimento por hectare. Além disso, tanto a adoção do SP II quanto do SP VII permitem um aumento da produção de carne bovina com redução das emissões de GEE sem a necessidade de expansão de novas áreas de pecuária, contribuindo assim para bom uso e preservação do bioma Pampa.


Fonte: http://www.sciencedirect.com


Traduzido e adaptado por Gabriela Manzi, zootecnista, mestre e pesquisadora da Scot Consultoria.