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Safra de grãos tende a ter menos adubação

por Equipe Scot Consultoria
Terça-feira, 16 de junho de 2015 -10h29

Ainda que os sinais disponíveis indiquem que a área plantada de grãos voltará a crescer no país na próxima safra (2015/16), puxada pela soja, a tendência é que, por uma questão de custos, pela primeira vez desde o fim da década passada as lavouras recebam menos adubação que na temporada anterior, com reflexos diretos sobre as vendas domésticas de fertilizantes em geral.


Depois de um primeiro quadrimestre fraco, projeções sinalizam que as vendas domésticas de adubos terão, em 2015, a primeira queda desde 2009. Conforme Fabio Silveira, economista da GO Associados, o recuo será de 4% e as importações, que estão caras em razão da valorização do dólar, pagarão o pato com uma queda de 10%. Para o Rabobank, a redução nas compras externas deverá ser de 15% a 20%.


Nesse contexto, a produção nacional de adubos poderá até crescer. A GO Associados estima uma alta de 3% sobre o ano passado. Segundo a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), o Brasil produziu 8,82 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários em 2014 e importou outras 24 milhões - um recorde, que custou quase US$ 10 bilhões. Isso ajudou a inflar os estoques nacionais, que encerraram o ano em quase 6 milhões de toneladas, apesar de as entregas ao consumidor terem totalizado 32,21 milhões de toneladas em 2014, também um recorde, conforme a Anda.


De janeiro a abril deste ano, porém, as vendas caíram 8,7%, para 6,98 milhões de toneladas. Em receita, as aquisições de intermediários para fertilizantes somaram US$ 1,5 bilhão, 9,1% menos que nos quatro primeiros meses de 2014, de acordo com a Abiquim, associação que representa a indústria química.


Ainda que a safra de grãos seja semeada apenas a partir de setembro no país, os agricultores se acostumaram nos últimos anos a adiantar as compras de fertilizantes para o primeiro semestre. Com a postergação das aquisições este ano, determinada sobretudo pela alta do dólar, haverá uma concentração maior das entregas no terceiro trimestre e isso poderá atravancar as importações, mesmo que o volume seja menor.


A FCStone colocou esse temor logístico na ponta do lápis. Considerando que haverá uma queda de 5% na demanda por fertilizantes para as lavouras de soja e milho em 2015, a consultoria projeta que o Brasil ainda terá de importar pelo menos 10 milhões de toneladas do insumo entre junho e setembro. A consultoria conclui que os portos do país têm capacidade para receber 10,8 milhões de toneladas de adubos até setembro - portanto, muito próximo do volume que deverá ser demandado.


É fato que a queda das importações brasileiras em geral poderá deixar a operação nos portos menos pressionada. Mas a FCStone destaca que podem haver agravantes. "Por exemplo, a importação [de adubos] abaixo da capacidade máxima nos meses de junho e julho ou um cenário de demanda acima do mínimo pode levar a problemas mais sérios, como escassez do produto". Assim, indica a possibilidade de um "hiato entre a ampla oferta internacional e a escassez doméstica de fertilizantes", com movimento altista de preços no Brasil entre julho e outubro.


O Rabobank também destacou recentemente que, apesar de estarem em baixa no mercado externo, os fertilizantes estão caros no Brasil, sob a influência do câmbio. Em real, os preços médios do insumo estão no maior patamar desde 2008/09.


Segundo o banco, a grande quantidade de nutrientes nas lavouras de diversas regiões produtoras abre espaço para uma redução nas aplicações. Nery Ribas, gerente técnico da Aprosoja-MT, associação que representa sojicultores, concorda. "Como fez uma poupança de fertilizantes no solo nos últimos cinco anos, o produtor pode usar o mínimo possível dentro da recomendação técnica, sem prejudicar a produtividade".


Nas últimas semanas, os preços dos fertilizantes recuaram no mercado doméstico em linha com o dólar, mas continuam acima dos níveis de 2014. A ureia está 1,2% mais cara, enquanto o potássio e os fosfatados estão com preços 4,9% e 6,4% mais salgados, respectivamente, de acordo com Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria.


Fonte: Valor Econômico, por Mariana Caetano e Fernando Lopes. Publicado em 15/06/2015 - http://www.valor.com.br/agro/4093526/safra-de-graos-tende-ter-menos-adubacao