Artigo originalmente publicado na Revista Agroanalysis.
Os preços da soja caíram fortemente no mercado internacional e brasileiro diante da expectativa de aumento da produção nos Estados Unidos na temporada 2014/2015.
Segundo levantamento da Scot Consultoria, em Paranaguá, no Paraná, a saca de 60 quilos ficou cotada em R$65,00 em julho (14/7). A queda foi de 7,1% na primeira quinzena do mês.
Se considerarmos o preço de R$72,00 por saca vigente em meados de junho, o recuo foi de 10,3% ou R$7,50 por saca. Veja a figura 1.
No relatório de julho, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês) estimou a produção norte-americana em 103,42 milhões de toneladas, frente as 98,93 milhões de toneladas estimadas no relatório de junho.
Lembrando que na safra passada (2013/2014) os Estados Unidos colheram 89,51 milhões de toneladas do grão.
Além da expansão da área cultivada, o clima deverá colaborar com uma boa produtividade.
Segundo o USDA, foram semeados 34,3 milhões de hectares em 2014/2015, 10,7% mais que a plantada em 2013/2014. É a maior área plantada no país.
A produtividade média está estimada em 50,7 sacas por hectare na temporada atual, frente as 48,5 sacas por hectare colhidas anteriormente. Até o final da primeira metade de julho, 72,0% das lavouras norte-americanas de soja estavam em condições ótima ou excelente, 23,0% em condições medianas e os 5,0% restante em condições ruins ou muito ruins.
A colheita da soja norte-americana está prevista para agosto, quando a pressão de baixa sobre os preços poderá aumentar, caso o cenário de grande oferta continue.
No Brasil
No Brasil, a soja 2013/2014 está colhida e começaram os trabalhos de preparo do solo para o plantio da safra 2014/2015, com a semeadura das variedades precoces a partir de setembro.
A pressão de baixa tem afetado a movimentação no mercado interno.
Com relação à soja 2013/2014, 90,4% da safra mato-grossense foi comercializada até meados de julho, frente a 94,0% da produção comercializada neste mesmo período da safra passada.
No Paraná, a comercialização chegou a 70,0% da produção em 2013/2014, de acordo com o Departamento de Economia Rural (DERAL). Na safra passada, neste período, 80,0% da soja paranaense havia sido negociada.
O ritmo dos negócios diminuiu em junho e julho, com as quedas nas cotações.
No caso da soja 2014/2015, a comercialização para entrega futura ficou próxima de 2,0% em julho, com pouco interesse do lado vendedor, diante do cenário atual de preços.
Resultado econômico
A seguir uma simulação de rentabilidade, considerando a soja 2013/2014 vendida em dois momentos: o primeiro, no começo de junho/14, com a saca cotada em R$63,00 em Rondonópolis-MT, e o segundo, após a divulgação dos números do USDA, em julho/14, com a saca negociada em R$57,00 na região.
Foi utilizado o custo de produção de soja do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), estimado em R$2.432,70 por hectare.
A produtividade média no estado na temporada foi de 52,0 sacas de 60 quilos por hectare.
Com isso, a receita foi de R$3.276,00 por hectare para a primeira situação, ou seja, a venda do grão em junho, e de R$2.964,0 por hectare para a venda em julho.
A queda na receita foi de 9,5% levando em conta este intervalo de um mês para a venda do grão. Já a diferença no lucro por hectare foi de 37,0%, na comparação entre os dois cenários.
Para o cálculo da rentabilidade foi utilizado o preço médio da terra para agricultura na região em questão, cujo valor é de R$13,1 mil por hectare.
A rentabilidade foi positiva nos dois casos, sendo de 6,4% para a venda da soja em junho/14 e de 4,1% para a venda em julho/14.
Esta diferença no resultado econômico mostra o quanto o mercado de commodities é dinâmico e o resultado pode variar bastante em um curto espaço de tempo.
O melhor momento na temporada para a comercialização da soja foi no final de 2013, quando a saca bateu em R$70,00 na região de Rondonópolis-MT. A rentabilidade foi de 9,2%, com lucro de R$1.207,30 por hectare.
Naquela oportunidade, a falta de chuvas gerou especulações e alta das cotações no mercado brasileiro.
Para 2014/2015
Para 2014/2015 o IMEA estima uma redução de 0,8% nos custos de produção em relação à 2013/2014. O custo está estimado em R$2.414,10/ha.
Esta queda foi puxada, em especial, pelo recuo nos preços dos fertilizantes em 2014.
A produtividade média está estimada em 52,5 sacas por hectare na temporada que se inicia.
Com relação aos preços, a Scot Consultoria trabalha com uma expectativa inicial de queda de 2,5% nas cotações, em relação à média de 2013/2014. Ou seja, uma saca custando, em média, R$58,50 em Rondonópolis-MT na média de 2014/2015.
Neste cenário, o lucro por hectare está estimado em R$657,15, com rentabilidade média de 5,0%.
Considerações finais
Mesmo com os preços em queda, considerando um cenário de clima favorável e boa produtividade na temporada 2014/2015, a cultura seguirá proporcionando bons resultados econômicos ao produtor em relação às outras atividades agrícolas e/ou pecuária.
É este quadro que deverá manter no mínimo estável, com possibilidade de ligeiro crescimento, da área com a cultura em 2014/2015 no Brasil.
A expectativa é de que este crescimento se de principalmente em áreas de pastagens, como verificado nas últimas safras.
Os preços da soja caíram fortemente no mercado internacional e brasileiro diante da expectativa de aumento da produção nos Estados Unidos na temporada 2014/2015.