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Dólar em alta garantido a margem positiva para o produtor de soja

por Rafael Ribeiro
Sexta-feira, 16 de janeiro de 2015 -14h15

Artigo originalmente publicado na Revista Agroanalysis.


Em dólares, os preços da soja caíram no mercado internacional com a safra recorde nos Estados Unidos e expectativa de aumento da produção na América do Sul em 2014/2015.


A produção norte-americana aumentou 18,2% na temporada atual. Foram 16,6 milhões de toneladas a mais que o colhido em 2013/2014, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).


No Brasil, segundo os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), são esperadas 9,8 milhões de toneladas de soja a mais na safra atual, em início de colheita. Na Argentina, a produção deverá aumentar em um milhão de toneladas (USDA).


Pressionadas pela maior oferta e retomada dos estoques mundiais, em Paranaguá, no Paraná, as cotações saíram de um patamar de US$31,00 por saca de 60 quilos em abril de 2014 para os atuais US$23,10 (14/1). Veja a figura 1. 



A queda dos preços em dólares foi de 25,6% desde abril do ano passado. Neste período, os preços em reais caíram menos da metade, 12,2%.


A moeda norte-americana valorizada em relação ao real deu sustentação às cotações no mercado brasileiro, em especial a partir de outubro do ano passado. O dólar subiu 18,3% no período analisado, ultrapassando os R$2,70 por dólar.


Comercialização


Os preços em patamares mais baixos ao longo de 2014 diminuíram o ritmo dos negócios em 2014/2015.


Em Mato Grosso, até o final de novembro do ano passado, 25,1% da soja produzida no estado havia sido comercializada para a entrega futura.


Para uma comparação, no mesmo período da safra passada (2013/2014), ou seja, em novembro de 2013, 44,4% da soja havia sido negociada.


Na figura 2, a evolução da comercialização da soja em Mato Grosso em 2013/204 e 2014/2015. Em janeiro de 2014, 55,2% da soja 2013/2014 havia sido comercializada, frente aos 45,6% negociados da safra atual.



Com os preços subindo em real, a partir de outubro de 2014, a liquidez do mercado aumentou, mas ainda assim o volume negociado foi abaixo da média da última temporada.


Rentabilidade em 2014/2015


Com preços mais baixos e custos de produção maiores, o lucro médio do produtor deverá ser menor em 2014/2015, em relação à safra passada.


Em Mato Grosso, maior produtor nacional, o preço médio de venda caiu 8,6% na safra atual, em relação à 2013/2014, considerando os preços no mercado físico.


O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA) estima um aumento de 12,9% nos custos totais de produção de soja na média do estado na temporada atual, num total de R$2.589,30 por hectare.


Contrapondo a queda no preço do grão e os custos de produção maiores, a expectativa é de aumento da produtividade média das lavouras, em função do clima mais favorável nessa temporada.


Apesar do atraso no início das chuvas e, consequentemente, atraso na semeadura, as precipitações foram maiores e mais bem distribuídas ao longo dos últimos meses garantindo bom desenvolvimento.


O IMEA estima uma média de 52,4 sacas de 60 quilos por hectare em 2014/2015, frente as 51,9 sacas colhidas anteriormente no estado.


A média nacional está estimada em 50,5 sacas por hectare na safra atual, frente as 47,6 sacas, em média, em 2013/2014, de acordo com a Conab.


Na tabela 1, uma expectativa de resultado econômico da produção de soja em Mato Grosso em 2014/2015 e uma comparação com a safra passada. 



O lucro médio passou de R$1.262,19 por hectare no ciclo anterior para os atuais R$690,94, uma queda de 45,3%.


Considerando o preço da terra, a rentabilidade média está estimada em 5,2% em 2014/2015, frente aos 9,6% na temporada passada.


Em um cenário menos favorável, onde a produtividade seja igual a da safra anterior, de 51,9 sacas por hectare, a rentabilidade cairia para 4,9%, em média.


A seguir foram feitas simulações, considerando a variação do dólar em relação ao real.


No dia 14 de janeiro, o mercado futuro na BM&FBovespa apontava para uma saca custando US$22,35 em maio de 2015. Ou seja, queda em relação aos atuais US$23,23 por saca (14/1).


Em reais, estamos falando de uma saca de R$58,82 em maio deste ano, levando em conta um câmbio de R$2,63 por dólar.


Para 2015, o Banco Central prevê o dólar variando entre R$2,60 e R$2,80, numa média de R$2,72 (Boletim Focus, 9/1/2015).


Em resumo, a expectativa é de queda nos preços da soja com o avanço da colheita na América do Sul, em especial no Brasil.


Além do clima e revisões para baixo nas produções na América do Sul, o dólar seja talvez o único fator que poderia dar sustentação as cotações no mercado brasileiro.


Levando em conta o dólar na casa de R$2,60 e a venda do grão em maio de 2015, o lucro e a rentabilidade média diminuiriam para R$426,21 por hectare e 3,2%, respectivamente.


Mantendo os outros itens estáveis e variando a cotação do dólar para R$2,80, o lucro está estimado em R$658,60 por hectare e uma rentabilidade de 4,9% para a venda em maio. Veja a tabela 2. 



Considerações finais


Em curto e médio prazos, o dólar valorizado em relação à moeda brasileira é a principal aposta de sustentação das cotações em reais, considerando a oferta elevada e a recuperação dos estoques nas últimas temporadas.


Os estoques mundiais estão estimados em 90,78 milhões de toneladas em 2014/2015. Na temporada passada, os estoques mundiais finais foram de 66,16 milhões de toneladas e de 57,15 milhões de toneladas em 2012/2013, segundo o USDA.


A maior parte da safra brasileira ainda não foi negociada, ou seja, com o avanço da colheita, poderá aumentar a pressão de baixa sobre os preços.


A concorrência com os Estados Unidos será maior neste semestre pensando nas exportações, devido a maior disponibilidade norte-americana na temporada.


Do lado da demanda mundial por soja é esperado um menor ritmo de crescimento. O consumo mundial deve seguir aumentando, puxado pela China, mas a taxas menores e o incremento será menor que a oferta.


Para quem precisa comprar soja e seus derivados, o momento é de ficar de olhos nos preços e oportunidades.


Para o vendedor, quem tiver condições de segurar parte da produção para venda mais adiante, no segundo semestre, pode ser uma alternativa.


A queda na rentabilidade da soja pode mexer com a intenção de plantio da cultura nos Estados Unidos em 2015/2015, com início em abril/maio deste ano, fator que pode trazer firmeza aos preços.


Mas neste caso, seria preciso uma reação nos preços do milho, cujo cenário nos Estados Unidos é de grande disponibilidade e possibilidade de menor demanda pelo setor de etanol, com a queda nos preços do petróleo.