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Hyberville Neto aponta para alerta no mercado do boi: “não é hora de distração”

por Equipe Scot Consultoria
Quarta-feira, 11 de março de 2015 -09h20

Foto: Hyberville em palestra no Encontro dos Encontros da Scot Consultoria (outubro de 2014)


Foto: Hyberville em palestra no Encontro dos Encontros da Scot Consultoria (outubro de 2014)


"O mercado tende a permanecer no patamar atual devido à oferta, mas o cenário para a demanda é dos piores e não convém arriscar." Essa é a visão que o médico veterinário Hyberville Neto, consultor de mercado e responsável pelas divisões de couro, sebo e reprodução animal da Scot Consultoria, salientou em entrevista, quando indagado sobre o que o confinador deve ter em mente ao se programar para o segundo semestre deste ano.


No dia 15 de abril, o consultor será um dos palestrantes no Encontro de Confinamento da Scot Consultoria, onde preconizará o que vem por aí no mercado do boi gordo.


Na entrevista, concedida à organização do Encontro, Hyberville também falou sobre a oferta de boiadas, demanda e o que pode ser interessante ou arriscado para os investimentos.


Veja abaixo o bate-papo completo:


Scot Consultoria - Como deve ser a oferta de boiadas este ano?


Hyberville Neto - Esperamos um ano de redução na disponibilidade de animais para abate. As fortes altas observadas para a reposição em 2014 estimularam a manutenção da vacada em reprodução.


Isso tende a gerar uma diminuição da oferta de vacas e novilhas, como já foi observado no acumulado até setembro do ano passado, com redução da participação de fêmeas nos abates.


A seca que afetou importantes estados no último ano e no início deste vai influenciar a disponibilidade de vacas. Com escore corporal pior, a taxa de prenhez cai e isso pode gerar descarte, associado aos preços atrativos de venda do animal terminado.


De toda forma, o cenário é de diminuição. Viemos de dois anos de mercado em alta, mesmo com oferta abundante de boiadas, o consumo e as exportações colaboraram.


Este ano a oferta deve ceder. Por outro lado, justamente a demanda será o ponto de atenção para 2015.


Scot Consultoria - Então não podemos contar com a demanda?


Hyberville Neto - A demanda é a grande questão para 2015.


Na verdade, o consumo tende a ser o reflexo da economia, que vai mal. As projeções apontam para aumento da inflação e redução do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015.


Ou seja, a riqueza produzida será menor e cada real ganho valerá menos.


A demanda por carne bovina é influenciada pela renda, fato chamado de elasticidade-renda. Essa elasticidade tem diminuído nos últimos anos, com o aumento dos salários, mas ainda é importante.


Os ajustes econômicos que têm sido feitos pelo governo também encarecem o crédito, ponto de atenção para os que usam capital de terceiros.


No mercado externo, a redução dos embarques de carne bovina in natura até fevereiro foi de 31,5%, frente ao mesmo período de 2014.


Pode haver recuperação nas vendas ao exterior, com possibilidade de aumento das vendas para mercados como China e Estados Unidos, mas contar com o mercado externo para compensar a demanda doméstica ainda é ilusão. Exportamos uma fatia pequena da produção.


Scot Consultoria - É hora de investir?


Hyberville Neto - A intensificação é a saída para a pecuária, isso não se discute.


Mas a questão a ser feita é: quais investimentos são interessantes para o momento atual e quais oferecem um risco maior?


Por exemplo, com os preços em alta, ampliar o rebanho via aquisição de matrizes não é uma boa estratégia, salvo exceções, como uma compra muito atrativa devido a questões climáticas, por exemplo.


Mas, de maneira geral, os preços em alta fazem com que o investimento em vacas ou novilhas se torne caro.


Quem comprou fêmeas para a última estação, por exemplo, venderá seus bezerros em 2016, quando o mercado pode não estar tão firme devido ao ciclo pecuário.


O mesmo vale para o investimento em 2015, com um risco ainda maior de 2017 ser um ano de preços mais frouxos. Vaca cara para produzir bezerros baratos não é negócio.


Por outro lado, investimentos diretos, como nutrição e sanidade, tendem a intensificar a produção. Com isso, as 12 arrobas historicamente caras do seu boi magro podem ser diluídas em 21 arrobas de boi gordo e não em 18, por exemplo.


Considere um boi magro de R$1.910,00 em São Paulo, no início de março. Sem analisar os demais custos, apenas a diluição da arroba do boi magro, se ele for vendido com 18@, cada arroba vendida terá R$106,11 de custo proveniente das arrobas magras.


Se este animal for vendido com 21 arrobas, este custo cai para R$90,95 por arroba vendida, 14,3% menos.


Agregar peso por meio de investimentos é interessante, uma vez que a relação de troca da arroba com insumos está muito atrativa. O retorno das arrobas adicionadas tende a ser positivo, além de diluir o custo da arroba magra valorizada.


Todas essas considerações valem após as contas e avaliações de retorno feitas.


Scot Consultoria - O que o confinador deve ter em mente ao se programar para o segundo semestre?


Hyberville Neto - A oferta de boiadas tende a ser menor que nos últimos anos, um fator positivo para as cotações. Mas não podemos esquecer que a demanda tem patinado, tanto no mercado interno, como para exportações.


Além desse fator, temos preços da reposição em alta, apertando a relação de troca. Apesar de o cenário do lado da oferta ser positivo, não é hora de distração.


Se as contas do confinamento fecharam, é o momento de usar as ferramentas de mercado, seja o termo, o mercado de opções ou até o mercado futuro, dependendo das possibilidades na região, para garantir o lucro.


Existem opções que permitem que o pecuarista ganhe na alta, caso este seja o ponto de receio para não usar as ferramentas de hedge.


O mercado tende a permanecer no patamar atual devido à oferta, mas o cenário para a demanda é dos piores e não convém arriscar.


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