Scot Consultoria
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Onde a inflação mais aperta?

por Fabio Lucheta Isaac
Segunda-feira, 30 de junho de 2008 -09h57
Em junho, o IGP-M subiu 1,98%. Considerando este mesmo aumento para o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) – já que esse índice ainda não foi fechado para junho - a inflação em um ano ao consumidor será próxima de 6,63%. O IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), deve atingir os patamares de 13,6% em um ano, também considerando aumento de 1,98% nesse mês.

Os preços dos alimentos têm puxado a inflação para cima, conforme temos acompanhado nos últimos meses na economia.

No caso das carnes, pesquisa da Scot Consultoria identificou alta de 29% para os cortes do dianteiro e 19% para os cortes do traseiro, no período de um ano.

Queijos e leite UHT (Longa Vida) também aumentaram 25% e 1,8%, respectivamente. No caso do leite Longa Vida, a comparação foi do mês de junho de 2008 com a média dos preços de março a junho de 2007. Em junho de 2007, os preços haviam subido muito acima da média. Por isso, hoje o leite Longa Vida chega ao consumidor a valores 18,15% inferiores aos de junho de 2007.

Ainda assim, a maior incidência de inflação na economia ainda acontece dentro das fazendas, ou seja, é o produtor quem mais sofre com o aumento da inflação.

Em um ano, o custo de produção do boi gordo aumentou 45,57%, segundo indicadores da Scot Consultoria. Os preços aumentaram 47,34% em relação há um ano atrás. Sendo assim, mesmo com as cotações atingindo os R$95,00/@ em São Paulo, as margens dos pecuaristas aumentaram apenas dois pontos porcentuais. E em 2007 essas margens eram apertadas quando não eram negativas.

Na pecuária de leite os custos aumentaram 27,11% em um ano, enquanto os preços atuais são 14,26% superiores. A pecuária de leite tecnificada, que possibilitou um dos melhores resultados agropecuários em 2007, vem perdendo margens em 2008.

Observe, na figura 1, a comparação entre preços ao consumidor, índices de inflação e preços e custos ao pecuarista.



A maioria dos produtos agrícolas segue comportamento semelhante: alta nos custos superando ou equiparando ao aumento nos preços. Lembrando que os anos de 2005, 2006 e 2007 foram anos de crises para a maioria dos produtores agrícolas.

A situação não é exclusividade do Brasil. É internacional.

Se a sociedade sente a inflação pesando, os produtores agropecuários trabalham com uma inflação muito superior.

Para quem acredita que a inflação está sob controle, basta observar o gráfico e comparar custos e preços aos produtores. Se não houver estímulo de preços dos alimentos, o produtor não investirá, por falta de recursos ou por temer o prejuízo.

Reduzindo a aquisição de fertilizantes e outros insumos, a produtividade cairá desequilibrando ainda mais a balança de oferta e demanda.

Sendo assim, por ora, com os atuais preços de petróleo e dos fertilizantes, e com parte da sociedade pressionando contra os bio-combustíveis, dificilmente a inflação irá se controlar. (MPN)